quinta-feira, 30 de agosto de 2007

VAMPIROS REAIS


AS RAÍZES DO VAMPIRISMO

A origem do termo vampiro é um verdadeiro mistério. Muitos estudiosos e escritores associam este termo obscuro e macabro às estranhas criaturas chamadas vampir que viviam nas florestas da Hungria. Outros afirmam que, na Turquia, os bruxos eram chamados de uber e, na Polônia, o termo era upire, que designa sanguessuga. Muitos outros povos pelo mundo davam nomes diferentes, mas sem dúvida, o que importava realmente era o conceito associado a estas criaturas terríveis, que saíam de seus túmulos à noite para buscar o sangue dos entes vivos.
As lendas sobre vampiros, ou sobre criaturas com hábitos semelhantes aos dos vampiros, existem há milhares de anos, mas ganhou destaque no século XVIII, com a histeria desencadeada por uma série de incidentes ocorridos no leste europeu. Estes casos se originaram em torno do famoso evento de um soldado, Arnold Paole, que foi acusado de ter iniciado o surto de vampirismo. Muitos estudiosos, teólogos e cientistas como Voltaire, Diderot e Dom Calmet passaram a argumentar a favor da existência dos vampiros, elevando as questões aos níveis acadêmicos.
A mais cuidadosa defesa dos vampiros veio do estudioso bíblico francês Dom Augustin Calmet, em seu trabalho de 1746, intitulado DISSERTATIONS SUR LES APPARITIONS DES ANGES, DES DÉMONS ET DES ESPRITS, ET SUR LES REVENANTS, ET VAMPIRES DE HUNGRIE, DE BOHÊME, DE MORAVIE, ET DE SILÉSIE.
Mas foi em 1897 que Bram Stoker, com a sua romântica história de horror, DRÁCULA, introduziu a imagem do vampiro como a conhecemos hoje.
O Conde Drácula, vilão morto-vivo da Transilvânia, tornou-se o vampiro típico com o rosto pálido e enormes caninos, que usava para extrair de sua vítima o precioso líqüido que o mantinha vivo: o sangue. Esta criatura não refletia no espelho e não gostava da cruz, pois temia a luz divina. Para espantá-lo, bastava algumas gotas de água benta e uma boa réstia de alho. Para destruí-lo, um martelo e uma estaca ou os raios do sol, armas amplamente usadas pelo seu arquiinimigo Abraham Van Helsing, o caçador de vampiros. Por mais que Drácula seja fruto da imaginação de Bram Stoker, lembremo-nos de que duas das fontes utilizadas na criação do personagem eram pessoas de carne e osso. A primeira, o Príncipe Vlad III, da Valáquia; outra, a Condessa Elizabeth Bathory. Se Vlad III não era bem um vampiro, apesar de beber o sangue de seus inimigos, a condessa não só ingeria sangue, como também se banhava nele à vontade, acreditando ser o precioso líqüido a fonte da juventude.
DRÁCULA foi levado ao cinema em 1931, dirigido por Tod Browning e estrelado por Bela Lugosi, que se tornou um ícone para todos os filmes posteriores sobre a criatura obscura vinda das trevas. Mas em 1976, Anne Rice, com o seu ENTREVISTA COM O VAMPIRO, moldou, através da sua personagem, Lestat de Lioncourt, a imagem do novo vampiro contemporâneo, que, em 1994, arrastou, aos cinemas, uma legião de fãs e interessados para esse maravilhoso universo.


OS VAMPIROS EXISTEM?

Segundo o jornalista Marcos Graminha, não há provas concretas que possam provar a sua existência. Estudos na área da Tanatologia (Thanatos= morte; logia= ciência, o estudo da morte) são bastante conclusivos, mostrando que muitas das crenças aplicadas ao folclore sobre o assunto têm bases bastante reais, mas não levam a provas irrefutáveis sobre a existência de tal criatura.
Diz: _“Se os vampiros existirem, não são como os imaginamos; pois, sentimos a necessidade de exagerar e até fantasiar a respeito, para desta forma nos sentirmos mais seguros, como os vencedores diante da criatura demoníaca. Mas imaginemos um mundo com vampiros: eles seriam os predadores da raça humana e não passaríamos de “gado”, como pregam algumas crenças vampíricas. Com a sua experiência e a vivência _eles seriam imortais, podendo viver centenas ou até milhares de anos_, teriam poderes e capacidades além dos limites humanos, tornando-se absolutamente poderosos e já teriam tomado o poder do mundo. [...] Ou podem existir realmente, mantendo-se escondidos, gerando desinformação como em uma conspiração, para impedir que os homens os caçem, mantendo desta forma o seu poder sobre os próprios homens, sem a necessidade de se mostrarem?[...]”.
Uma vez que o termo vampiro cobre uma grande variedade de criaturas, surge um segundo problema. Os vampiros não estão disponíveis para exames. Com algumas pequenas exceções, o foco central deste assunto recai sobre a crença humana neles. Assim sendo, alguma metodologia se faz necessária para levar em consideração a crença humana em entidades que objetivamente não existem. O problema não é novo e a vasta literatura sobre vampiros nos favorece de duas maneiras.
A primeira oferece explicações de um contexto social, isto é, a existência dos vampiros dá às pessoas uma explicação para certos eventos, de outra forma inexplicáveis (que no Ocidente moderno tentamos explicar com termos científicos). A segunda abordagem é psicológica e explica o vampiro como existindo no cenário psíquico íntimo do indivíduo. As duas abordagens não necessariamente se excluem.
De acordo com a distribuição mundial dos vampiros, podemos afirmar que eles têm seu próprio lugar em cada cultura, um exemplo vem da América Central, onde existem os camazots, muito parecidos com os vampiros da Europa Oriental, mas, nas diferentes culturas são encontrados sob formas peculiares; pois, os camazots ainda são cultuados, como deuses, por populações locais, merecedores de estátuas na América Central, enquanto nenhum europeu iria pensar em fazer esculturas para vampiros. Também no Novo Mundo, os peruanos pré-colombianos acreditavam numa classe de demônios chamados canchus ou bumapmicuc, os quais sugavam o sangue dos jovens adormecidos de modo a partilhar sua vida.

O MITO DOS VAMPIROS E SUA HISTÓRIA

O mito dos vampiros tem milhares de anos e ocorre em quase todas culturas do mundo. Sua variedade é quase infinita. Dos monstros de olhos vermelhos e cabelos verdes ou rosa da China, aos gregos Lâmias que têm a parte superior de uma mulher e na inferior o corpo de uma serpente dotada de asas, das raposas e gatos vampiros do Japão, os camazots da América Central, a uma cabeça que arrasta as entranhas do corpo chamada de Penanggalang da Malásia.
A primeira mulher na terra foi Lilith, de acordo com antiga crença semita. No Talmude, livro das leis, dos costumes e da tradição judaicas, Adão teve uma mulher antes de Eva, chamada Lilith. Mas ela foi desobediente a Adão, desafiando a sua autoridade. Tomada de raiva, ela abandonou Adão, embora três anjos, Sanvi, Sansanvi e Samangelaf, tentassem convencê-la a ficar. Devido a sua desobediência, seus filhos foram mortos e ela se transformou em um monstro que perambulava na noite. Eva então entrou na história dando e criando outros filhos a Adão. Extremamente ciumenta, Lilith decidiu vingar-se matando filhos e filhas de Adão e Eva. Como os homens são todos descendentes de Adão e Eva, devem defender-se dos ataques de Lilith. Os judeus medievais possuíam amuletos especiais para se proteger contra seus ataques, um feito para meninos e outro para meninas. Tradicionalmente, eles representam os três anjos que tentaram persuadir Lilith a não deixar Adão.
Assim, na mitologia semita, Lilith, está intimamente associada aos vampiros, por sua vez também às bruxas, é um espectro que paira sobre a religião e a cultura judaica. No ato sexual ela ficava por cima de Adão, e não quis ser subjugada pelo macho, daí sua revolta. Este fato retrata, talvez, a transição dos cultos a deusa para o deus judaico, de uma sociedade agrária ou coletora para uma pastoril. Este fato se repetiu inúmeras vezes pelo mundo, não de sua existência objetiva, mas sim subjetiva, mas com exteriorizações.
Lilith, em sua origem, deve ter sido um arquétipo da grande deusa mãe, que tentou resistir a invasão do patriarcado. Possivelmente Abel, o pastor, foi sacrificado a esta grande mãe. Mas as coisas não foram tão fáceis para os pastores patriarcais. Muitas mulheres ficaram fascinadas pelo culto à grande mãe. Um bom exemplo é a história de Sodoma e Gomorra. Lot foi expulso da cidade, registrada nesta passagem: _“O povo de Sodoma cercou a casa de Lot, do mais velho ao mais jovem. E eles proferiram: que se vá embora, um estranho, que veio morar conosco e agora quer ser um juiz?”. Com isso fica claro que os habitantes de Sodoma não eram hebreus, e que a alegoria da conversa entre Lot e Deus é um acréscimo posterior.
A parte mais curiosa tem a ver com a mulher de Lot, que não quis acompanhá-lo, pois possivelmente preferiu ficar com o culto à grande deusa. Ou seja, a história de virar uma estátua de sal é mais uma alegoria. Lot afogou suas mágoas com as duas filhas em uma relação incestuosa.
O nome Lilith vem da Mesopotâmia, encontrada nas Civilizações Sumeriana, Acadiana e Babilônica, onde há várias divindades nas quais ocorre o sufixo “lil” como, por exemplo, os deuses Nilil e Enlil, entre outros. Belit-ili, Lillake, a cananéia Baalat, a Divina Senhora, são alguns de seus nomes. Nas representações mais antigas, Lilith aparece grafada como Lilake, em inscrições que datam há mais de 4.000 anos a.C., na cidade de Ur, considerada por muitos historiadores como a primeira cidade, o berço da humanidade civilizada.
Lilith está intrinsecamente associada à coruja, sendo representada como uma mulher sedutora, torneada, de seios bem formados e suculentos, uma yoni, ou seja, uma vagina, que exala o perfume do amor, com pés de coruja e asas. Na literatura judaica, ela é a primeira mulher de Adão. Ao que tudo indica, para a cabala, Zohar, o deus judaico, criou Lilith e Adão como gêmeos. Ela queria igualdade para com ele, mas lhe foi negada. Ela não se subordina a Adão e, conseqüentemente, incorre na ira do deus. Ela foge para o Mar Vermelho e, com Samael, cria uma infinidade de seres demoníacos, que juraram atacar a raça humana, fruto da união de Adão e Eva. Uma lenda islâmica atribui a ela a origem dos djinn, os gênios, seres de fogo que vivem nos espaços entre mundos.
Ela era a responsável pela morte de crianças, esterilidade e pelo aborto. Também é sua característica a sedução sexual. Surge no meio da noite, trazendo sonhos eróticos carregados de emoção, e os homens são as principais vítimas. Quando despertam, se dão conta do vulto monstruoso pousado sobre seu peito e pronto a absorver o esperma fruto da ereção. A morte, a loucura e a depressão são os resultados desta visita.
No começo da era cristã, o erudito Bhavabhuti escreveu contos clássicos indianos, inclusive vinte e cinco histórias de um vampiro que animava cadáveres e que podia ser visto pendurado de cabeça para baixo numa árvore, como um morcego. A deusa hindu Shiva partilha muitas semelhanças com os vampiros, tal como ser capaz de criar e destruir ao mesmo tempo. A idéia de um vampiro supõe o conceito oriental do eterno retorno, segundo o qual ninguém é realmente destruído, mas volta vezes sem fim em reencarnações. Os vampiros tiram o sangue dos viventes mas se misturam o seu sangue ao de sua vítima essa pessoa se torna um morto-vivo, sobrevivendo à morte comum.
A prova de que os vampiros foram considerados essencialmente femininos, sem órgãos masculinos, vem de Santo Agostinho e dos primeiros padres da Igreja. Por exemplo, Santo Agostinho escreveu que os demônios tinham “imortalidade corporal e paixões como seres humanos”, mas não podiam produzir sêmem. Em vez disso, eles juntavam sêmem dos corpos de homens reais e os injetavam em mulheres adormecidas para engravidá-las. São Clemente testemunha que os demônios têm paixões humanas mas “não órgãos, assim eles se voltam para os humanos para usar seus órgãos. Uma vez exercendo o controle desses órgãos, podem obter o que querem”.
O vampiro tem a maravilhosa característica de ter sido humano. Uma criatura especial, para muitos povos, um deus, ao qual podemos nos igualar. Paródia de Cristo, Buda, do Avatar, o homem feito deus. Entretanto os vampiros que conhecemos hoje, tiveram sua imagem alterada pelos filmes e mídia, que é baseada em sua maior parte pelos mitos europeus orientais. Os mitos de vampiro originados no distante leste europeu foram tranpostados de lugares como China, Tibet e Índia com as caravanas de comércio ao longo da rota da seda e mediterrânea. De lá espalharam-se para lugares como o Mar Negro, a Grécia, as Balcãs e naturalmente os Montes Cárpatos, incluindo Hungria e Transilvânia.
Nosso conceito moderno de vampiro tem como linhas gerais: aquele que retorna da morte e bebe o sangue, rapinado dos seres humanos durante a noite, de acordo com as lendas européias orientais. Porém, muitas coisas são invenções recentes como: vestir-se à rigor, com capas de golas altas e transmutação em animais, como morcegos, lobos e gatos. Entretanto, muitas características dos mitos antigos, tais como: colocar painço ou sementes de papoula no túmulo a fim de manter o vampiro ocupado, contando sementes por toda noite, em vez de rapinar parentes, tenham desaparecido das histórias e lendas atuais sobre vampiros.
Para o vampiro não há céu, nem inferno, um paradoxo ao caminhar primevo entre os mundos, morto-vivo. Outrora homem, agora antideus. Sua antivida é pautada pela violência, sede de sangue, paixão e terror, o horror que se esconde nas sombras.
Quebrando e destruindo todas as normas, regressando ao atavismo mais profundo. Um ser habitante do limbo, um limbo glorioso, isso é o vampiro. Sua ocorrência geográfica a tudo engloba, dos Bálcãs ao Egito e aos confins das florestas equatoriais da Amazônia. Civilizações, como Sumerianos, Babilônicos, Indianos e os povos Hebreus, Maias e Astecas conviveram com o fenômeno do vampirismo. Seus ataques também foram registrados à luz do dia, e à luz da Era das Luzes, dividindo o palco com Diderot e Voltaire em pleno Iluminismo, deixando o racionalismo de cabelo em pé. O epicentro dos ataques não foi algum confim distante, mas o esclarecido Império Austro-Húngaro, justamente a Áustria que seria a pátria de Sigmund Freud. Desde Arquétipo desconcertante deste tabu, pois o vampiro está ali no espelho, repousando, destruindo e salvando, afinal além de matar sua vítima ele confere a vida eterna.

A TEORIA DO ECTOPLASMA

Afinal, o que é um vampiro? A definição, mais comum, encontrada para o vampiro é a de um morto-vivo que se levanta do túmulo para reclamar o sangue dos vivos e, assim, reter a aparência da vida. Ignorava-se, porém, como um vampiro podia sair do túmulo sem deixar vestígios. Foi desse ponto que surgiu, entre tantas outras, a TEORIA DO ECTOPLASMA.
Para o cientista Charles Richet, é uma substância que se acredita ser a força nervosa e possui propriedades químicas semelhantes às do corpo físico, de onde provêm. Apresenta-se sob um aspecto viscoso, esbranquiçado, quase transparente, com reflexos leitosos, bem como esvanescente sob a luz. É considerado a base dos efeitos mediúnicos chamados físicos, pois é através dele que os espíritos podem atuar sobre a matéria.
Trata-se de uma substância delicadíssima que se situa entre o perispírito e o corpo físico e, embora seja algo disforme, é dotada de forte vitalidade, servindo para alavancar e interligar os planos físico e espiritual. Historicamente, o ectoplasma tem sido identificado como algo produzido pelo ser humano, que, em determinadas condições, pode liberá-lo, produzindo vários fenômenos.
Muito utilizada por médiuns e feiticeiros, para tornar visível um espírito, a substância ectoplásmica emerge, das células do corpo humano, desprendendo-se dele, sob forma oleosa, aquosa ou vaporosa, geralmente vazada por orifícios, como as narinas, os olhos e os ouvidos, ou por poros, pelas pontas dos dedos e até pelo tórax, condensando-se, em seguida, formando uma massa corpórea, onde se imprime a imagem do espírito, dando a ilusão de um ser vivo. Assim pode-se afirmar que o espírito somente se torna fantasma quando encontra uma fonte de ectoplasma para torná-lo visível. Caso contrário, é apenas um espírito.
No livro ESPÍRITO, PERISPÍRITO E ALMA, Hernani Guimarães Andrade propõe a existência dos seguintes tipos de ectoplasma: o ectomineroplasma, originário dos materiais minerais; o ectofitoplasma, extraído dos vegetais; o ectozooplasma, produzido pelos animais; e o ectohumanoplasma, gerado pelos humanos. Mas para efeito de simplificação de terminologia, no sentido de tornar o significado mais acessível às pessoas, podemos dizer apenas ectoplasma mineral, vegetal, animal e humano.
O ectoplasma é um combinado de substâncias. Quando os espíritos desencarnados podem dispor dele em bastante quantidade, utilizam-no para a produção de fenômenos mediúnicos de efeitos físicos, combinando-o com outras substâncias extraídas do reservatório oculto da natureza.
Por ser substancialmente delgado, sutil e sensível, derivado de células do corpo humano, é suscetível à luz solar, precisamente a radiação ultravioleta, bem como, ao fogo, e ainda, averso a certas substâncias produzidas por algumas plantas, a exemplo: a cebola, a pimenta e o alho.
Nesta última encontram-se, especialmente, os derivados de enxofre (sulfatados). O mais importante é, sem dúvida, a alicina (di-propenyl tiosulfinato), responsável pela maioria das propriedades da planta, entre as quais, a causadora da irritabilidade e ulceração, quando em contato com a pele humana. Na verdade, um líqüido de coloração amarelada, só aparece de fato quando o alho é mastigado ou cortado, rompendo-se as células do bulbo. É também a responsável pelo forte odor característico da planta.
A cebola e a pimenta também produzem um efeito semelhante. As células das cebolas têm duas secções, uma com enzimas chamadas alinases e outra com sulfuretos (sulfóxidos de aminoácidos). As enzimas decompõem os sulfuretos produzindo ácido sulfênico, que, por ser instável, decompõe-se num gás volátil chamado sin-propanetial-S-óxido. O gás dissipa-se pelo ar e eventualmente chega aos olhos do ser humano, onde vai reagir com a água para formar uma solução muito fraca de ácido sulfúrico, que irrita as terminações nervosas dos olhos, fazendo-os arder. Em resposta a esta irritação, as glândulas lacrimais entram em ação para diluir e lavar a irritação. Em contato com a pele, pode produzir ulcerações.
As substâncias que dão às pimentas o sabor picante e a irritabilidade na epiderme são o alcalóide lipófilo capsicina (8-metil-N-vanilil-6-nonenamida) e mais quatro outros compostos relacionados, coletivamente chamados capsicinóides. Cada um destes compostos tem um efeito diferente tanto na boca quanto na pele, e as suas diferentes proporções são responsáveis pelas diferentes sensações produzidas pelas diferentes variedades.
Com base neste estudo, justifica-se, portanto, a clássica aversão do vampiro à luz do sol, ao fogo e ao alho. Como morto-vivo, ele se liberta da sepultura em forma de gás ou vapor, condensando-se, depois, o suficiente para dar a ilusão de um ser vivo. Assegurando o seu trânsito, vagando o espírito pela noite e escolhendo a sua vítima entre as pessoas incautas e mais fracas, que deixam janelas ou portas abertas.
Esta criatura, embora fisicamente morta, porém, nem de todo desprovida de vida, produz o seu próprio ectoplasma, veículo das suas manifestações. Ataca as suas vítimas bebendo o seu sangue, mantendo, desta forma, seu corpo físico alimentado e restaurado, pelos nutrientes sugados, assegurando-lhe a manutenção das células, sustentando uma semi-vida, num corpo semi-morto, preservando-o da aniquilação total da morte, pois, o sangue é vida.
Seu ataque gera pesadelos em sua vítima; entretanto, quando ela para de lutar contra a situação, diminuem os sonhos ruins e um estado de torpor e aceitação assume o seu lugar, levando-a a morte.
Na Romênia, ainda hoje, os camponeses acreditam que os vampiros e outros espectros encontram-se na véspera do dia de Santo André, num lugar onde o cuco não canta e o cachorro não ladra.
Como os vampiros têm medo da luz e do fogo, neste dia, fazem uma boa fogueira para afastá-los, assim como tochas para iluminar o exterior de suas casas.
Mesmo quando se trancam nas suas casas, os camponeses ainda não se sentem a salvo dos vampiros, acreditando que eles podem entrar pelas chaminés e pelos buracos de fechaduras. Assim, esfregam alho nas chaminés e fechaduras, bem como nas janelas e portas. Os animais de criação também são esfregados com alho para sua proteção.








VAMPIROS HISTÓRICOS

VLAD III O EMPALADOR - GENEALOGIA E EVENTOS

A FORMAÇÃO DA NAÇÃO

271 Depois que as legiões romanas evacuaram a mais recentemente conquistada província da Adácia, a maioria da população romanizada retirou-se para as montanhas, tentando escapar das desordens decorrentes da invasão pelo leste do planalto da Transilvânia. Desse modo, os dácio-romanos sobreviveram intocados pelas avalanches gótica, huna, eslava ou mesmo húngara e búlgara, que teriam certamente destruído sua língua e seus costumes latinos, tivessem permanecido na região. Só depois que a torrente de invasões diminuiu puderam os romenos descer para a planície, mas cautelosamente, conservando seu abrigo na montanha. Cada geração de romenos do século XIII avançou um pouco mais na planície. Finalmente eles alcançaram o Danúbio e o Mar Negro ao sul, o Prut e o Dniester a nordeste; em outras palavras, os limites da moderna Romênia e também parte dos limites anteriores da antiga Dácia. No caso da Valáquia, nada é mais típico da sua tendência em se voltar para a Transilvânia em busca de segurança, e nada demonstra melhor a excitação em abandonar as montanhas como um abrigo seguro do que a escolha de antigas capitais do principado. A primeira, antiga capital do século XIV, Cimpulung, limita-se com os Alpes da Transilvânia.
1310-52 Besarabi I, o Grande instaura o trono da Valáquia, que era hereditário, porém não pela Lei do Primogênito. Seus nobres tinham o direito de escolher entre os membros da família real quem seria o sucessor.
1352-64 Nicolae Alexandru
1364-77 Vladislav I
1377-83 Radu I
1383-86 Dan I. A família real dos Besarabi, fundada por Besarabi I, o Grande, dividiu-se por volta do final do século XIV. Os dois clãs resultantes, rivais entre si, foram formados pelos descendentes do Príncipe Dan I (Clã Danesti) e pelos descendentes do Príncipe Mircea, o Grande, o Velho (Clã Besarabi), avô de Vlad III. No século XV a Valáquia estava sob a influência da poderosa Turquia, governada pelo Sultão Mohammed o Conquistador, tendo que lhe pagar tributo.
1386-1418 Mircea, o Grande, o Velho
1387 O Imperador Germânico Sigismundo de Luxemburgo e sua segunda mulher, Bárbara von Cilli, fundam a Ordem do Dragão, como uma fraternidade secreta militar e religiosa, com o fim de proteger a Igreja Católica contra heresias tais como as dos hussitas, que punham em perigo a Europa Central. Outro objetivo da Ordem era a organização de uma cruzada contra os turcos que haviam invadido grande parte da Península Balcânica.
1418-20 Mihail
1420-31 Dan II
1422 Fracasso do sítio de Constantinopla pelos turcos.
1427 Domínio turco da Sérvia.
1431-36 Alexandru Aldea (I)

1431 - O NASCIMENTO DE DRÁCULA

1431 A Ordem do Dragão na Valáquia. As ambições políticas de Vlad II (?-1447) ganharam forma quando, em 8 de fevereiro de 1431, dois importantes eventos tiveram lugar em Nurembergue: sua entrada na prestigiosa Ordem do Dragão, juntamente com o Rei Ladislau da Polônia e o Príncipe Lazarevic da Sérvia, e sua investidura como Príncipe da Valáquia. A segunda investidura, presidida pelo próprio Imperador, encarregou o agora denominado Vlad Dracul da tarefa arriscada de buscar o inseguro trono valáquio, que incluía os ducados transilvanos de Amlas e Fagaras, governados na época pelo Príncipe Alexandru Aldea, seu meio irmão. Isso marcaria o início de uma prolongada contenda entre membros rivais da família principesca Besarabi, dela decorrendo inúmeros crimes.Vlad Dracul recebia sua autoridade do Sacro Imperador Romano Sigismundo de Luxemburgo, em cuja corte em Nurembergue fora educado por monges católicos. No mesmo ano, nasceu seu filho, Vlad III, na cidade de Schassburg, atual Sighisoara, na Romênia. Mais tarde conhecido como Drácula.
Sobre o nome “Drácula” existem duas teorias, ambas começando com a história do pai de Drácula, Vlad II, também conhecido como Vlad Dracul. A palavra “Drac” em moldávio significa “Demônio”, e o sufixo “ul” é um artigo definido. A tradução de “Dracul” seria: “O Demônio”. Esse nome, como era de costume na época colocar um adjetivo ou nome depois do nome próprio da pessoa, teria sido colocado por seus rivais políticos, devido ao seu governo extremamente rígido. A letra “a” colocada no final de um substantivo significa “filho”. Dessa forma, “Drácula” significa: “O Filho do Demônio”, nome ganhado por Vlad III, por ser filho de Vlad II. A outra teoria, mais aceita pelos historiadores, seria sobre a consagração de Vlad II como Cavaleiro da Ordem do Dragão pelo Sagrado Imperador Romano Sigmundo de Luxemburgo. Seu pai, Vlad II, Príncipe da Valáquia, também conhecido como Vlad Dracul por ser um membro da Ordem do Dragão, um pacto medieval de luta contra os turcos. Assim, o menino herdou a alcunha “Draculea”, que também pode significar “O Filho de Dragão”. Há de se considerar, entretanto, que a palavra dracul tanto pode se referir a dragão quanto a serpente, um eufemismo comum para fazer referência ao Demônio.
A casa onde Drácula nasceu ainda está de pé nos dias de hoje. Em 1431 estava localizada numa próspera vizinhança cercada pelas casas de mercadores saxões e magyares, e pelas casas dos nobres. Essas casas geralmente eram utilizadas quando os nobres ficavam na cidade, pois, normalmente, moravam no campo.
Sabe-se muito pouco sobre os primeiros anos da vida de Drácula. É sabido que ele teve um irmão mais velho chamado Mircea (?-1447) e um irmão mais novo chamado Radu III, o Belo (1438/9-1500). Sua educação primária foi deixada nas mãos de sua mãe, a Princesa Cneajna, uma nobre da dinastia Musatin, da visinha Moldávia, que o criou com auxílio de suas damas de companhia, dentro de casa. Seu pai tinha uma amante chamada Caltuna, que deu-lhe um filho também chamado Vlad (?-1496). Ela finalmente entrou para um mosteiro e ali tomou o nome de Eupráxia. Seu filho mais tarde tornou-se conhecido como e Vlad (Mircea) o Monge, porque seguiu os passos de sua mãe e encaminhou-se para a vida religiosa.
Drácula passou assim sua juventude numa atmosfera tipicamente germânica. Seu pai exercia autoridade sobre todas as cidades alemãs da região e defendia a Transilvânia inteira contra ataques potenciais dos turcos.
Vlad Dracul ainda estava exilado na Transilvânia, tentando conseguir apoio para seu plano de destronar o príncipe regente da Valáquia, do Clã Danesti, Alexandru I.
1436-42 Vlad Dracul ascende ao trono da Valáquia, mas a situação política continua instável. Sentia que a tênue balança do poder estava rapidamente oscilando a favor do ambicioso sultão turco Murad II. O poder dos turcos estava crescendo rapidamente enquanto cada um dos pequenos estados dos Balcãs se rendiam ao massacre dos otomanos. Os turcos haviam então destruído sérvios e búlgaros, e o sultão estava planejando um ataque final contra os gregos. Ao mesmo tempo o poder da Hungria estava atingindo seu apogeu e o faria durante o tempo de João Hunyadi, o Cavaleiro Branco da Hungria, e seu filho, o Rei Matias Corvinus. Qualquer príncipe da Valáquia teria que balancear suas políticas precariamente entre esse poderoso país vizinho. O príncipe da Valáquia era oficialmente um subordinado ao Rei da Hungria. Também Vlad Dracul como um membro da Ordem do Dragão, havia jurado lutar contra os infiéis.
Ao mesmo tempo o poder dos otomanos parecia não poder ser detido. Mesmo no tempo do pai de Vlad II, Mircea, o Velho, a Valáquia era forçada a pagar tributo ao Sultão Murad II. Vlad II foi forçado a renovar esse tributo, tentando estabelecer um equilíbrio entre seus poderosos vizinhos. Assim Vlad Dracul promoveu a primeira de suas numerosas imposturas, assinando traiçoeiramente um acordo com os turcos contra os sucessores do seu protetor, o Sacro Imperador Romano Sigismundo de Luxemburgo, que morreu em 1437.
1438 Em circunstâncias inegavelmente difíceis, Vlad Dracul e seu filho Mircea acompanharam o Sultão Murad II numa de suas freqüentes incursões na Transilvânia, assassinando, pilhando e queimando pelo caminho, como era da tradição turca. Essa foi a primeira das muitas ocasiões em que os Dráculas, que se consideravam transilvanos, voltaram à sua pátria como inimigos. Mas as vilas e cidades da Transilvânia, embora cruelmente devastadas e pilhadas, ainda acreditavam num acordo melhor com um cidadão seu do que com os turcos. Isso serviu de justificativa para a avidez do administrador e dos cidadãos de Sebes em se renderem especificamente aos Dráculas, com a condição de que suas vidas seriam poupadas e eles não acabariam escravizados pelos turcos. Vlad Dracul, que havia jurado proteger os cristãos, pôde ao menos nessa ocasião salvar uma cidade da destruição completa.
A educação real de Drácula começou quando, em 1436, seu pai conseguiu clamar para si o trono valaquiano, matando seu príncipe rival, Alexandru I. Seu treinamento foi o típico dos filhos da nobreza européia. Seu primeiro tutor, no aprendizado para a Cavalaria, foi dado por um guerreiro que lutou sob a bandeira de Enguerrand de Courcy, na Batalha de Nicópolis, contra os turcos. Drácula aprendeu tudo o que era demandado a um Cavaleiro Cristão sobre guerra e paz.
1440 Fracasso do sítio de Belgrado.
1442 Vlad Dracul, o Demônio, tentou permanecer neutro quando os turcos invadiram a Transilvânia. Os turcos foram vencidos e os vingativos húngaros, sob o comando de João Hunyadi forçaram Dracul e sua familia a fugir da Valáquia. Hunyadi colocou um membro do Clã Danesti, Besarabi II, no vago trono valaquiano.
1442-43 Vitórias de João Hunyadi sobre os turcos na Transilvânia e na Valáquia.

DRÁCULA E RADU REFÉNS DOS TURCOS

1443 Vlad II retomou o trono da Valáquia, com suporte dos turcos, embora o Sultão Murad II suspeitasse da lealdade do príncipe romeno. Em conseqüência, levou Vlad Dracul a um confronto pessoal, na primavera de 1442. Sem perceber a armadilha, Vlad Dracul atravessou o Danúbio com seu segundo filho, Drácula, e seu filho mais moço, Radu, sendo em seguida “preso em cadeias de ferro” e levado à presença de quem o acusara de deslealdade. Para salvar seu pescoço e recuperar seu trono, após um breve aprisionamento em Gallipoli, jurou renovar fidelidade ao Sultão Murad II, assinando um novo tratado, que incluiria não apenas o costumeiro tributo, além de outros favores. Para assegurar ao sultão de sua boa fé, Vlad Dracul mandou seus dois filhos mais novos, Drácula e seu irmão, Radu o Belo, para Adrianópolis, como reféns do Império Otomano. Os dois meninos foram levados, sob prisão domiciliar, ao palácio do sultão, em Gallipoli e mais tarde foram mandados, por razões de segurança, à distante Egrigoz, mais ao leste, na Anatólia, Ásia Menor.
A reação do jovem Drácula a esses anos perigosos como prisioneiro dos turcos ofereceu um bom estímulo à sua personalidade ardilosa e perversa. A partir dessa época, passou a ter a natureza humana em baixa estima. A vida era coisa desprezível. Além do mais, sabia que a sua própria vida estaria em perigo se seu pai se mostrasse desleal ao sultão. A moralidade não era essencial em assuntos de estado. Conta-se que foi nessa época que o menino aprendeu o idioma turco com uma fluência de nativo. Também foi aproximado dos prazeres do harém, porque suas condições de confinamento não eram tão estritas, completando seu treinamento no cinismo bizantino, que os turcos herdaram dos gregos. Como foi relatado por seus captores turcos, durante aqueles anos, ele também desenvolveu uma reputação como trapaceiro, manhoso, insubordinado e brutal, inspirando medo aos seus próprios guardas. Isso em contraste agudo com a dócil subserviência de seu irmão, Radu. Dois outros traços se entrincheiravam na psique de Drácula devido à trama em que pai e filho se enrascaram. Um era a suspeição; jamais confiaria novamente nos turcos ou em homem algum. O outro era o sabor da vingança. Drácula jamais perdoaria os que os traíram.
Aprendeu a torturar, treinando técnicas cada vez mais sinistras com ratos e outros animais. A principal delas consistia em varar o corpo do inimigo com uma estaca, de baixo até à cabeça. Esse método bárbaro garantiu ao pequeno Vlad mais um apelido: Tepes (Tsepesh), que significa “O Empalador”. Durante este tempo como prisioneiro, Drácula aperfeiçoou suas técnicas de tortura e estratégias de combate, até os guardas que cuidavam de sua “estadia turca”, tinham medo do pequeno Drácula, pois conheciam o que o garoto poderia fazer com seus conhecimentos.
1443-44 A “longa campanha” de Hunyadi no Império Otomano.
1444 A Cruzada de Varna. Drácula e Radu em perigo de morte. O Rei da Hungria, Ladislau V, o Póstumo, quebrou a paz e enviou o exército de Varna sob o comando de João Hunyadi, num esforço para manter os turcos longe da Europa. Hunyadi ordenou que Vlad II cumprisse seus deveres como membro da Ordem do Dragão e súdito da Hungria e se juntasse à cruzada contra os turcos. O Papa absolveu Vlad Dracul do compromisso turco, mas como político ainda queria alguma coisa. Ao invés de se unir às forças cristãs pessoalmente ele mandou seu filho mais velho, Mircea. Talvez ele esperasse que o Sultão poupasse seus filhos mais novos se ele pessoalmente não se juntasse à cruzada. Os resultados da Cruzada de Varna são bem conhecidos. O exército cristão foi completamente destruído na Batalha de Varna. João Hunyadi conseguiu escapar da batalha sob condições que acrescentaram pouca glória à reputação dos Cavaleiros Brancos. Muitos, aparentemente incluindo Mircea e seu pai, culparam Hunyadi pela covardia. Deste momento em diante João Hunyadi foi amargamente hostil em relação a Vlad Dracul e seu filho mais velho.
1445 A campanha da frota borgonhesa no Danúbio.
1446 O Sultão Murad II invade a Grécia. Mistra torna-se estado vassalo da Turquia.
1447 Em dezembro de 1447, Vlad Dracul foi assassinado juntamente com seu filho Mircea, em Balteni, vítimas de sua própria trama. Seu assassínio foi ordenado por João Hunyadi, que ficou irritado com os namoros do Dragão com os turcos. A política de Dracul a favor dos turcos era facilmente explicável, se não por outro motivo, para salvar seus filhos de uma inevitável vingança e possível morte. O filho mais velho de Vlad Dracul, Mircea, fora cegado com ferro em brasa e, aparentemente, torturado por fogo e enterrado vivo pelos burgueses e mercadores de Tirgoviste. Hunyadi colocou seu próprio candidato, Vladislav Waboda II, um membro do Clã Danesti, no trono da Valáquia.

1448 - O PRIMEIRO REINADO DE DRÁCULA

1448 Recebendo a notícia da morte de Vlad Dracul, os turcos libertaram Drácula e o apoiaram como seu candidato para o trono da Valáquia. Radu o Belo, tornou-se aliado de Murad II e, devido ao seu caráter fraco, submeteu-se mais facilmente às técnicas de doutrinação daqueles que eram, até certo ponto, seus carcereiros. Tornou-se um “janízaro”, um membro da unidade de elite do futuro Sultão Mehmed II. Também, eventualmente, candidato oficial turco ao trono da Valáquia.
Drácula consegue assumir o trono valaquiano com o suporte turco. Porém, dois meses após, João Hunyadi forçou Drácula a entregar o trono e fugir para a Moldávia, governada nesse tempo pelo Príncipe Bogdan, onde recebeu a proteção de seu primo, o Prícipe Estêvão o Grande; enquanto João Hunyadi, mais uma vez, colocava Vladislav Waboda II no trono valaquiano.

O EXÍLIO DE DRÁCULA NA MOLDÁVIA

1448-51 Drácula, então com cerca de vinte anos, permaneceu em exílio na Moldavia por três anos. Neste período, Drácula e Estêvão desenvolveram uma estreita e duradoura amizade, cada um deles prometendo ao outro que aquele que primeiro ascendesse ao trono de seu principado levaria o outro imediatamente ao poder, à força de armas, se preciso. A sede o principado moldávio era então em Suceava, uma antiga cidade onde Drácula e Estêvão continuavam sua educação eclesiástica bizantina, sob a supervisão de monges eruditos.
Drácula viveu com inúmeros tutores e em inúmeros lugares, aprendeu muitas línguas e todas as formas e estratégias militares, dos turcos e dos católicos, conhecia todos os pontos fracos de ambos os lados. Era sempre levado por seus tutores aos campos de batalha nos tempos de guerra, assim começou seu gosto por sangue, morte e torturas. Ainda com raiva dos turcos e dos traidores boiardos, responsáveis pela execução de seu pai, queria vingança, mas a matança não parou só com os turcos, ele queria mais, assim começou a matar católicos, e foi considerado pela igreja como um monstro, após matar suas vítimas bebia seu sangue, chegou até a fazer um comentário irônico certa vez, dizendo: _ “Eu estou enjoando do cheiro de sangue coagulado”.
1451 O Príncipe Bogdan da Moldávia foi assassinado brutalmente por seu rival Petru Aron. Vitória turca sobre Hunyadi em Kosovo. Domínio turco nos Balcãs, exceto na Albânia. Morre o Sultão Murad II. Seu filho, Mehmed II assume o sultanato.

DRÁCULA NA CORTE HÚNGARA

1452 O tumulto resultante na Moldávia forçou Drácula a fugir para a Transilvânia e buscar misericórdia e proteção com o inimigo da sua família: João Hunyadi. O tempo era ideal; o fantoche de Hunyadi no trono valaquiano, Vladislov II, instituiu uma política a favor da Turquia, distanciando-se dos seus protetores húngaros. Era, em essência, a história se repetindo a si mesma à custa dos Danesti; e Hunyadi precisava de um homem mais confiável na Valáquia. Conseqüentemente, aceitou a aliança com o filho de seu velho inimigo e colocou-o como candidato da Hungria para o trono da Valáquia. Drácula se tornou súdito de Hunyadi e recebeu os antigos ducados da Transivânia de seu pai, Faragas e Amlas.
Drácula permaneceu na Transilvânia, sob a proteção de João Hunyadi, até 1456, esperando por uma oportunidade de retomar a Valáquia de seu rival. Durante esse tempo, João Hunyadi foi o último tutor de Drácula, seu mentor político e mais importante educador militar. Hunyadi introduz seu protegido na corte do Rei Habsburgo da Hungria, Ladislau V. Ali ele conheceu Matias Corvinus, filho de João Hunyadi e seu futuro adversário político. Drácula não poderia ter melhor preparação de campo da estratégia antiturca. Como nobre vassalo, tomou parte pessoalmente em muitas das campanhas de Hunyadi contra os turcos nas regiões onde mais tarde surgiria a Iugoslávia.

A QUEDA DE CONSTANTINOPLA

1453 Drácula passou a residir novamente na Transilvânia. Abandonando a casa da família, em Sighisoara, passou a residir em Sibiu, principalmente para ficar próximo da fronteira da Valáquia, quando foi informado, pelo administrador da cidade e por muitos outros refugiados da capital do Império Grego sobre um acontecimento que teve um efeito catastrófico no mundo cristão: a Tomada de Constantinopla pelos turcos. O mundo cristão se chocou com a queda final de Constantinopla para os otomanos. O Império Romano do Leste, que existiu desde o tempo de Constantino o Grande e, que por mil anos protegeu o resto dos cristãos do Islã não existia mais.
Foi uma das maiores tragédias da história. Mehmed II derrubou os muros com seus canhões e depois enviou seus exércitos para pilhar e matar durante três dias. Os soldados violentaram meninas e meninos nos altares das igrejas, até em Santa Sofia. Os ícones e todos os outros tesouros sagrados foram roubados para o seu ouro ser derretido e as relíquias dos santos foram jogadas nas ruas para os cachoros roerem. O último Imperador do Sacro Império Cristão do Oriente, Constantino XI Paleólogo, morreu no combate corpo-a-corpo, defendendo as muralhas da capital.
Drácula viveu temporariamente na corte de Constantino, como pajem em 1430. Constantinopla foi rebatizada, pelos turcos, como Istambul, que significa “A Cidade”.
Um refugiado romeno, Bispo Samuil, informou Drácula de que o próximo objetivo do Sultão Mehmed II era a conquista da Transilvânia e que ele planejava um ataque à própria Sibiu, local estratégico que podia servir de base a uma conquista posterior do reino húngaro.
Hunyadi imediatamente planejou outro ataque contra os turcos.

1456 - 1462 - O SEGUNDO REINADO DE DRÁCULA

1456 João Hunyadi invadiu a Sérvia turca, enquanto Drácula, simultaneamente, recebeu afinal a permissão para atravessar as montanhas da Transilvânia, invadir a Valáquia e desalojar o infiel Príncipe Danesti do trono valáquio. Na Batalha de Belgrado João Hunyadi foi morto e seu exército vencido. Enquanto isso, Drácula conseguiu sucesso ao matar seu primo, Vladislav Waboda II, e retomar o trono da Valáquia, mas a derrota de Hunyadi tornou a sua proteção, questionável.
Pouco antes de subir ao trono, na primavera, Drácula reuniu muitas centenas dos grandes boiardos no saguão de entrada do palácio de Tirgoviste, juntamente com cinco bispos, os abades dos mais importantes mosteiros estrangeiros e nacionais, e o arcebispo. Enquanto Drácula inspecionava as expressões sorrateiras e desonestas dos boiardos, pensava que entre os convidados estariam os assassinos de seu pai e seu irmão. Fez então um discurso bem pouco típico de um príncipe da Valáquia, que era normalmente um instrumento dos boiardos e perguntou: _“Quantos reinados conhecestes, meus leais súditos, pessoalmente na vida?” Depois de alguns risos e caretas na audiência, reinou um momento de silêncio. _“Sete, meu senhor”, foi a resposta de um homem. _“Eu já sobrevivi a trinta reinados”, disse outro. _“Desde vosso avô meu soberano, não houve menos que vinte príncipes. E eu sobrevivi a todos eles”, retorquiu um terceiro. Mesmo o mais jovem dos homens admitiu ter testemunhado ao menos sete. Desse modo, quase pitoresco, cada boiardo permanecia no seu lugar e testava a severidade de seu novo governante. O título do principado e tudo o que ele implicava eram vistos com uma dose de ironia. Drácula, com seus olhos brilhando de um modo que se tornaria característico, deu uma ordem. Dentro de minutos, seus fiéis servidores haviam cercado o saguão. Cerca de quinhentos boiardos, assim como suas mulheres e empregados foram imediatamente empalados na vizinhança do palácio e deixados expostos até que seus corpos fossem devorados pelos corvos. A lição desse dia não foi esquecida pelos boiardos que restaram. Drácula estava exigindo sua total submissão ou o exílio em seus respectivos estados. Desgraçado daquele que pensasse em desobedecer.
Quando Drácula finalmente ascendeu ao trono, em junho, os astrônomos chineses e europeus documentaram uma aparição celestial incomum: “um cometa, tão grande quanto a metade do céu, com duas caudas, uma apontando para o Ocidente e a outra para o Oriente, cor de ouro e parecendo uma chama ondulante no horizonte noturno”. O cometa tornou-se mais tarde tema de estudo do astrônomo Edmund Halley. No século XV, como hoje, ainda uma aura supersticiosa atribue a esses astros anúncios de catástrofes naturais, pestes ou ameaças de invasão. Com a morte de João Hunyadi, em Belgrado, esses augúrios aumentaram muito. Mas os videntes e astrólogos de Drácula interpretaram o cometa como um símbolo de vitória. Um especialista romeno em numismática descobriu recentemente uma pequena moeda de prata cunhada pelo príncipe, mostrando a águia valáquia de um lado e a estrela puxando seis raios ondulantes do outro, uma representação tosca do famoso cometa.
Por um tempo ao menos Drácula foi forçado a apoiar os turcos, enquanto solidificava sua posição. Drácula começa seu segundo e maior reinado na Valáquia. Casa-se com uma mulher da nobreza da Transilvânia, cujo nome, possivelmente, era Lídia. Com o desaparecimento dos últimos vestígios da independência sérvia e búlgara, e a queda do império grego, circunstâncias geográficas colocaram a Valáquia na vanguarda da cruzada antiturca.
A Moldávia, aliada da Valáquia, estava salva nas mãos de Estêvão, primo de Drácula que surgiu como herói no mundo cristão depois de João Hunyadi. Após o assassínio de seu pai, o Príncipe Bogdan, Estêvão acompanhou Drácula no seu exílio na Transilvânia. Lá residiram no Castelo dos Hunyadis, em Hunedoara. Enquanto isso, a Moldávia torna-se pagadora de tributo aos turcos.
Como Drácula só foi libertado após a morte de Vlad Dracul, e era extremamente parecido com o pai, começaram a surgir os primeiros boatos de que o príncipe era imortal.
O reinado principal de Drácula se estendeu de 1456 a 1462. Sua capital, Tirgoviste, centro do seu poder político, cenário da maior parte dos seus horrores e quartel oficial da Igreja Ortodoxa, fica a baixa altura nas colinas, mas ainda assim permite um acesso fácil às montanhas. A escolha desse sítio marca um período de crescente autoconfiança na história do país. Ele também construiu todos os seus mosteiros nessa província e empreendeu muitas campanhas contra os turcos, tanto na fronteira sul, ao longo do Danúbio, quanto dentro das fronteiras do estado.
Boatos diziam que o mais jovem irmão de Drácula, Radu o Belo, devido a sua longa parmenência na capital turca, também queria estar perto de Constantinopla, uma vez que ele não era imune aos prazeres do harém do sultão. Mexericos o acusavam, muito por causa da sua boa aparência, de ser o favorito no harém masculino de Mehmed, herdeiro do trono otomano, o que o obrigava a ficar constantemente à disposição do seu mestre.

O CASTELO DRÁCULA

Foi nesse período inicial do reinado de Drácula, que o seu Castelo Drácula foi erguido a uma certa distância nas montanhas, acima do Rio Arges, pouco depois de sua subida ao poder.
Drácula quis conhecer detalhes precisos da morte de seu irmão Mircea, tendo conseguido ouvir apenas rumores sobre o assassínio. Assim, ordenou que o corpo de Mircea fosse exumado da sepultura imprecisa no local público dos enterramentos em Tirgoviste. Ao abrir o caixão ele encontrou seu irmão de rosto voltado para baixo, seu corpo curvado como se fora sufocado. A descoberta sinistra parecia confirmar o rumor de que Mircea havia sido enterrado vivo.
A taça de indignação de Drácula encheu-se até a borda, e seus criados testemunharam um acesso de fúria terrível. Então planejou uma vingança digna daquele crime. Logo no começo da sua viagem à Transilvânia, Drácula completou um exame da região dos dois castelos no Arges Superior e ficou impressionado com sua privilegiada posição estratégica. O castigo dos boiardos e a reconstrução do Castelo Arges, na margem esquerda, ficaram imediatamente associadas em sua mente.
Conta uma balada que o Príncipe Drácula convidou nobres e plebeus para que todos juntos festejassem a Páscoa. Todos atenderam o convite para a vigília da Páscoa, na véspera da observância, a celebração mais importante do ano. Na manhã seguinta haveria festividades, incluindo um generoso banquete nos jardins principescos, em torno das muralhas da cidade. Além dos carneiros assados, bolos, doces e vinhos fornecidos pelo palácio. Aos boiardos e mercadores foram solicitados trazer provisões para eles próprios.
Na manhã da Páscoa, os boiardos vieram da campina montados nos seus melhores cavalos e guiando as suas carruagens. Os mercadores seguiam em carroças ou a pé. O metropolita e os bispos vestiam seus imponentes trajes eclesiásticos. Alguns dos boiardos usavam as roupas dos nobres da Hungria e da Europa Central, embora outros preferissem o estilo bizantino, mais ornado. Os mercadores e artesãos trajavam-se mais simplesmente, alguns vestiam roupas de camponeses semelhantes às usadas ainda hoje. Muitos dos homens usavam vestimentas dácias: “camisas bordadas, calças atadas por um largo cinto de couro, coletes de lã bordados e macias sandálias de couro de porco amarradas”. As mulheres dos boiardos juntavam-se em pequenos círculos, em geral de acordo com a sua importância ou função na corte, e traziam belos tapetes persas ou orientais onde descansavam. Violinistas ciganos organizavam a música e as brincadeiras.
Os mercadores, artesãos e representantes das guildas, igualmente cônscios de seu nível, formavam pequenos grupos próprios. Indiferentes à festa dos ricos boiardos, esse grupo social mais modesto instruía com cuidado seus aprendizes a lidar com seus tapetes mais simples, a servir o vinho, a se portar à mesa de maneira cavalheiresca. Nessas ocasiões, eles se entretinham à sua maneira, no seu nível mais simples.
Depois das festas, como era de hábito, as crianças brincavam nos balanços, nas rodas, em diferentes jogos organizados cuidadosamente na feira. Os mais velhos descansavam na relva, enquanto os mais jovens, boiardos e artesãos, divertiam-se com a “hora”, uma tradicional dança popular romena. Menestréis e bufões cantavam ou encenavam para o príncipe, os boiardos e suas senhoras. Desse modo, a tarde passava até que o sol se escondia atrás dos Montes Cárpatos.
Observadores da época relataram que Drácula pareceu preocupado durante todo o dia, conversando raramente com os boiardos, e não participando das danças como era seu costume. Quando a festa estava no seu ponto mais alto ele conversou secretamente com os capitães da guarda, dando instruções e postando homens sob as árvores e arbustos ao redor dos prados. Quando a tarde se tornou noite, duras palavras de comando foram gritadas. Dentro de segundos os soldados de Drácula isolaram a maior parte dos boiardos mais velhos e dos ricos mercadores, todos facilmente identificáveis por seus trajes berrantes, do resto dos foliões. Ele os empalou no jardim do seu palácio. Os boiardos e mercadores mais jovens, com suas mulheres e filhos, foram postos em cercados e agrilhoados uns aos outros.
A operação foi tão bem organizada que poucos boiardos tiveram tempo de fugir ou de pegar suas armas. A verdade é que, devido à grande quantidade de vinho consumido, muitos deles estavam em estado de torpor. A ocasião não podia ter sido melhor escolhida. A intenção de Drácula era dar a seus boiardos uma aula de submissão da qual nunca se esquecessem, se a ela sobrevivessem.
Agora convencido da invencibilidade da sua capital, Tirgoviste, Drácula determinou a construção de um novo castelo. Ele seria mais próximo da Transilvânia, em alguma elevação segura distante de qualquer estrada muito freqüentada, ou em algum dos tradicionais pastos das montanhas, ou em qualquer poderosa fortaleza germânica. Os abismos do norte ao longo do Rio Arges satisfaziam Drácula em todas essas exigências. Ele se decidiu a reconstruir o Castelo Arges com os tijolos e algumas pedras do velho Castelo Poenari nas penedias do sul. Além disso, as muralhas externas do novo complexo deviam ter espessura dobrada. Rebatizado de Castelo Drácula, devia ser praticamente invencível, apto a resistir ao mais pesado bombardeio dos canhões turcos.
Os prisioneiros sobreviventes foram escravizados por Drácula e conduzidos até Poenari. A jornada de oitenta quilômetros de Tirgoviste até lá era penosa, entre a floresta, particularmente para as mulheres e crianças boiardas. Aqueles que sobreviviam a ela não podiam descansar até atingir o Poenari. A região era particularmente rica em depósitos de cal e possuía uma boa argila. Segundo as ordens de Drácula, os fogões e fornos para a manufatura de tijolos já haviam sido preparados. O campo de concentração de Poenari deve ter sido uma estranha visão para os camponeses locais, com os boiardos chegando com o que havia restado dos seus trajes de Páscoa. À medida que a construção começara, alguns dos prisioneiros formaram uma corrente humana levando tijolos e pedras de Poenari pelo morro abaixo, enquanto outros subiam as montanhas, saindo do vale. Outros, ainda, faziam tijolos. A história não nos conta quanto tempo durou a reconstrução, nem o número dos que morreram durante as obras. Os homens eram alimentados apenas para que fossem mantidos vivos. Eles descansavam o tempo suficiente para restaurar sua energia. Os cronistas contam que eles mourejavam até que suas roupas transformadas em trapos caíssem literalmente de seus corpos. Meses depois, Drácula havia atingido dois dos seus alvos: a poderosa classe dos boiardos e os principais comerciantes tinham sido brutalmente humilhados, e ele tinha pronto seu castelo bem protegido.
Construído em um polígono irregular determinado pela forma do seu cimo, de aproximadamente trinta metros de largura por quarenta de comprimento, tem o estilo de uma pequena fortaleza de montanha com um modelo bizantino ou sérvio, mais do que teutônico, com cinco torres originais. A torre principal ao centro, provavelmente a mais antiga, tem forma retangular, enquanto que as outras a clássica forma cilíndrica. A espessura das muralhas reforçadas com tijolos na parte externa, foram originalmente muito altas, e de longe dão a impressão de fazer parte das próprias montanhas. Elas foram, na ocasião devida, suficientemente fortes para resistir ao fogo dos canhões turcos. De acordo com o folclore romeno, havia também uma passagem secreta levando a um túnel separado que ia até o coração da montanha e emergia numa caverna às margens do Rio Arges.
A visão do Castelo Drácula é soberba, quase majestosa, seja para o sul, leste e oeste. Podem ser vistos dali dezenas de vilarejos cravados entre as colinas que cercam o Vale do Arges. Para o sul, dificilmente visível no sol escaldante das montanhas valáquias, está a cidade e capital eclesiástica conhecida como Curtea de Arges. Para o norte, as montanhas cobertas de neve de Fagaras dividem a Transilvânia da Valáquia propriamente dita.

O TIRANO DA VALÁQUIA

Foi também durante esse tempo que ele lançou seu próprio ataque contra os turcos. Seu ataque foi relativamente bem sucedido inicialmente. Suas habilidades como guerreiro e sua bem conhecida crueldade fizeram dele um inimigo temido. Entretanto, ele recebeu pouco apoio do seu senhor feudal, Matias Corvinus, filho de João Hunyadi, e os recursos valaquianos eram muito limitados para alcançar algum sucesso contra o conquistador da Constantinopla.
1457 Nasce o filho de Drácula, Mínea o Mau.
Morre o Rei da Hungria, Ladislau V o Póstumo.
Exatamente um ano após a sua subida ao trono da Valáquia, Drácula, coerente com a promessa feita ao primo, mandou um contingente valáquio para ajudar Estêvão a reconquistar a coroa de seus antepassados. O primo de Drácula, Estêvão o Grande, torna-se Príncipe da Moldávia. Desse modo, Drácula ajudou a iniciar a brilhante carreira do maior soldado, estadista e homem de cultura que a Renascença romena produziu. Porque Estêvão o Grande, ou Santo Estêvão como ele é hoje conhecido após a sua canonização pela Igreja Ortodoxa, em 1972, foi soldado e amante das artes. O número de mosteiros que sobreviveram na região de Suceava, capital de Estêvão, é eloqüente testemunho do brilho cultural e arquitetônico da sua época.
Vitórias de Escanderbeg sobre os turcos, na Albânia.
Drácula comete sua primeira investida relâmpago contra Sibiu, atualmente Hermannstadt, próxima aos Mosteiros de Holtznuwdorff e Hotznetya (Hosmanul), quando queimou e pilhou cidades e vilarejos, destruindo tudo no seu caminho. Somente a própria cidade de Sibiu, assim mesmo uma pequena parte dentro das suas poderosas muralhas de defesa, escapou da destruição. O poropósito do ataque foi a tentativa frustrada da captura do seu meio-irmão e rival político, Vlad o Monge, para servir de advertência aos cidadãos de Sibiu para não darem abrigo e proteção a candidatos rivais.
Também queimou Berkendorff (Benesti), em Wuetzerland (Tara Birsei), onde acorrentou homens, mulheres e crianças, pequenas e grandes, e depois mandou empalá-los.
1458 Após a queda de Constantinopla, os poderes remanescentes da Europa Central e Oriental dedicam-se a libertar as terras dos Bálcãs conquistadas pelos turcos. Uma das grandes figuras da Renascença, Enea Silvio Piccolominio, um astuto diplomata e especialista em Europa Ocidental, tornou-se o Papa Pio II, em 1458. Ele percebeu o imenso perigo para todo o mundo cristão das ambições imperialistas do Sultão Mehmed II.
Os turcos conquistam Atenas.
Matias Corvinus torna-se Rei da Hungria.
Durante o inverno de 1458-59, as relações de Drácula com os saxões da Transilvânia mudaram para pior na Valáquia. Drácula decidiu aumentar as tarifas dos bens na Transilvânia, a favor de manufatureiros locais, em violação do tratado por ele assinado no início do seu reinado. Obrigou também os alemães a voltarem ao antigo costume de expor seus produtos apenas em determinadas cidades, como Cimpulung, Tigorviste e Tirgsor. Essa decisão fechou subitamente muitas cidades ao comércio alemão, onde os saxões tinham feito negócios proveitosos, inclusive na tradicional estrada para o Danúbio.Quando os habitantes de Brasov ignoraram essas medidas, Drácula iniciou outra ação terrorista.
1459 O Papa Pio II lançou sua cruzada no Concílio de Mântua, advertindo os governantes incrédulos de que, a menos que os cristãos se unissem todos para se opor ao Sultão Mehmed II, ele destruiria seus inimigos um-a-um. O papa pedia aos cristãos que tomassem a si a cruz e angariassem cem mil ducados de ouro em favor de sua cruzada. Drácula foi o único soberano que respondeu imediatamente à conclamação do papa. Sua ação corajosa foi reconhecida nos comentários favoráveis dos representantes oficiais de Veneza, Gênova, Milão e Ferrara e mesmo do Papa Pio II. Embora ainda desaprovasse algumas das cruéis táticas que ele usava, todos admiravam a coragem de Drácula e elogiavam sua disposição de combater pela cristandade.
1460 Os turcos conquistam Mistra e Tebas.
Foi também nessa época que aconteceram a maioria das histórias singulares sobre os seus crimes, como os exemplos que veremos a seguir:

A MULHER PREGUIÇOSA

Em certa ocasião, Drácula viu um homem com uma camisa suja e maltrapilha. Drácula perguntou se o homem tinha uma esposa, e o homem respondeu que sim. Drácula vê que ela é uma mulher saudável e cheia de fibra, e a chama de preguiçosa, de forma que tem ambas as mão decepadas e seu corpo empalado. Ele procurou uma nova esposa para o homem e mostrou a ela o que acontecera com sua preguiçosa predecessora, como uma forma de aviso. A nova mulher definitivamente não era preguiçosa.

EMPALAMENTOS

Outra história relata que na noite de São Bartolomeu, 24 de agosto de 1460, Vlad, O Empalador, cercou todos os valáquios, de ambos os sexos, que encontrou próximo a uma floresta, fora da aldeia de Humilasch, em Amlas, onde matou mais de 20.000 pessoas, entre as quais incluíam, mulheres, velhos e crianças. Empalamento era uma forma particularmente medonha de execução. A vítima era posta num cavalo e empurrada em direção a estacas polidas e untadas em óleo, de forma a não causar a morte imediata. Seus atos eram totalmente brutais. Em alguns casos, amarrava os membros da vítima em cavalos, puxando-os, ainda sem matá-la. Finalmente, como golpe de misericórdia, enfiava uma lança no abdómen da vítima, como um alvo. Suspendendo-a, depois, deixando-a fincada no campo de batalha.
O outro nome de Drácula, Tepes (ou Tsepesh), significa “O Empalador”. Vlad era chamado assim por causa de sua propensão para o empalamento como uma forma de punição para seus inimigos. Esposas infiéis e mulheres promíscuas foram punidas por ele, tendo seus órgãos sexuais cortados, a pele arrancada enquanto vivas e expondo-as em público, com suas peles penduradas próximas à seus corpos. Apreciava especialmente execução em massa, onde várias vítimas eram empaladas de uma vez, e as estacas içadas. Como as vítimas se mantinham suspensas do chão, o peso de seus corpos fazia com que descessem vagarosamente pela estaca, tendo sua base lisa arrombando seus órgãos internos. Para melhor apreciar o espetáculo, Drácula rotineiramente ordenava um banquete em frente às suas vítimas, e era um prazer para ele estar entre os lamentáveis sinais e ruídos de suas vítimas morrendo.

PERSEGUIÇÃO AOS SAXÕES GERMÂNICOS

Cinqüenta e cinco embaixadores foram enviados até Drácula, na Valáquia, por ordem do Rei da Hungria, a pedido dos saxões da Transilvânia, para investigar as suas verdadeiras relações com os turcos. Porém, Drácula os aprisionou por cinco semanas, deixando estacas preparadas para empalamentos. Os embaixadores entraram em pânico, pois acreditavam que seriam empalados. Finalmente, após a prática desta tortura psicológica, Drácula seguiu com os nobres prisioneiros e com seu exército para Wuetzerland, destruindo tudo o que encontrava pela frente. Ele libertou os embaixadores húngaros fora dos limites da cidade de Kranstatt (Kronstadt, Brasov), perto da Capela de São Tiago, na Colina de Tampa. Entretanto, os prisioneiros saxões de Wuetzerland não tiveram a mesma sorte. Foram empalados próximo à capela, na base da montanha e, diante deles, sentou-se à uma mesa de banquete para comer e beber, demonstrando nisso grande prazer.
Muitas das vinditas de Drácula contra a população saxônica alemã da Transilvânia deveu-se a um patriotismo algo doentio mas agudo, dirigido nesse caso contra o monopólio comercial exercido pelos saxões germânicos da Transilvânia em todas as províncias romenas.
O incidente onde mandou queimar todos os jovens germânicos, filhos de comerciantes, que tinham ido até à Valáquia para aprender o idioma romeno, quatrocentos deles ao todo, ilustra essa forte crença na soberania nacional do seu estado. Sem dúvida via nesses recém-chegados algo mais do que meros estagiários, mas espiões enviados pelos comerciantes saxônios de Brasov e Sibiu para observar os métodos locais de produção.
A vingança e a violência de Drácula se estenderam pela primavera e o verão. Em abril, ele pode finalmente capturar uma família numerosa do clã rival Danesti e matar seu oponente Dan III. Somente sete seguidores de Dan conseguiram escapar. Empalou muitos de seus súditos, alguns foram enterrados despidos até o umbigo e alvejados. Outros ele mandou esfolar e assar.
Na sua ação aterrorizadora, mandou empalar mães e seus filhos de colo, entre os quais incluiu crianças de um e dois anos de idade. Tirou crianças do peito de suas mães para matá-las. Também cortou seios e cabeças e os empalou, causando muitos outros sofrimentos e dores em perseguições tão sangüinárias quanto às de Heródes, Nero, Diocleciano e outros pagãos contra a Cristandade, na sua sede insaciável de sangue, como nunca antes fora feito.
Um relato menciona o empalamento de pagãos, judeus, cristãos heréticos e outros valáquios, geralmente não discriminados, jovens, velhos, mulheres e homens, que defendiam-se com as mãos e os pés, durante o estacamento, se contorcendo e se alongando como rãs, enquanto Drácula zombava deles, dizendo: _“Como eles são graciosos!”

OS EMBAIXADORES TURCOS

Um manuscrito russo atribuído ao monge Efrosin, do Mosteiro Kirillov-Belozersky, no norte da Rússia, conta, também, outros relatos sobre a vida de Drácula. Um dos mais curiosos menciona a visita de três embaixadores do sultão turco até ele. Quando entraram no palácio e se curvaram diante dele, como era seu costume, não tiraram seus barretes da cabeça e Drácula lhes perguntou: _“Por que agis assim? Vós embaixadores vindes até um grande soberano e o envergonhais”. Os embaixadores responderam: _“Este é o costume da nossa terra e do nosso monarca”. E Drácula lhes disse: _“Então vou reforçar-vos o seu costume. Comportai-vos corajosamente”. E ordenou que os seus barretes fossem pregados em suas cabeças com pequenos pregos de ferro. Permitiu, então, que eles se fossem, mas antes lhes disse: _“Ide e relatai isso ao vosso soberano, ele que está acostumado a receber essa afronta de vós. Nós não estamos acostumados com isso. Que ele não imponha seus costumes a outros soberanos que não os querem, mas limite esses costumes a si mesmo”.

O COMERCIANTE ESTRANGEIRO

Drácula era em essência “um governante da lei e da ordem”. Uma história muito peculiar relata uma famosa fonte, numa praça deserta de Tigorviste, onde viajantes habitualmente descansavam e se refrescavam. Acontece que Drácula determinou que uma taça de ouro fosse mantida ali permanentemente, para uso de todos. A taça nunca desapareceu durante o seu reinado.
Outra narrativa pitoresca é a de um importante mercador florentino que viajou através do país de Drácula, e levava grande quantidade de mercadorias e dinheiro. Tendo chegado à Tirgoviste, dirigiu-se imediatamente ao palácio do príncipe e pediu a Drácula criados que tomassem conta dele, dos seus bens e do seu dinheiro. Drácula mandou que deixasse a mercadoria e o dinheiro na praça pública e fosse dormir no palácio. O comerciante, sem alternativa, submeteu-se às ordens do príncipe. Durante a noite, no entanto, alguém passou por sua carroça e roubou dela cento e sessenta ducados de ouro. No dia seguinte, o comerciante foi até a sua carroça e encontrou sua mercadoria intacta, mas cento e sessenta ducados de ouro haviam desaparecido. Foi imediatamente até Drácula e lhe falou sobre o desaparecimento do dinheiro. Drácula disse-lhe que não se preocupasse e lhe prometeu que o ladrão e o ouro seriam encontrados. Porém, ordenou em segredo a seus serviçais que pusessem na carroça ducados de ouro tirados do tesouro, acrescentando um ducado a mais. Ordenou, então, aos cidadãos de Tirgoviste que procurassem o ladrão imediatamente, informando que se ele não fosse encontrado, destruiria a capital. Nesse meio tempo, o comerciante voltou à sua carroça e contou o dinheiro três vezes seguidas, ficando intrigado com aquele ducado a mais. Voltou a Drácula e lhe disse: _“Senhor, encontrei todo meu dinheiro, mas havia um ducado a mais”. O ladrão foi levado ao palácio logo em seguida. Drácula disse ao comerciante: _“Vai em paz. Se não tivesses falado no ducado a mais, eu teria ordenado que fosses empalado juntamente com o ladrão”.

O BOIARDO DE OLFATO APURADO

Alguns boiardos fora da lei foram empalados por Drácula. Após algum tempo, tendo ele se lembrado das vítimas, convidou outros boiardos para observar o espetáculo com seus próprios olhos e ver como ele podia punir, porque ver é acreditar. Talvez Drácula simplesmente quisesse ver se reconhecia entre o grupo, boiardos ligados à facção rival Danesti. Um desses boiardos, seja porque estivesse envolvido nas intrigas das vítimas empaladas, seja porque estivesse ligado por amizade a elas, e temendo deixar transparecer piedade, ousara dizer a Drácula: _“Alteza, viestes até este lugar vindo do palácio. Lá respira-se um ar puro, aqui o ar é impuro. O mau cheiro pode afetar vossa saúde”. Drácula, olhando de perto os olhos de quem lhe falara, perguntou: _“Quereis dizer com isso que está fedendo?”. O boiardo respondeu: _“Exatamente, Alteza, seria bom para vós sair daqui, porque isso pode fazer mal a um príncipe que tem no coração o bem dos seus súditos”. Talvez porque Drácula houvesse afinal mergulhado nas profundezas da mente do boiardo, ou talvez apenas pelo prazer de calar um boiardo, ele gritou a seus criados: _“Trazei-me uma estaca três vezes maior do que aquelas lá adiante. Trazei depressa e empalai esse boiardo para que ele não continue a sentir o mau cheiro que vem de lá”. O infeliz implorou de joelhos. Queria beijar ambos os lados das mãos de Drácula, mas em vão. Algum tempo depois, ele se debatia numa estaca muito mais alta do que as outras, gemendo e padecendo de tal modo que qualquer um suspiraria por ele.

A QUEIMA DOS MENDIGOS

A história conta que havia um grande número de pobres sem possibilidade de trabalho ao tempo do Príncipe Vlad III o Empalador. Para viver, eles precisavam comer, uma vez que o estômago implacável exigia comida. Assim, para comer eles vagavam sem rumo e pediam comida, e subsistiam como pedintes. Se alguém lhes perguntasse porque não tabalhavam um pouco, algum deles lhe respondia: _“Não perambulo o dia todo? Se não consigo encontrar trabalho sou culpado?” Outro, pensando um pouco, podia sair-se com um provérbio: _“Estou procurando um patrão mas Deus decidiu que não devo encontrá-lo”. Sempre havia um pretexto para não trabalhar: _“O peleteiro estende suas peles dia e noite, mas não ganha nada com isso; o alfaiate trabalha a vida inteira e sua recompensa é como a sombra de uma agulha; o sapateiro se curva e se abaixa até que fica velho, e quando morre é enterrado com seu prato vazio”. E assim eles sempre encontravam alguma coisa errada em todas as profissões.
Quando Drácula ouviu isso e viu com seus próprios olhos o grande número de pedintes que estavam em condições de trabalhar, começou a refletir: _“O Evangelho diz que o homem deve ganhar o pão com o suor do seu rosto. Esses homens vivem do suor dos outros, por isso são inúteis para a humanidade. É uma forma de roubo. De fato, o assaltante mascarado na floresta exige sua bolsa, mas se fores mais rápido ou mais vigoroso do que ele podes escapar do seu assalto. Esses outros, no entanto, roubam os seus bens gradualmente, pedindo, mas roubam de qualquer forma. São piores que ladrões. Esses homens precisam ser erradicados das minhas terras!” Depois da necessária reflexão, ordenou que fosse anunciado por todo o país que em determinado dia todos os pedintes deviam reunir-se em assembléia, porque o príncipe desejava distribuir roupas e convidá-los para uma refeição copiosa.
No dia marcado, Tigorviste rangia sob o peso do grande número de pedintes que chegavam. Os servos do príncipe entregavam a cada pedinte um pacote de roupas, e o encaminhavam a uma certa grande casa onde haviam meses. Maravilhados com a generosidade de Drácula, os mendigos falam entre si: _“De fato, é um gesto generoso do príncipe, embora essa caridade seja feita à custa do povo. Não podia o príncipe nos dar alguma coisa do seu próprio bolso?” Outro complementava: _“O príncipe mudou. Já não é aquele que nós conhecíamos”. Ainda: _“Um lobo pode mudar sua pele, mas conserva seus maus hábitos”.
Então começaram a ser servidos e a comer. E o que viam diante de si: uma refeição digna de ser encontrada na própria mesa do príncipe, com vinhos diversos e as melhores coisas de comer até se fartar. Os mendigos tiveram uma festa que se tornou lendária. Comeram e beberam com fartura. Então, depois de haver comido, eles começaram a se divertir uns com os outros. Alguns estavam completamente bêbados. Então, Drácula, foi pessoalmente vê-los e lhes falou assim: _“Do que mais precisais?” E eles responderam numa voz: _“Senhor, somente Deus e Vossa Alteza o sabeis, e Deus vos falará”. Drácula então lhes perguntou: _“Quereis que eu vos livre de preocupações, de forma que não tenhais mais carências neste mundo?” Então, como todos esperavam algum grande benefício, retrucaram: _“Queremos, senhor”. Nesse instante, ele ordenou que a casa fosse inteiramente trancada e nela fosse tocado fogo. Eles correram para as portas a fim de sair, mas elas estavam trancadas. O fogo aumentava. As chamas subiam alto como dragões vermelhos. Gritos, berros e lamentos subiram dos lábios dos pobres trancados lá. Mas como podem as chamas ser comovidas pelas lamúrias dos homens? Eles caíram um após o outro. E se abraçavam uns aos outros. Pediam socorro, mas não havia ouvidos humanos para escutá-los. Começaram a se contorcer no tormento do fogo que os destruía. O fogo enrijecia alguns, abrasava outros e reduzia todos a cinzas. Quando o fogo finalmente declinou, não havia ninguém vivo por ali. Drácula ainda justificou sua ação aos seus nobres: _“Sabei que fiz isso primeiramente para que esse povo infeliz não mais fosse um peso para os outros, e depois para que não houvessem mais pobres em minhas terras, mas apenas gente rica. Em segundo lugar, libertei essa gente para que ninguém mais sofra neste mundo devido à pobreza, ou devido às enfermidades”.

O REGISTRO DO BENEDITINO IRMÃO JACOB

O mais antigo documento das histórias de horror praticadas por Drácula esteve uma vez na Biblioteca do Mosteiro de Lambach, perto de Salzburgo. O original se perdeu, entretanto uma cópia foi feita por um erudito germânico, W. Wattenbach, em 1896 (apenas um ano antes da publicação do DRÁCULA de Stoker). Este documento, sobrevivente no Museu Britânico e na Biblioteca Pública de Colmar, França, bem como na Biblioteca Permanente de St. Gall, na Suíça, chocam o leitor por seu conteúdo, sem dúvida entre as primeiras no gênero horror. Drácula é retratado como um psicopata enlouquecido, um sádio, horrível assassino, um masoquista, “um dos piores tiranos da história, muito pior do que o mais depravado dos imperadores de Roma, como Calígula e Nero”. Entre os crimes atibuídos a ele, estão o empalamento, a fervura e a cremação em vida, a decapitação e o desmembramento.
Pesquisa recente nos permite reconstruir o caminho seguido pelo autor deste manuscrito, o irmão Jacob, da Ordem Beneditina, e descrever as circunstâncias do seu primeiro encontro com Drácula. O irmão Jacob, juntamente com dois companheiros, irmãos Hans e Michael, foram expulsos de sua abadia, chamada Gorrion, hoje, Gorjni-grad, na Eslovênia, por sua recusa de submeter-se às novas regras adotadas pela ordem. Forçados ao exílio, os monges cruzaram o Danúbio e fugiram para o norte rumo à Valáquia, onde encontraram asilo num mosteiro franciscano do século XV, ainda sobrevivente em Tirgoviste, não muito longe do palácio de Drácula. O encontro ocasional com Drácula teve lugar fora do palácio do príncipe.
Drácula, sempre desconfiado de sacerdotes visitantes, particularmente católicos, convidou os monges para a sala do trono. Como testemunha o irmão Jacob, primeiro, ele se dirigiu com ironia ao irmão Michael, querendo saber se Deus havia reservado para ele, Drácula, um lugar no paraíso, não obstante as muitas vítimas que havia mandado para a morte, complementando: _“De certa forma, pode alguém aos olhos de Deus ser considerado santo por ter aliviado o fardo pesado de tantos infelizes na terra?” O que mais preocupava Drácula era a expiação dos seus pecados após a morte, uma preocupação implícita na sua atenção às boa obras como meio de expiação: a construção de mosteiros e a oferta de presentes a eles, bem como cerimônias para os mortos. Evidentemente intimidado pelo terrível Empalador, o irmão Michael tentou abrandar o medo de Drácula do fogo do inferno, respondendo: _“Senhor, podeis obter salvação, uma vez que Deus na Sua misericórdia salvou muitas pessoas”. Desse modo, com palavras hipócritas, o irmão Michael conseguiu salvar seu pescoço. Mas Drácula precisava de garantias adicionais, e convocou então o irmão Hans o Porteiro, perguntando-lhe dessa vez mais rudemente: _“Senhor monge, dize-me a verdade, qual será meu destino após a morte?” Este, que tinha a coragem de suas convicções, foi franco em sua resposta e repreendeu o príncipe por seus crimes: _“Um grande sofrimento, dor e lágrimas miseráveis nunca cessarão para vós, uma vez que, tirano enlouquecido, haveis derramado e espalhado tanto sangue inocente. É mesmo possível que o próprio Diabo não o queira com ele. Mas se ele o quiser, sereis confinado ao inferno pela eternidade”. Então, com uma pausa, o irmão Hans acrescentou: _“Sei que serei condenado à morte por empalamento sem que seja julgado, pela honestidade das minhas palavras desprovidas de lisonja, mas antes que isso aconteça dai-me o privilégio de terminar o meu sermão”. Irritado mas tomado de temor, Drácula mandou que o frade prosseguisse: _ “Fala o que quiseres. Não te interromperei”. Então, o irmão Hans prosseguiu no que certamente terá sido um dos solilóquios mais condenatórios que Drácula já permitira em sua presença: _“Sois um assassino cruel, astuto e impiedoso. Um opressor sempre ávido de cometer mais crimes, um derramador de sangue, um tirano e um torturador da gente pobre! Quais são os crimes que justificam a morte de mulheres grávidas? E que fizeram suas criancinhas, cujas vidas vós suprimistes? Vos empalastes pessoas que nunca lhe fizeram mal. Agora vos banhais no sangue de crianças inocentes que nem sequer conhecem o significado do mal. Cruel, dissimulado e implacável assassino! Como ousais acusar aqueles cujo sangue puro e delicado haveis derramado sem misericórdia? Eu me horrorizo por vós, ante vosso ódio assassino! O que vos impele a buscar vingança neles? Dai-me resposta imediata a essas acusações!” Essas palavras extraordinárias espantaram e enfureceram Drácula. Contendo a sua raiva, no entanto, e respondendo calmamente, ele confirmou sua própria filosofia política: _“Quando um fazendeiro deseja limpar sua terra, ele deve cortar não apenas a erva-daninha que cresce nela, mas também suas raízes que se escondem no subsolo. Porque se deixar de cortar as raízes, depois de um ano ele tem de começar tudo de novo para que as plantas nocivas não crescam outra vez. Do mesmo modo as crianças de colo de hoje um dia crescerão e se tornarão inimigos poderosos, se eu permitir que elas cheguem à idade adulta. Agisse eu de modo diferente, os jovens herdeiros facilmente vingariam seus pais neste mundo”.
Hans sabia que seu destino estava selado, mas insistiu em ter a última palavra: _“Tirano louco, pensais por acaso que podeis viver eternamente? Pelo sangue que derramastes nesta mundo, Deus e Seu reino pedirão vingança. Idiota enlouquecido e insensível, tirano surdo, todo vosso ser pertence ao inferno!” Drácula parecia enlouquecido de raiva. O monge o havia ferido no seu ponto mais sensível, na sua consciência e na crença de que, uma vez que fora indicado príncipe por Deus, na Sua misericórdia teria piedade de sua alma. Drácula segurou o monge com suas próprias mãos e o matou imediatamente. Deixando de lado o procedimento usual, forçou o monge a se deitar no chão e o apunhalou várias vezes na cabeça. Contorcendo-se de dor e sangrando muito, Hans morreu rapidamente. Drácula mandou pendurá-lo pelos pés e assim deixou o infeliz num poste alto em frente ao mosteiro franciscano. Por via das dúvidas, mandou empalar também seu asno.
Retirando-se da Valáquia, o irmão Jacob instalou-se em Melk, uma grande abadia do Danúbio, que nos dias atuais inspirou uma história de detetive de Umberto Eco, O NOME DA ROSA. Ainda hoje ela ocupa sua posição de destaque numa colina que domina o rio e é uma das casas beneditinas mais suntuosas da Europa. Foi nesse lugar que a primeira história de horror de Drácula nasceu, em fins de 1462. Foi também em Melk que o irmão Jacob encontrou o poeta cortesão do Imperador Frederico III, Michel Beheim, que viveu em Wiener Neustadt, a uns poucos quilômetros da abadia.
Informações sobre as desventuras do irmão Jacob na corte de Drácula aguçaram o apetite de Beheim para um poema sobre a extraordinária família Drácula. O cortesão encontrou-se com o monge no verão de 1463. O poema deve ter sido completado naquele ano.

A FAMA DE DRÁCULA

Esse poema representa de longe o mais extenso relato da época da vida de Drácula. Com suas mais de mil linhas, o manuscrito original está guardado na Biblioteca da Universidade de Heidelberg, onde a maior parte dos manuscritos de Beheim está guardada. O poema foi intitulado HISTÓRIA DE UM LOUCO SEDENTO DE SANGUE CHAMADO DRÁCULA DA VALÁQUIA, e foi lido para o Sacro Imperador Romano Frederico III no final do inverno de 1463. Essas histórias das crueldades de Drácula eram evidentemente do gosto do Imperador, uma vez que foram relidas em diversas ocasiões, de 1463 a 1465, para entreter convidados importantes.
Um verso de Beheim descreve Drácula “molhando seu pão no sangue de suas vítimas”, o que tecnicamente faz dele um vampiro vivo, uma referência que pode ter induzido Stoker a usar, séculos mais tarde, essa expressão. De acordo com registros germânicos, além de empalar suas vítimas, ele as decapitava, cortava narizes, orelhas, órgãos sexuais, membros, dividia as vítimas em pedaços e queimava, fervia, esfolava, crucificava e as enterrava vivas. Também obrigou outros a comerem carne humana. Seus refinamentos cruéis incluíam espalhar sal na sola dos pés de prisioneiros para permitir que animais os lambessem. Se um parente ou amigo de uma vítima empalada ousava remover o corpo da estaca, era candidato a ser enforcado num galho de árvore próxima. Drácula aterrorizou os cidadãos deixando cadáveres em vários pontos estratégicos, até que animais, os elementos da natureza ou ambos os tivessem reduzido a ossos e pó.
A crescente popularização da história de Drácula, no entanto, deveu-se à coincidência da invenção da imprensa por Guttemberg, na segunda metade do século XV e à produção barata do papel de trapo. As primeiras páginas de notícias sobre Drácula destinadas ao público em geral foram impressas em 1463, em Viena e em Wiener Neustadt. Mais tarde, impressores ambiciosos viram possibilidades comeciais nessas histórias sensacionais e continuaram a imprimi-las visando lucro.
Isso confirma o fato que o gênero de horror atendia os gostos do público leitor do século XV, tanto quanto do de hoje. As narrativas sobre Drácula tornaram-se sucesso de venda na Europa, no final do século XV. Algumas delas as primeira publicações sobre tema não religioso. Um exemplo de um dos muitos títulos de mal gosto mas atraentes: A ASSUSTADORA E VERDADEIRA HISTÓRIA EXTRAORDIÁRIA DE UM TIRANO CRUEL E SEDENTO DE SANGUE CHAMADO PRÍNCIPE DRÁCULA.
Uma das atrocidades mais dramatizadas de Drácula, sua famosa refeição entre cadáveres empalados foi imortalizada em duas gravuras. A primeira impressa em Nurembergue, em 1499, e a outra em Estrasburgo, em 1500.
A menção a pequenas cidades, vilas isoladas, mosteiros e fortalezas, reforça a historicidade das narrativas. Embora a identificação às vezes seja difícil, uma vez que a maioria dos nomes germânicos em uso durante o século XV foi substituída por nomes romenos, e algumas antigas cidades hoje desaparecidas, só foi possível com auxílio de mapas do século XVI refazer a trilha de destruição de Drácula através da Transilvânia.
Entre as fontes para as quais o historiador pode voltar-se para verificar a autenticidade dos relatos germânicos, está a rica documentação primária dos arquivos de Brasov e Sibiu, cidades fortificadas que figuram com destaque em todos os relatos germânicos. O arquivo de Sibiu inclui, entre outros itens, uma carta escrita pelo próprio Drácula, com a atemorizante assinatura DRACULYA, um apelido que ele adotou para demonstrar que se considerava filho do cruzado Dragão.

SOBRE O MOSTEIRO DE SNAGOV

Registros indicam que havia uma igreja na ilha-mosteiro no século XIV, e o mosteiro foi construído um pouco mais tarde, também naquele século. A primeira igreja era de madeira, e a segunda de pedra, mas a igreja de pedra afundou no lago em 1453. Drácula subiu ao poder na Valáquia pela segunda vez em 1462. Ele gostava do Mosteiro de Snagov, possivelmente porque estava encerrado numa ilha, que é sempre mais fácil de proteger. Era um lugar que poderia fortificar contra os turcos. Drácula transformou o mosteiro existente em uma fortaleza. Construiu muralhas fortificadas ao redor, uma prisão e uma câmara de tortura. Também um túnel de fuga e uma ponte até a margem.
Com seu desejo mórbido de se refugiar, ele não podia encontrar melhor fortificação natural do que a ilha, cercada pela densa floresta de Vlasie, e tendo vista panorâmica para todos os lados. Mesmo no inverno, quando o lago congela, um tiro de canhão dado na ilha pode quebrar o gelo e afogar um inimigo que se aproxima. Sabe-se, também, de acordo com algumas narrativas posteriores de camponeses, que Drácula, temendo a cobiça dos turcos, reuniu um grande tesouro acondicionando-o em diversos barris, com ajuda de seus homens. Os barris foram jogados no fundo do lago, coberto de colmo, um dos mais profundos da Romênia. Entretanto, Drácula, temendo que seus colaboradores, responsáveis por esse serviço, pudessem revelar a localização secreta desse tesouro, matou todos eles. Este tesouro ainda hoje é procurado.
Outros membros mais próximos da família de Drácula foram também relacionados com Snagov. Talvez apenas por amor filial, o filho de Drácula, Mínea o Mau, restaurou o mosteiro após a grande destruição que ele sofreu dos turcos, durante a campanha de 1462, e concedeu-lhe alguma terra adicional. Vlad o Monge, meio-irmão de Drácula e seu inimigo político, foi certa vez abade do mosteiro. Ele tomou o nome religioso de Pacômio. A segunda esposa de Vlad o Monge, Maria, seguindo o exemplo de sua sogra, também tomou votos e o mesmo nome religioso, Eupráxia. Ela viveu em Snagov por muitos anos, junto com seus filhos, Vlad V (Vladut) e Vlad VII o Afogado.

UM CRUZADO CONTRA OS TURCOS

1461 Tomada de Trebizonda pelos turcos.
1462 Drácula se recusa a pagar tributo, violando seu tratado, também deixando de comparecer à corte turca. Quando as negociações foram retomadas, os turcos exigiram o pagamento dos tributos devidos e uma nova exigência, nunca antes estipulada, e que representava uma clara violação dos tratados anteriores, envolvendo a cobrança do tributo infantil; nada menos do que quinhentos jovens destinados aos regimentos de janízaros, a infantaria de elite composta de recrutas de várias províncias dos Bálcãs, sob o controle do sultão. De fato, oficiais recrutadores de vez em quando invadiam as planícies da Valáquia, onde sentiam que a qualidade dos jovens era melhor.
Drácula havia resistido a tal incursão pela força das armas, e cada turco que fosse pego nessa tarefa podia ser levado à estaca. Tais violações do território por ambos os lados somaram-se às provocações e contribuíram para azedar as relações turco-valáquias. Ataques, pilhagem e saques tornaram-se endêmicos, de Giurgiu até o Mar Negro. Os turcos conseguiram assegurar várias fortalezas e comunas do lado romeno do Danúbio. Antes do definitivo corte de relações, o Sultão Mehmed II deu a Drácula uma última oportunidade.
Ele o convidou a ir à Nicópolis, no Danúbio, para se encontrar com Isaac Pasha, o governante da Rumélia e representante do sultão, que foi instruído a persuadir Drácula de ir pessoalmente a Constantinopla e explicar suas violações de vassalagem dos últimos anos. Inflexível, recusou-se a ir à corte do sultão, porque se lembrava de como seu pai fora traído. O pretexto oficial para a sua recusa de ir à Constantinopla era o receio de que se fizesse isso os seus inimigos, na Transilvânia, ficariam mais fortes na sua ausência.
Sua recusa confirmava suspeitas de que ele estava negociando simultaneamente uma aliança com os húngaros. Por isso os turcos planejaram uma emboscada. Os homens encarregados de levar avante o plano não podiam ter sido melhor escolhidos, um demônio de esperteza grego, Thomas Catavolinos, e Hamza Pasha, chefe dos falcoeiros da corte, governador de Nicópolis e homem conhecido por sua mente sutil. O pretexto ostensivo era encontrar Drácula para discutir uma fronteira mutuamente aceita e para persuadi-lo a ir a Constantinopla. Logo que eles souberam que Drácula recusaria esta última proposta, suas instruções secretas eram de capturar o príncipe valáquio morto ou vivo.
Em carta remetida ao Rei Matias Corvinus, de próprio punho, datada de 11 de fevereiro de 1462, Drácula faz um relato preciso das circunstâncias que venceu seus oponentes: _“Em outras cartas que enviei a Vossa Alteza, narrei o modo pelo qual os turcos, cruéis inimigos da Cruz de Cristo, mandaram seus emissários até mim visando quebrar nossa mútua paz e aliança, e destruir nossa união, de forma que eu me aliasse com eles e viajasse até o soberano turco, o que equivale dizer sua corte, e a menos que eu recusasse a abandonar a paz e os tratados e a união com Vossa Alteza, os turcos não manteriam a paz comigo. Eles também enviaram um importante conselheiro do sultão, Hamza Pasha, de Nicópolis, para determinar a fronteira do Danúbio, com o intento de que Hamza Pasha, se pudesse, me tomasse de algum modo por engano ou boa-fé, ou de alguma outra maneira, levando-me para o porto, ou então tentando me manter cativo. Mas pela graça de Deus, quando eu viajava pela fronteira descobri suas intenções e astúcia, e fui eu quem capturou Hamza Pasha num distrito e numa terra turca, próximo a uma fortaleza chamada Giurgiu. Quando os turcos abriram os portões da fortaleza, a pedido dos nossos homens, imaginando que apenas os seus entrariam, nossos soldados se misturaram com eles e invadiram a fortaleza, conquistando a cidade que em seguida mandei incendiar”.
A campanha do Danúbio que se seguiu, foi a bem-sucedida fase inicial da guerra turco-valáquia. Drácula estava na ofensiva, tentando duplicar a bem-sucedida guerra anfíbia de Hunyadi na década de 40 daquele século. A maior parte da campanha teve lugar em solo búlgaro, controlado pelos turcos.
Drácula também conta, com precisão, em carta ao rei da Hungria o número de baixas inflingidas: _“Matei homens e mulheres, velhos e jovens que viviam em Oblucitza e Novoselo, onde o Danúbio flui para o mar até Rahova, que fica perto de Chilia desde o baixo Danúbio até lugares como Samovit e Ghighen. Matamos 23.884 turcos e búlgaros, sem contar aqueles que foram queimados em suas casas ou aquelas cabeças que não foram cortadas por nossos soldados. [...] E assim Vossa Alteza deve saber que quebrei a paz com o sultão”.
Na primavera, o Sultão Mehmed II decidiu invadir a Valáquia. Drácula não havia dado ao sultão outra alternativa. Desafiar o sultão com o fracasso de um provável plano de assassínio era uma coisa. Porém, ridicularizá-lo e instilar esperanças de libertação entre os súditos cristãos era outra, muito mais perigosa para o seu império recentemente estabelecido. Em cada movimento que fez, dali em diante, Mehmed II quiz reduzir a Valáquia a uma província turca.
Com esse formidável desafio em mente, o sultão reuniu as mais poderosas forças que até então tinham se juntado desde a queda de Constantinipla, em 1453. Um imenso contingente comandado pelo próprio sultão foi transportado ao longo do Bósforo, por uma vasta frota de barcaças. Outra força poderosa, reunida em Nicópolis, na Bulgária, devia cruzar o Danúbio, recapturar a fortaleza de Giurgiu e então unir-se com o contingente principal num ataque combinado a Tirgoviste.
Drácula esperava reforços de Matias Corvinus, de maneira a equilibrar a disparidade dos números. De acordo com as narrativas eslavas, ele não dispunha de mais de 30.900 homens. Drácula apelou para os seus compatriotas. Como era costume quando a independência do país era ameaçada, todos os homens válidos, inclusive meninos de mais de doze anos, e até mulheres, eram convocados.
Uma testemunha ocular turca afirma que a travessia do Danúbio foi completada na noite do sexto dia do jejum do Ramadã (sexta-feira, 4 de junho de 1462), os soldados turcos sendo transportados em setenta barcos e barcaças, aportando à outra margem, muitas léguas abaixo, onde o exército de Drácula havia estacionado. Os turcos cavaram trincheiras e instalaram canhões ao redor, escondendo-se nas trincheiras, protegidos dos oponentes valáquios.
Entretanto, antes de fazerem uso da artilharia, mais de trezentos turcos foram mortos na outra margem. O sultão ficou muito entristecido com o fato, vendo aquela batalha do outro lado do Danúbio. Ele temia que todos os soldados fossem mortos. Porém, com a recua do exército de Drácula, o sultão ganhou confiança e contraatacou, atravessando o Danúbio com seus soldados. Pouco depois houve escaramuças preliminares ao longo dos pântanos do Danúbio, que visavam retardar a junção dos dois grandes exércitos turcos.
Drácula abandonou o rio e iniciou a sua retirada estratégica para o norte, já que o seu exército contava com inferioridade numérica. Os romenos dependiam da variedade do terreno para sua defesa: o solo pantanoso perto do Danúbio, a densa floresta “louca” de Vlasi aprofundando-se na planície e as montanhas impenetráveis, as “irmãs do povo” que haviam assegurado a sobrevivência da nação através das épocas.
À medida que as tropas Valáquias deixavam seu território aos turcos, Drácula usava táticas de terra-devastada, e esgotava seus inimigos criando um vasto deserto no caminho das forças invasoras, despovoando áreas, queimando seus próprios vilarejos e ateando fogo nos grandes centros, reduzindo-os a cidades-fantasmas. Boiardos, camponeses e citadinos acompanhavam os exércitos em retirada, a menos que encontrassem refúgios em montanhas isoladas ou mosteiros inacescíveis, como os de Snagov, onde os mais ricos buscavam proteção.
Drácula também ordenou que as colheitas fossem sistematicamente queimadas, os poços envenenados e o gado e outros animais domésticos que não pudessem ser levados para as montanhas serem exterminados. Determinou a construção de represas para secar a água de pequenos rios e para criar pântanos que pudessem impedir o avanço dos turcos, atolando seus canhões na lama. O povo cavara inúmeros buracos, que os cobriam com galhos e folhas, de maneira a fazer grandes armadilhas para homens, cavalos e camelos.
Fontes contemporâneas confirmam o cenário de desolação que esperava os exércitos turcos. Um historiador grego, conta: _“Drácula removeu toda a sua população para as montanhas e florestas da região e deixou os campos desertos. Carregou todos os animais para as montanhas. Assim, após ter cruzado o Danúbio e avançado por sete dias, o Sultão Mehmed II não encontrou um só homem e nenhum animal significativo, e nada para comer e beber”.
Outro registro diz: _“Drácula escondeu as mulheres e as crianças numa área muito pantanosa, protegida por defesas naturais, coberta por densa floresta de faias e carvalhos e ordenou seus homens que se ocultassem nessa floresta, que era inascessível a qualquer estranho que a penetrasse”.
Do lado turcos, os comentários são exatamente os mesmos. Um veterano da campanha turca queixou-se: _“O melhor dos homens entre os turcos não encontra fontes. [...] Nenhuma água potável. [...] O comandante Mahmud Pasha pensou ter encontrado finalmente um lugar para descansar. Mas mesmo ali, numa distância de seis léguas não era encontrada uma gota de água. A intensidade do calor causado pelo sol ardente era tão grande que a armadura parecia derreter numa forja. Na planície ressecada, rachavam os lábios dos combatentes do Islã. Os africanos e asiáticos, acostumados às condições do deserto, usavam seus escudos para cozinhar carne ao sol”. Certamente um fator que contribuiu para os sofrimentos e a morte que atingiu o exército turco era o fato de o verão de 1462 ter sido um dos mais quentes já registrados.
Ao lado das medidas da terra-devastada, Drácula usou táticas de guerrilha nas quais o elemento surpresa e o íntimo conhecimento do terreno eram as chaves do sucesso. Um viajante italiano relatou: _“A a cavalaria de Drácula podia freqüentemente surgir de trilhas relativamente desconhecidas e atacar saqueadores turcos distanciados das forças militares, e outras vezes atacava mesmo o grosso das tropas, quando elas menos esperavam, e antes que elas pudessem se recuperar ele voltava para a floresta sem dar ao inimigo oportunidade de combater em igualdade de condições. Os desgarrados do principal corpo das forças turcas que ficavam para trás eram invariavemlemte isolados e mortos, a maioria por empalamento”.
Uma tática mais insidiosa, quase desconhecida nesse período, era uma versão do século XV da guerra bacteriológica. Drácula teria encorajado todos os doentes vítimas de lepra, tuberculose, varíola e peste bubônica a se vestirem como os turcos e a se misturarem com os soldados. Se de algum modo sobrevivessem depois de contaminar e matar os turcos com sucesso, os valáquios infectados seriam ricamente recompensados. Do mesmo modo, Drácula libertava criminosos empedernidos que eram encorajados a assassinar os turcos desgarrados.
O ataque conhecido como a Noite do Terror foi um exemplo dramático da ousadia e da maestria de Drácula em táticas de surpresa. Em um dos muitos vilarejos próximos a Tigorsviste, perto do acampamento dos turcos na floresta, Drácula reuniu um conselho de guerra. A situação de Tirgoviste era desesperadora e Drácula apresentou um plano corajoso para salvar sua indefesa capital. O conselho concordou em que somente o assassínio do sultão poderia desmoralizar suficientemente o exército turco, a ponto de produzir uma retirada rápida.
A execução desse plano foi admiravelmente registrada por um soldado sérvio que experimentou todo impacto da investida audaciosa de Drácula. Seu relato descreve o complexo acampamento turco: _“O som dos guardas vigilantes gritando ordens ocasionais, o cheiro de carneiro assado na brasa, a conversa de soldados que partem, as risadas das mulheres e de outros visitantes, o cântico lamentoso dos escravos dos turcos, o ruído dos camelos, as incontáveis tendas e finalmente aquela bordada em ouro em que dormia o sultão, bem no coração do acampamento. Mehmed II havia acabado de se retirar depois de uma pesada refeição. De repende, ouviu-se o pio de uma coruja, sinal de Drácula para o ataque, seguido do tropel da cavalaria. Os invasores atravessaram o círculo de defesa dos guardas, galopando livremente entre as tendas dos soldados mal despertos. A espada e a lança Valáquias, com Drácula à frente, abriram um atalho sangrento. “Kaziklu Bey!, o Empalador”, gritavam fileiras de soldados turcos, gemendo e morrendo na trilha da avalanche romena. Os clarins turcos finalmente chamaram os homens às armas. Um corpo da guarda aos poucos formou-se, determinado, em torno da tenda do sultão. Drácula havia calculado que a abrupta surpresa e o ímpeto do ataque podiam levar sua cavalaria até a cama do sultão. Mas enquanto ele buscava essa meta, a guarda de Mehmed II reuniu-se e deteve a ofensiva Valáquia e de fato começou a fazer recuar os atacantes. Percebendo que corria o risco de ser envolvido e capturado, Drácula, embora com relutância, deu ordens de retirada. Ele havia morto vários milhares de turcos, ferido muito mais, criado pânico, caos e terror dentro do acampamento turco, mas havia perdido muitas centenas de seus guerreiros mais corajosos e o ataque havia fracassado. O Sultão Mehmed II havia sobrevivido por um triz e a estrada para Tigorviste estava aberta”.
Outro relato desta batalha conta que o grande Vizir Machumet prendeu um soldado valáquio e sob tortura começou a interrogá-lo sobre a localização e os planos de Drácula. O prisioneiro permaneceu em silêncio e foi provavelmente cerrado em dois. Admirado com esta demonstração de coragem, o vizir disse ao sultão: _“Se este homem estivesse no comando de um exército, poderia ter conquistado grande poder”.
Os turcos finalmente chegaram a Tirgoviste, mas não encontraram homem ou gado, comida ou bebida. A capital da Valáquia apresentava de fato um espetáculo desolador aos turcos que chegavam. Os portões da cidade foram deixados abertos e um véu de fumaça se confundia com a luz da madrugada. A cidade fora esvaziada de praticamente todas as suas relíquias sagradas e tesouros, do palácio fora levado tudo que havia ali de aproveitável, e o resto queimado. Os turcos foram recebidos por alguns poucos disparos de canhão feitos por alguns valáquios que ainda se escondiam nas ameias.
O Sultão Mehmed II resolveu não se deter na capital, mas continuou sua marcha atrás do ardiloso Empalador. Algumas milhas ao norte, o sultão foi surpreendido por um espetáculo ainda mais desolador: numa estreita garganta de cerca de um quilômetro e meio ele encontrou uma verdadeira “floresta de cadáveres empalados, talvez 20.000 ao todo”.
O sultão examinou o que restara de homens, mulheres e crianças, sua carne devorada pelos corvos que faziam ninhos em seus crânios e entre suas costelas. Entre eles o sultão encontrou os cadáveres de prisioneiros que Drácula havia conservado desde o começo da campanha, no inverno anterior. Num pico mais alto estavam as carcaças de dois assassinos que haviam tentado apanhar Drácula antes do início das hostilidades.
Ao longo de muitos meses os elementos da natureza e os corvos haviam feito o seu trabalho. Era uma cena horrível o bastante para desencorajar até mesmo o homem mais frio. Impressionado por esse espetáculo, Mehmed II ordenou que o acampamento turco fosse cercado por uma profunda trincheira naquela noite. Logo, pensando sobre o que tinha visto, o sultão perdeu o ânimo. Como registra um historiador: _“mesmo o sultão, tomado de pasmo, admitiu que ele não poderia tomar a terra de um homem que faz tais coisas, e acima de tudo lida com seus súditos desse modo. Um homem capaz de fazer coisas mais teríveis!” O sultão deu então ordens de retirada para a maior parte das forças turcas, e pôs-se em marcha para o leste em busca de um porto, no Danúbio, onde sua frota havia ancorado.
Após a retirada do contingente de Mehmed, o caráter da guerra mudou radicalmente. De fato, esse último capítulo pode ser descrito com maior propriedade como uma guerra civil, ao invés de uma guerra estrangeira, muito embora soldados turcos ainda continuassem envolvidos. Antes da partida, o Sultão Mehmed II nomeou formalmente Radu comandante-em-chefe, com a missão de destruir seu irmão Drácula e tomar conta oficialmente do principado. O contingente turco, sob o comando do Paxá de Cilistria, apoiaria as ações de Radu, mas o novo comandante devia confiar principalmente no apoio dos valáquios, alimentando deliberadamente esse conflito de modo a confundir os valáquios e a evitar a impressão de uma guerra nacional contra um adversário comum, de fato abandonando o seu plano anterior de conquistar a Valáquia para convertê-la num estado vassalo obediente. O que deixaram de conseguir pelas armas, conseguiram pela diplomacia.
As últimas batalhas opunham Drácula não tanto aos turcos, mas aos poderosos boiardos romenos, que afinal apoiavam decisivamente a causa de Radu. Os boiardos, entendendo que os turcos eram mais fortes, abandonaram Drácula e se associaram a seu irmão, que chegava como representante do sultão turco. Outra forte razão para a retirada turca foi a peste que havia aparecido nas hostes do sultão e as primeiras vítimas da terrível doença foram registradas em Tirgoviste. Talvez a tentativa de Drácula de fazer uma guerra bacteriológica tivesse funcionado.

A FUGA DE DRÁCULA

A campanha turca contra a Valáquia teve êxito e Drácula é deposto. Os turcos finalmente foram bem sucedidos em forçar Drácula a fugir para a Transilvânia.
O Mosteiro de Snagov foi parcialmente queimado pelos turcos.
Após a queda de Tirgoviste, Drácula e uns poucos fiéis seguidores seguiram para o norte, evitando os passos mais conhecidos, até chegarem ao seu retiro na montanha. Os turcos que foram mandados em sua perseguição acamparam no escarpado de Poenari, que domina uma vista admirável do Castelo Drácula na margem oposta do Rio Arges, onde instalaram os seus canhões. O grupo de soldados turcos desceu para o rio, atravessando a vau, acampando do outro lado. O bombardeio ao Castelo Drácula começou, mas sem sucesso, devido ao pequeno calibre dos canões turcos e à solidez das muralhas do castelo. As ordens para o assalto final ao castelo foram preparadas para ser dadas na manhã seguinte.
Entretanto, naquela noite, um escravo romeno dos turcos, de acordo com uma narrativa local, que era um parente distante de Drácula, advertiu o príncipe valáquio sobre o grande perigo em que se encontrava. Sem ser percebido na noite sem lua, o escravo subiu as escarpas do Poenari e fazendo cuidadosa pontaria disparou uma flecha para uma das janelas da torre principal, onde ele sabia que ficava os aposentos de Drácula. Presa à flecha ia uma mensagem advertindo-o para escapar enquanto ainda era tempo. A flecha apagou um candelabro dentro da torre. O escravo pôde ver a sombra da mulher de Drácula e conseguiu talvez perceber que ela lia a mensagem.
Foi reportado que a primeira esposa de Drácula informou o marido sobre o aviso. Ela lhe disse que preferia ter seu corpo devorado por peixes lá embaixo do Rio Arges a ser capturada pelos turcos. Drácula sabia, por sua própria experiência em Egrigoz, o que significava ser prisioneiro turco. Percebendo o quanto era desesperadora a situação, e antes de qualquer outra interferência, ela cometeu suicídio pulando das torres do Castelo Drácula para as águas do Rio Arges, recusando-se a se render aos turcos. O local ficou conhecido como Riul Doannei, o Rio da Princesa. Essa narrativa trágica é praticamente a única menção à primeira mulher de Drácula.
Drácula imediatamente fez planos para a sua própria fuga; não importava o quanto as circunstâncias fossem desfavoráveis, o suicídio não era uma opção. Ele ordenou que os seus líderes mais corajosos do vilarejo vizinho de Arefu fossem trazidos ao castelo, e durante a noite eles discutiram as várias rotas de fuga pela Transilvânia. Drácula tinha esperança de que o Rei Matias Corvinus, ao qual havia enviado muitos apelos, pudesse acolhê-lo como um aliado e assegurar sua volta ao trono valáquio. De fato, sabia-se que o Rei da Hungria, dispondo de um poderoso exército, havia estabelecido quartéis além das montanhas, em Brasov. Chegar até ele supunha o desafio de atravessar os Montes Cárpatos, conhecidos também como os Alpes da Transilvânia, num ponto onde não havia estradas ou passos. Os despenhadeiros no alto dessas montanhas são rochosos e traiçoeiros, em geral cobertos de neve e gelo mesmo durante o verão. Drácula não podeia ter tentado essa travessia sem o auxílio de guias locais.
O Castelo Drácula, era na época, praticamente invulnerável a ataques. Diziam que neste castelo existia uma passagem secreta que passava por baixo da montanha, que ele usava para fugir quando uma investida contra seu castelo era bem sucedida, mas esta passagem nunca foi encontrada. Drácula, uma dúzia de subordinados, seu filho, Mínea, e cinco guias deixaram o castelo antes da madrugada, pela escada em espiral que desce para o seio da montanha e leva até uma caverna na margem do rio.
Ali, o grupo de fugitivos podia ouvir os ruídos do acampamento turco a cerca de um quilômetro ao sul. Algumas das montarias mais rápidas haviam sido trazidas do vilarejo. Os cavalos eram equipados com ferraduras invertidas, de modo a deixarem marcas aparentes de uma cavalaria que chegava.
Para distrair a atenção da fuga, durante a noite os canhões do castelo dispararam repetidamente. Os turcos, em Poenari, respondiam quase automaticamente.
A história conta que, devido o ruído da artilharia, a montaria do próprio Drácula mostrou-se nervosa, e seu filho, contando apenas com cinco anos, e que estava amarrado na sela caiu ao solo e se perdeu na confusão. A situação era desesperadora demais para que alguém iniciasse uma busca e Drácula estava acossado demais e tinha o coração frio o bastante para se deixar perder por seu filho.
Essa pequena e trágica vinheta teve, entretanto, um final feliz. O menino foi encontrado na manhã seguinte por um pastor, que o tomou e o levou até a sua cabana, onde cresceu como se fosse alguém da sua família.
Quando o grupo fugitivo finalmente atingiu a crista das montanhas, pôde presenciar o assalto final dos turcos ao sul, que destruiu parcialmente o Castelo Drácula. Ao norte ficavam as muralhas fortificadas de Brasov, onde se esperava que os exércitos do Rei Matias Corvinus estivessem manobrando para vir em auxílio a Drácula. Em um lugar chamado Plaiul Oilor, ou Planície do Carneiro, o grupo de Drácula, agora a salvo dos turcos, reuniu-se e fez planos para a descida pelo norte.
Convocando seus corajosos companheiros, Drácula lhes perguntou de que modo ele poderia recompensá-los por lhe terem salvo a vida. Eles lhe disseram que apenas haviam cumprido seu dever com o príncipe e com o país. O príncipe, no entanto, insistiu: _“O que desejais? Dinheiro ou terras?” E eles responderam: _“Dai-nos, terras, alteza”. Em um bloco de pedra conhecido como Mesa do Príncipe, Drácula atendeu seus desejos escrevendo em algumas peles de lebres caçadas no dia anterior. Entregou aos cinco guias vastas glebas de terras nas montanhas, tão distantes quanto os olhos podiam ver. Isso incluía dezesseis montanhas e um rico suprimento de florestas, pescado e ovelhas, tudo por volta talvez de oitenta mil metros quadrados.
Drácula mais tarde estipulou a respeito que nenhuma dessas terras podia jamais ser tirada deles por príncipe, boiardo ou chefe eclesiástico. Eram de suas famílias, para ser usufruídas através das gerações. As peles dessas lebres ainda são carinhosamente guardadas pelos descendentes daqueles cinco homens.

A PRISÃO DE DRÁCULA

Antônio Bonfínius, historiador de Matias Corvinus, afirma que ele estava seguindo para a Valáquia a fim de libertar Drácula dos turcos. Entretanto, Drácula, quando soube que Matias havia chegado à Brasov, ainda desconfiado das intenções do Rei da Hungria, instalou-se no distrito de Scheei, no setor romeno da cidade, que fica fora dos seus muros. Os dois homens se encontraram, então bem no seu centro, e mantiveram ali uma aparente negociação durante cinco semanas.
Após semanas de conversações infrutíferas, Drácula exigiu que Matias finalmente agisse, empenhando-se numa campanha para libertar a Valáquia do controle turco sob Radu o Belo. O rei deu-lhe um corpo de soldados sob a liderança de Jan Jiskra de Brandys, um antigo chefe hussita eslovaco. Jiskra tinha pouco apreço por Drácula e se ressentia do seu apoio a João Hunyadi durante a luta interna na Hungria, quando ele defendeu a causa imperial.
O pequeno contingente composto de uns poucos mercenários remanescentes e de húngaros e eslovacos fazia parte ostensiva da vanguarda de uma força húngara maior que devia supostamente seguir sob o comando de Matias Corvinus. A 5 de dezembro, quando o grupo chegou à fortaleza de Konigstein, na bacia do Dimbovita, alto dos Cárpatos, onde Drácula havia estabelecido seus quartéis algumas semanas antes, enquanto esperava o rei chegar de Brasov, foi separado de seus homens e capturado sob ordens secretas do rei húngaro.
Jiskra levou Drácula até Brasov, mas tão logo se viram dentro dos muros os eslovacos foram substituídos por um pelotão de húngaros, mais confiável. A comitiva real e seu importante prisioneiro seguiram então para Alba e Iulia, onde Drácula foi aprisionado na fortaleza, quando se deu início ao processo judicial para justificar sua prisão.
Seguiram, posteriormente, por Medias, Turda, Cluj e Oradea, e cruzaram a fronteira da Hungria, perto de Debressen e, finalmente Buda, por volta do Natal.
Sua prisão causou muita consternação entre as potências européias, particularmente em Veneza e Roma, onde havia sido universalmente saudado como herói na bem-sucedida guerra contra o Sultão Mehmed II, e de onde grandes somas haviam sido gastas em nome da cruzada.
A prisão de Drácula tornou-se uma preocupação para todos os poderosos de alguma posição na luta contra os otomanos. O Rei Matias Corvinus precisou de uma explicação legítima para a sua ação drástica, logo apresentada através de documentos extraordinários que cumulam o rei da mais justificada condenação. Utilizou-se de três cartas apócrifas, contendo a assinatura falsificada de Drácula, escritas num lugar chamado Rothel e datadas de 7 de novembro de 1462, destinadas ao Sultão Mehmed II, ao renegado Vizir Mahmud e ao Príncipe Estêvão o Grande da Moldávia, revelando uma evidente mudança de atitude e de política da parte de Drácula.
Eram, na verdade, falsificações mal-intencionadas que desejavam de fato manchar a sua reputação e fazê-lo parecer como traidor da causa cristã, evidenciadas pelo estilo da redação, à deselegante retórica da submissão, incompatível com a sua personalidade, ao pobre vocabulário e ao mais pobre latim. Os autores dessas falsificações podem ter sido saxões germânicos, em decorrência das atrocidades praticadas contra eles.
Assim, Matias teve um pretexto válido para abandonar a campanha e romper sua aliança com Drácula, impedindo-o de obter ajuda papal para suas ambições políticas, culminando com a assinatura de um tratado secreto de paz com o Sultão Mehmed II e reconhecendo Radu o Belo como Príncipe da Valáquia.
Sem a formalidade de um julgamento que os líderes saxônicos teriam desejado, Matias Corvinus condenou Drácula como “um inimigo da humanidade” que, teria agora, de suportar um longo período na prisão.
O estágio final da carreira de Drácula deve ser dividido em duas fases: o prolongado período do cativeiro húngaro, que se estendeu por doze anos (1462-1474); e a sua libertação e o terceiro reinado, que durou apenas dois anos (1474-1476).
O período de prisão domiciliar em Buda, na Hungria, é o menos documentado da carreira de Drácula. Não obstante, é possível construir um quadro razoavelmente detalhado do que foi a vida de Drácula durante os anos de 1462 a 1474. Sua presença em Buda e seus feitos positivos na campanha turca não passaram despercebidos nos relatórios de representantes da corte do papado em Veneza, Milão, Gênova, Ferrara e outras repúblicas italianas. Nicholas de Modrussa, legado papal que encontrou Drácula nessa época, escreveu longos relatórios ao Papa Pio II, descrevendo a sua aparência física e tentando reabilitar sua reputação.
Aparentemente seu aprisionamento não foi nem um pouco oneroso. Ele foi aprisionado por doze anos em Visegrad, o palácio de verão do Rei Matias Corvinus, situado a trinta e seis quilômetros Danúbio acima, distante de Buda. Dentro desse largo complexo cresceu a florescente cultura da Renascença húngara. Drácula era menos um prisioneiro político do que um refém do rei húngaro.
É interessante notar que, numa narrativa russa, de suas histórias, normalmente favoráveis a Drácula, indicavam que, mesmo durante sua prisão, conservava seus maus-hábitos. Depois de caçar camundongos e comprar pássaros no mercado, ele os torturava e empalava com pequenas lanças. Alguns eram decapitados, outros esfolados e soltos.
1463-65 Os turcos invadem a Bósnia e a Herzegóvina.
1466 Drácula foi capaz de gradualmente ganhar as graças da monarquia húngara; tanto que ele conseguiu se casar com Ilona Szilagy e tornar-se um membro da família real. Algumas fontes indicam que esta segunda esposa de Drácula era, na verdade, a prima de Matias Corvinus, filha de Michael Szilagy, uma vez aliado de Drácula. A questão do casamento de Drácula está ligada ao abandono da religião ortodoxa e a sua conversão ao catolicismo romano. Somente após a renúncia formal de Drácula à fé ortodoxa, deu-lhe o rei a mão de sua parenta em casamento, decidindo, ainda, por nomeá-lo candidato oficial ao trono valáquio. Um modo de buscar sentido nessa complicada história é entender que Matias deve ter oferecido à Drácula uma escolha: ou se convertia ao catolicismo para casar-se na família-real húngara e ser considerado um candidato aceitável ao trono valáquio ou morria na prisão. Isso leva a crer que o período efetivo da sua prisão ocorreu apenas por quatro anos, de 1462 a 1466, em Visegrad.
Quando Drácula foi libertado da prisão em seguida a seu novo casamento, foi lhe dado uma casa em Peste, oposta a Buda, onde viveu com sua esposa húngara e onde nasceram os dois filhos. Não existem registros dos nomes destes filhos do seu segundo casamento, com Ilona Szilagy. Provavelmente, seguindo a tradição da nobreza européia, o primogênito deve ter recebido também o nome de Vlad Drácula e ter sido um pretendente ao trono da Valáquia; tendo deixado um herdeiro, Ladislau Drácula, membro da Família Vass de Czege. Enquanto seu filho mais novo, sabe-se que viveu com o Bispo de Oradea, e morto, sem herdeiros, em 1482.
1468 Morte de Escanderbeg.
1473 Radu o Belo governa a Valáquia, durante a prisão de Drácula. Sua política, a favor dos turcos, provavelmente foi um fator importante na reabilitação de Drácula.
1473-74 Besarabi Laiota, o Velho, assume o governo da Valáquia.
1474 Liberdade de Drácula assegurada pelo Rei Matias Corvinus. O tempo exato de seu confinamento, é aberto para debates. Os panfletos russos indicam que ele foi prisioneiro de 1462 até 1474. Entretanto, durante esse tempo Drácula se casou com um membro da família-real húngara e teve dois filhos que já tinham por volta de dez anos quando ele reconquistou a Valáquia, em 1476.
Raymond T. McNally e Radu Florescu indicam que o período de sua prisão foi de 1462 a 1466. É muito pouco provável que um prisioneiro encarcerado Torre de Salomão, destinada a prisioneiros políticos, teria a chance de se casar com um integrante da família real. Correspondência diplomática do período em questão também apóia a teoria de que o período de seu confinamento foi relativamente pequeno.
Aparentemente nos anos entre sua libertação, em 1474, quanto ele começou as preparações para a reconquista da Valáquia, Drácula viveu com sua nova esposa em Peste, defronte a capital húngara.
Quase nada sabemos de sua vida em Peste, além da história pitoresca que causou um grande júbilo na corte húngara. O caso descreve um incidente no qual um ladrão entrou na casa de Drácula. Um capitão da guarda húngara perseguiu-o cruzando os limites da casa de Drácula sem um mandato formal. Drácula apunhalou o infeliz até a morte, na mesma hora. Quando as autoridades municipais quiseram protestar contra esse estranho comportamento junto ao rei húngaro, Drácula justificou-se no seu modo característico e inimitável: _“Não fiz nada errado! O capitão é responsável por sua própria morte. Todo homem que invade a casa de um grande governante como eu, corre o mesmo risco. Se esse capitão tivesse me procurado e se apresentado a mim, eu mesmo teria encontrado o ladrão e o teria poupado da morte”. Quando os relatórios do incidente chegaram ao rei húngaro, conta-se que ele sorriu com a audácia do seu novo parente. A autenticidade desse episódio é suficientemente assegurada pelo que sabemos da personalidade de Drácula.
Neste período, o Rei Matias Corvinus preocupado com certos rumores e acontecimentos estranhos, encomendou um estudo sobre vampiros. Ele queria reunir tudo o que se conhecia a respeito do assunto, desde as épocas mais remotas. Quem quer que tenha sido o especialista incumbido de tal tarefa, era seguramente um estudioso dos clássicos da Antigüidade grega, pois, o documento endereçado a ele, faz menção às lendas da Grécia Antiga, e das tragédias gregas; mencionando, especialmente, a Lenda do Fantasma na Ânfora. A ânfora muitas vezes continha cinzas humanas. E os gregos acreditavam que, se as coisas não corressem como deveriam, durante o rito funeral de enterro da ânfora, isso poderia gerar um vampiro.
1475 Radu o Belo, retorna por um breve período ao trono da Valáquia; retornando, em seguida à Constantinopla, sendo, novamente, substituído por Besarabi Laiota, o Velho, membro do Clã Danesti.
O Cã tártaro da Criméia torna-se vassalo dos turcos.
Campanha húngara na Bósnia. O Rei Matias Corvinus dá um comando militar a Drácula e, durante o verão, um ajuste formal foi assinado entre o Rei da Hungria, Estêvão da Moldávia e Drácula. Essa nova aliança foi a pedra angular da nova cruzada anti-otomada patrocinada pelo novo Papa Sixto IV.

1476 - O TERCEIRO REINADO E A MORTE DE DRÁCULA

1476 Drácula mais uma vez estava pronto para atacar. Drácula e o Príncipe Estêvão Bathory invadiram a Valáquia com uma força mista de transilvanianos, alguns burgueses valaquianos insatisfeitos e um contingente de moldávios enviados pelo primo de Drácula, Príncipe Estêvão o Grande da Moldávia.
Enquanto o exército de Drácula se aproximava, Besarabi e sua corte fogem, alguns buscando a proteção dos turcos, outros para os abrigos das montanhas. No mês de novembro, depois de colocarem Drácula de volta ao trono, Estêvão Bathory e as outras forças de Drácula voltaram à Transilvânia, deixando a posição tática de Drácula muito enfraquecida.
Quando Drácula retornou, como príncipe, quatorze anos depois, o camponês que havia encontrado seu filho, Mínea, descobriu a verdadeira identidade do seu adotado, e levou-o até o castelo. A essa altura ele havia se transformado em um esplêndido jovem, com 19 anos. Contou a seu pai tudo o que o pastor havia feito por ele, e como prova de gratidão Drácula compensou o camponês com o oferecimento de terras nas vizinhanças da montanha. Seu filho permaneceu na região, tornando-se Príncipe da Valáquia em 1508, aos 51 anos.
Drácula teve muito pouco tempo para ganhar apoio, antes que um grande exército turco invadisse a Valáquia, determinado a devolver o trono a Besarabi. Aparentemente, mesmo os plebeus, cansados das depredações do Empalador, abandonaram-no à sua própria sorte. Drácula foi forçado a lutar contra os turcos com pequenas forças à sua disposição, algo em torno de menos de quatro mil homens.
Drácula foi morto em batalha contra os turcos perto da pequena cidade de Bucareste, em dezembro de 1476. Algumas fontes indicam que ele foi assassinado por burgueses valaquianos desleais, quanto ele estava prestes a varrer os turcos do campo de batalha. Outras fontes dizem que Drácula caiu vencido, rodeado pelos corpos dos leais guarda-costas, as tropas cedidas pelo Príncipe Estêvão da Moldavia, que permaneceram com Drácula mesmo após a retirada de Estêvão Bathory para Transilvânia. Outra versão é a de que Drácula foi morto acidentalmente por um de seus próprios homens, no momento da vitória.
O corpo de Drácula foi decapitado pelos turcos e sua cabeça enviada à Constantinopla onde o Sultão Mehmed II a manteve em exposição em uma estaca como prova de que o Empalador estava morto. Levou cerca de um mês para que a notícia calamitosa atingisse a Europa Ocidental; só em fevereiro de 1477 o enviado do Duque de Milão em Buda, Leonardo Botta, escreveu ao seu senhor, Ludovico Sforza, contando que os turcos haviam conquistado a Valáquia e que Drácula fora morto. Ele foi enterrado em Snagov, uma ilha-monastério localizada perto de Bucareste.
Conta uma lenda antiga, que um grande livro, um tesouro do Mosteiro de Snagov, fora colocado sobre o altar durante o funeral de Vlad III, e que os monges presentes à cerimônia tinham assinado os seus nomes nele, e os que não sabiam escrever tinham desenhado um dragão, em homenagem à Ordem do Dragão. Logo depois, uma terrível tempestade atirou sua igreja no lago.
Como voivoda Vlad III liderou uma política independente em relação ao Império Otomano e, na Romênia, é lembrado como um cavaleiro cristão que lutou contra o expansionismo islâmico na Europa. Em turco, Vlad III é conhecido como Kaziklu Bey, ou o Príncipe Empalador, sendo um herói popular na Romênia e na República da Moldávia ainda hoje.

EVENTOS POSTERIORES

1477 No final do verão de 1477, sob um calor intenso, houve o que os historiadores chamam de Pequena Peste. Embora uma epidemia breve, ceifou muitas vidas em Pera, antigo bairro da cidade de Constantinopla (Galata, na Istambul). Os corpos tinham o coração empalado antes de serem queimados. Isso era muito pouco habitual, porque, normalmente, os corpos dos desafortunados eram simplesmente queimados fora dos portões da cidade, para evitar outras infecções.
1482 Fedor Kurytsin, representante do Grande Duque de Moscou, viajou com uma grande comitiva até a capital húngara com objetivo de coletar histórias sobre Drácula. Ele encontrou o Rei Matias Corvinus, o historiador da corte, Antônio Bonfínius, incontáveis oficiais, diplomatas, mercadores da Transilvânia e banqueiros. Ele foi também apresentado à viúva húngara de Drácula e a seus três filhos, de dois casamentos. Kurytsin teve o cuidado de ler as narrativas germânicas que circulavam na corte e mostrou um interesse obsessivo por este homem notável que havia morrido seis anos antes.
Como um bom jornalista, ele mais tarde viajou para a Transilvânia, conversou com o primo de Drácula, Estêvão da Moldávia, e consultou soldados que defenderam o príncipe em suas últimas horas. Finalmente elaborou seus relatos, chamando o documento de HISTÓRIA DO PRÍNCIPE ROMENO DRÁCULA. Os estudiosos encontraram não menos de vinte cópias desse documento. Embora desaprovando os crimes de Drácula e o criticando pela sua conversão ao catolicismo, o depoimento de Kurytsin foi um panfleto político que teve um impacto profundo e prolongado na Teoria Política da Rússia.
Ivan o Terrível relacionava-se também com o Drácula do panfleto de Kurytsin e pode ter-se inspirado para alguns de seus crimes, inclusive o empalamento de boiardos russos, naqueles de Drácula.
Drácula serviu como personagem-modelo para O PRÍNCIPE, de Maquiavel, um governante que associou tortura e morte aos mais avançados princípios de justiça e moralidade.
1482-95 Vlad (Mircea) o Monge
1508-09 Mínea o Mau
1509-10 Mircea II
1510-20 Vlad V ou Vladut reconstruiu a Igreja e o Mosteiro de Snagov, em 1517.
1530-32 Vlad VII o Afogado
1574-77 Alexandru II Mircea
1577-83 Mínea II o Islamizador
1611-23 Radu Mínea - Reinou intermitentemente a Valáquia e a Moldávia.
1623-27 Alexandru o Casulo - Morreu em 1632 sem herdeiros conhecidos, encerrando
a linhagem de príncipes, iniciada por Besarabi I, o Grande.
Da linhagem húngara de Drácula, iniciada pelo seu segundo casamento, descendem os filhos de Ladislau Drácula: Ladislau Drácula de Sintesti e Jon Drácula, tendo ambos recebido patente de nobreza em 1535. De Ladislau Drácula de Sintesti descende Jon Drácula de Band, morto sem herdeiros conhecidos. De Jon Drácula descende George Drácula e, deste último, uma filha de nome desconhecido, tornada membro da Família Getzi, que conservou o nome Drácula, na região do Passo Borgo. Esta linhagem termina no século XVII.
1897 Bram Stoker publica DRÁCULA.
1931 O genealogista George Florescu e o arqueólogo Dinu Rosetti foram designados pela Comissão de Monumentos Históricos da Romênia para fazer escavações em torno do Mosteiro de Snagov e em outros lugares da ilha. Seus achados, divulgados numa fascinante monografia, DIGGINGS AROUND SNAGOV, incluíam vários artefatos mostrando que a ilha fora o sítio de uma antiga edificação. Um grande número de crânios e esqueletos foi desenterrado, ajudando a confirmar as tradições populares sobre os crimes cometidos em Snagov do século XV em diante. Numerosas moedas de ouro e prata, de todos os tipos, foram desenterradas, indicando o uso de Snagov como local de entesouramento e de cunhagem, igualmente por boiardos e príncipes.
Um local particular investigado pela equipe Florescu-Rosetti era a pedra sob o altar, que de acordo com a tradição marcava o ponto onde Drácula fora enterrado. A lenda popular tinha várias explicações para o fato de aquela ser a localização do seu túmulo. Os monges que enterraram o corpo sem cabeça de Drácula colocaram-no próximo ao altar e o marcaram com uma inscrição e um afresco pintado, de modo que sua alma perturbada pudesse receber os benefícios das orações dos celebrantes. No entanto, quando a pedra foi finalmente removida, para consternação dos arqueólogos, nem o ataúde e nem o esqueleto sem cabeça foram encontrados. Em lugar disso havia um buraco profundo e vazio, exceto por um deteriorado amontoado de ossos de gado e outros animais, uma coroa de ouro, uma gargantilha com a idéia de uma serpente e fragmentos de um traje em seda vermelha, com um sino costurado nela. Infelizmente todas essas coisas foram roubadas do Museu Histórico de Bucareste, onde foram depositadas.
Drácula foi, tanto quanto se pode julgar do quadro a óleo no Castelo Ambras, um belo tipo de homem. As gravuras saxônias vistas na capa de alguns folhetos alemães são rústicas em sua técnica e certamente distorceram e deformaram seus verdadeiros traços. Uma segunda pintura a óleo, uma miniatura em Viena, delineia o rosto de um homem poderoso. Os grandes olhos verde-escuros têm grande intensidade. O nariz é longo; a boca é larga, rosada e de lábios finos. Drácula aparece bem bardeado, exceto onde há um longo e brilhante bigode. Seu cabelo era escuro e levemente grisalho. Sua pele era de uma brancura mortal, quase doentia. Ele traja uma túnica da nobreza húngara, com uma capa de arminho e um diamante cravado no barrete em estilo turco.

O VAMPIRO-CONDE DRÁCULA

As práticas ortodoxas de excomunhão reforçam a crença nos vampiros. Quando os padres ou bispos ortodoxos cristãos expedem uma ordem de excomunhão, eles acrescentam o seguinte pronunciamento à maldição: _“E a terra não receberá seu corpo!” Isso significa que o corpo da pessoa excomungada permanecerá “incorrupto e inteiro”. A alma não descansará em paz. Nesse caso, a não-decomposição do corpo é um aviso do mal. Os ortodoxos cristãos que se converteram ao catolicismo romano ou ao islamismo são condenados a vagar pela terra e a não entrar no céu. É importante lembrar nesse contexto que o Drácula histórico, tendo se convertido ao catolicismo próximo ao fim de sua vida, “abandonou a luz da ortodoxia” e “aceitou a escuridão da heresia”, e a partir daí candidatou-se a se tornar um morto-vivo, um vampiro.
O vampiro-conde Drácula é uma espécie de figura patriarcal de muito poder. Em muitas religiões, em oposição à Deus, que é o pai representado por sua grande barba branca, é Satã, também uma figura paternal e comumente representada com asas imensas e escuras, na forma das de morcego.
A ligação entre Drácula, o Demônio, o morgego e o vampiro torna-se clara quando se compreende que no folclore romeno o Demônio pode se transformar num animal ou num pássaro preto. Satã é também noturno. Durante o dia ele permanece quieto no Inferno, como o morcego no seu refúgio; quando o dia acaba, a noite é o seu reinado, tal como o morcego.

WILLIAM SHAKESPEARE E BRAM STOKER

Raymond T. McNally e Radu Florescu, autores de inúmeros livros sobre Drácula e vampirismo, afirmam a influência de Shakespeare sobre Bram Stoker, em seu romance DRÁCULA, em particular ao HAMLET. Por exemplo, no começo do romance, em uma entrada relativa a 8 de maio, meia-noite, Jonathan Harker registra no seu diário depois de uma longa conversa com o Conde Drácula sobre seus ancestrais, de meia-noite até “‘quase de manhã’, quando o conde abruptamente corta a conversa e corre, como se “tudo fosse se acabar na madrugada... como o fantasma do pai de Hamlet”. Aqui, Stoker apresenta um dos primeiros indícios de que o conde age como fantasma.
Na manhã do dia 16 de maio Harker observa que: “...de todas as coisas imundas que se ocultam nesse lugar odioso, o conde é o que menos me horroriza; é que para ele ao menos posso olhar com segurança, na medida em que ainda posso ver. Meu Deus! Deus piedoso!... Começo a entender melhor certas coisas que me intrigavam. Até agora nunca soube exatamente o que Shakespeare queria dizer quando fez Hamlet pedir: “Meus apontamentos! Depressa, meus apontamentos! Preciso tomar notas”. Sentindo que sua mente se torna confusa, Jonathan Harker retoma sua compostura e paz mental forçando-se a anotar os estranhos acontecimentos no seu diário.
Lucy Westenra também faz uma anotação, em seu diário, registrado em 12 de setembro: “Bem, aqui estou esta noite, esperando pelo sono como Ofélia, na peça, com ‘grinaldas e derramamentos de solteirona’”.
Mais tarde, a 1º de outubro, o Dr. John Seward anota em seu diário sua pergunta a Renfield sobre se ele queria um pouco de açúcar para atrair moscas. Renfield responde: “Não guardo nada dessas coisas. ‘Ratos, camundongos e tais bichinhos’, como Shakespeare dizia, ‘miudezas da despensa’, como há quem as chame. Já ultrapassei todo esse tipo de bobagens”.
Bram Stoker absorveu isso provavelmente do desempenho do ator irlandês, Sir Henri Irving, intérprete de Hamlet, durante noites seguidas. A peça estreou em 30 de dezembro de 1878, em Dublin, e teve cerca de cem representações. Stoker foi secretário particular de Irving e era a primeira vez que se envolvia numa produção teatral. Como ele dizia: “Agora começava a entender por que as coisas eram como eram. Tive uma educação liberal”.
Certamente HAMLET esteve em seu espírito quando ele escreveu DRÁCULA. Outra evidência é o nome do verdadeiro herói do romance, o Dr. Abraham Van Helsing. O nome Van Helsing é uma derivação do nome dinamarquês do famoso Castelo de Hamlet, Elsinore _Helsingor_, cujo significado é “a ilha de Helsing”. Stoker identificou-se fortemente, e de muitos modos, com a personagem Van Helsing, dando, inclusive, a ele o seu próprio primeiro nome e o de seu pai: Abraham.

ELIZABETH KOSTOVA

Há, ainda, indícios, citados na obra da romancista Elizabeth Kostova, O HISTORIADOR (Objetiva, Rio de Janeiro, 2005, página 241), sobre a autoria de uma peça perdida de Shakespeare, O REI DE TASHKANI, cujo panorama de fundo se passava em uma versão ficcional de Istambul, renomeada com o título pseudoturco. Nela, um espectro maligno chamado Dracole aparece para o monarca de uma bela cidade antiga que ele, o monarca, conquistou à força. O espectro diz que antes era inimigo do monarca, mas que agora vinha comprimentá-lo pela sede de sangue que demonstrara. Então, insiste para que o monarca beba o sangue dos habitantes da cidade, que agora são seus lacaios. É um trecho arrepiante e, segundo a autora, a peça sombria, é citada na obra de diversos historiadores ingleses; embora, alguns dizem que não é de Shakespeare. O tirano em questão, para quem o espectro aparece, seria o Sultão Mehmed II, o conquistador de Constantinopla.

CANÇÕES FOLCLÓRICAS ROMENAS E ESLAVAS

Na Valáquia, Drácula é homenageado em baladas populares e nas lendas camponesas, particularmente nos vilarejos das montanhas que cercam o próprio Castelo Drácula, em Curteia de Arges, região de Poenari, acima do Rio Arges, a região onde ele é mais lembrado. Apesar das deformações do tempo e da transliteração, ou das distorções feitas pela viva imaginação dos camponeses, persiste a verdade de que o épico popular representa um papel importante na reconstrução do passado.
Drácula não é definido como totalmente vilão no folclore romeno, em contraste com as tradições alemãs, turcas e em parte russas. Os alemães da Transilvânia tinham por ele aversão porque Drácula os massacrou; os russos, porque ele abandonou a fé ortodoxa; e os turcos, porque ele os combateu ferozmente. O folclore romeno, que é produto da imaginação camponesa, não das crônicas boiardas que o apelidaram de “O Empalador”, tentou de algum modo explicar as cruéis idiossincrasias de Drácula. Assim, ele o evoca no estilo Robin Hood, cruel com os ricos e um amigo poderoso dos pobres. A visão camponesa dos feitos de Drácula foi provavelmente um encobrimento, um exagero.
No entanto ela persiste e além disso Drácula foi um guerreiro corajoso. Os camponeses se orgulhavam dos seus feitos militares, não importando que métodos ele tenha usado para obtê-los. Seu maior objetivo, livrar o país do estrangeiro, do infiel não cristão, ajudou os camponeses a desculpá-lo pelo empalamento dos boiardos, cujas intrigas, enfraqueceram o Estado Valáquio. Isso também os ajudou a perdoar as tentativas de Drácula para eliminar os miseráveis e os mutilados que não poderiam mais servir ao estado, especialmente em tempo de guerra.
Nos vilarejos valáquios, não muito afastados do Castelo Drácula, há camponeses que afirmam ser descendentes dos antigos guerreiros que combateram por Drácula contra os turcos, que o defenderam em momentos de dificuldade, guiando-o com segurança através das montanhas da Transilvânia, e que foram recompensados por ele. Os mais velhos camponeses que ainda cultivam as histórias de Drácula são uma espécie em extinção, e quando a presente geração se for, o folclore também morrerá com ela.

Balada Triste Magiar
Uma irmazinha, a criança que morreu tinha.
Depois que ela se foi, ainda que cedo fosse,
ficou bem mais alegre aquela sua irmazinha.
E disse à mãe: “Seu lindo sorriso doce,
A que morreu, quando partiu, me deu,
E a vida toda que ela não viveu
Agora vive por inteiro em mim”.
Mas a mãe, ao ouvi-la falar assim,
Pôs-se a chorar, sua cabeça pendeu,
lembrando apenas a filha que morreu.

Balada dos Homens dos Cárpatos
Chegaram aos portões, às portas da grande cidade.
Chegaram à grande cidade vindos da terra da morte.
“Somos homens de Deus, os homens dos Cárpatos.
Somos monges e homens santos, mas trazemos más notícias.
Trazemos notícias de uma peste na grande cidade.
Servindo nosso mestre, viemos chorar sua morte”.
Chegaram aos portões e a cidade chorou com eles
Quando nela entraram.

Balada do Herói
O herói estava morrendo no alto da verde montanha.
O herói estava morrendo com nove feridas no corpo.
Ó falcão, voe até ele e diga que seus homens estão salvos,
Salvos nas montanhas, todos os seus homens.
O herói tinha nove feridas no corpo
Mas foi a décima que o matou.

Balada do Dragão
O dragão desceu ao nosso vale.
E queimou as colheitas e tomou as donzelas,
E assustou o turco infiel e protegeu nossas aldeias.
Seu sopro secou os rios e nós os atravessamos a pé.
Agora, precisamos defender-nos.
O dragão era nosso protetor,
Mas agora nós nos defendemos dele.


























ELIZABETH BATHORY - A CONDESSA SANGÜINÁRIA

O LIVRO DOS LOBISOMENS, de 1865, escrito pela ministra protestante e erudita Reverenda Sabine Baring-Gould, retrata a vida da infame “Condessa Sangüinária”, Elizabeth Bathory. Ela registra a lenda clássica de uma condessa húngara que matou suas criadas para banhar-se no seu sangue, uma vez que ela imaginava que esse tratamento manteria sua pele jovem e saudável. A verdade é que ela assassinou seiscentas e cinqüenta moças para esse fim.
Uma investigação recente revelou até agora documentação desconhecida sobre um inquérito que teve lugar antes do julgamento de Elizabeth Bathory, em 1610. O testemunho de centenas de pessoas demonstrou que o seu uso de sangue para finalidades cosméticas era lenda, mas confirmou que ela de fato matou mais de seiscentas e cinqüenta moças. Ela recordava suas atrocidades em seu diário. A condessa evidentemente gostava de morder e dilacerar a carne de suas jovens criadas. Um de seus apelidos era “Tigre de Cachtice”. Cachtice, a cidade onde existia seu principal castelo, em outro tempo parte do noroeste da Hungria, está hoje localizado na Eslováquia, norte de Bratislava. Elizabeth Bathory nasceu em 1560 de uma das mais poderosas e ilustres famílias de seu tempo.
Ela torturou e assassinou não somente no Castelo de Cachtice mas também em Viena, onde possuía uma mansão na rua dos Agostinianos, na praça Lebkowitz, próxima ao palácio real, no centro da cidade. Durante o julgamento de 1611, foi confirmado que “em Viena os monges arremessavam seus corpos contra as janelas quando ouviam os gritos das moças sendo torturadas”. Esses monges eram certamente os do velho Mosteiro Agostiniano defronte a mansão de Elizabeth Bathory. No porão, Bathory mandou um ferreiro construir uma espécie de compartimento de madeira, ou cela, onde torturava suas vítimas.
Os constantes casamentos em família entre as famílias nobres da Hungria, destinados a manter as propriedades entre si, levaram à degeneração genética. A própria Elizabeth era sujeita a ataques epiléticos. Também um dos seus tios foi um notório satanista, sua tia Klara uma terrível aventureira sexual, seu irmão Estêvão um bêbado e um devasso.
Aos onze anos, Elizabeth foi prometida em casamento ao filho de outra família aristocrática húngara, Ferenc Nadasdy. Ela foi viver com a família Nadasdy, onde como menina levada ela evidentemente se divertia com os meninos camponeses da região de Nadasdy. Aos treze anos deixou-se engravidar por um deles. Sua mãe a escondeu no distante Castelo Bathory, onde Elizabeth deu à luz a uma criança que foi secretamente mandada para fora do país. Pouco antes de completar quinze anos, Elizabeth casou-se com Ferenc Nadasdy.
Ferenc, que mais tarde ficou conhecido como Cavaleiro Negro, era tão cruel quanto sua esposa. Ele esteve fora lutando nas guerras contra os turcos durante a maior parte do tempo em que foi casado. Quando em casa, distraía-se torturando presos turcos. Ensinou até mesmo algumas técnicas de tortura a Elizabeth. Uma delas, muito dolorosa, era uma variação do “pé quente”, em que pedaços de papel embebidos em óleo são colocados entre os dedos dos pés de empregados preguiçosos, aos quais se ateia fogo, fazendo com que a vítima se contorça de tanta dor, tentando livrar-se do fogo. Enquanto isso, Elizabeth enterrava agulhas na carne e sob as unhas de suas criadas. Punha também moedas e chaves aquecidas ao rubro nas mãos das torturadas, ou então usava um ferro para marcar o rosto de empregadas indolentes. Também costumava jogar outras moças na neve, enquanto água fria era atirada sobre elas até que morressem por congelamento.
Ferenc mostrava a Elizabeth como disciplinar outras das suas empregadas. A moça era levada sem roupa para fora e seu corpo esfregado com mel, e ela permanecia por vinte e quatro horas ao ar livre, de modo que pudesse ser picada por mosquitos, abelhas e outros insetos.
Ferenc morreu em 1604, deixando sua viúva livre para satisfazer suas mórbidas fantasias sexuais. Ela ateou fogo nos pelos pubianos de uma de suas empregadas, segundo um testemunho do julgamento de 1611. Elizabeth gostava também de rasgar as roupas de suas criadas. Certa vez, ela abriu a boca de uma criada até que seus cantos se rasgassem.
Elizabeth Bathory fazia tudo isso muito tranqüilamente porque era uma aristocrata húngara, enquanto os criados eslovacos, podiam ser tratados como propriedade ou objeto, tão cruelmente quanto ela quisesse porque não tinham para quem apelar. Ela atraía criadas para o seu castelo com promessas de riqueza e prestígio. Quando esse método começou a não funcionar, ela mandava fazer pequenas incursões nas aldeias próximas e seqüestrava suas vítimas.
Bathory finalmente cansou-se da moças a seu serviço e começou a seduzir aristocratas para seus jogos noturnos. Esse foi seu primeiro erro. Elizabeth levava avante suas atrocidades na companhia de uma mulher misteriosa que se vestia de homem.
Uma vez que Bathory estava doente de cama, ordenou que suas criadas mais velhas trouxessem uma jovem empregada até seu leito. Bathory mordeu-a como um cão feroz, arrancando pedaços do rosto e do ombro da moça com seus dentes, em seguida mordeu os seus seios.
A ocultação de inumeráveis corpos tornou-se um problema técnico cada vez mais grave: a certa altura Elizabeth Bathory escondia os corpos até sob as camas do castelo. O mau cheiro tornou-se intolerável e algumas das antigas criadas atiraram os corpos, depois de drenado o sangue, num campo das proximidades. Os assustados habitantes dos vilarejos próximos acreditaram que vampiros eram responsáveis pelos corpos dessangrados.
Elizabeth Bathory era muito mais rica do que o Rei da Hungria Matias II. De fato ele devia a ela uma grande soma em dinheiro. Quando chegara até ele a notícia de que cresciam as evidências de que Bathory estava molestando jovens de origem nobre, ele decidiu agir, principalmente por razões econômicas, não religiosas. Alguns estudiosos afirmam que Matias II, um católico, atacou Bathory somente porque ela era protestante. Com o apoio dos nobres do Parlamento Húngaro, Matias II viajou para a Bratislava e ordenou ao Conde Thurzo, governador local, que investigasse e verificasse os fatos relacionados com Elizabeth Bathory. O rei, que acreditava em feitiçaria como a maioria dos seus pares, foi largamente motivado por considerações financeiras. Se Bathory podia ser acusada e afinal condenada como uma feiticeira, então toda sua vasta propriedade podia ser confiscada e zeradas as dívidas do rei.
O Conde Thurzo, no entanto, era grande amigo e parente da família Bathory. Rapidamente, atrás de portas fechadas, incluindo os filhos e filhas de Elizabeth, a família concordou em fazer um trato com Thurzo: haveria um rápido julgamento arranjado por Thurzo antes que o rei pudesse agir. Elizabeth Bathory não seria levada a depor, mas seus cúmplices seriam julgados, e desse modo a propriedade poderia continuar com a família Bathory e não ser tomada pelo rei.
A estratégia funcionou. O Conde Thurzo planejou sua ação para o Natal, quando o Parlamento Húngaro estava em recesso, de modo que pudesse agir à vontade. Na noite de 29 de dezembro de 1610, o Conde Thurzo invadiu o Castelo Cachtice e encontrou diversos cadáveres mutilados por toda parte.
Thurzo nada informa ao Rei Matias II. O conde controlou todo o processo. O julgamento rapidamente organizado começou a 2 de janeiro de 1611, na cidade eslovaca de Bytca, no Castelo Thurzo, ao norte de Cachtice. Um segundo julgamento teve lugar a 7 de janeiro. Somente oficiais menores e camponeses participaram do primeiro julgamento, podendo Thurzo manipular todo o seu andamento. Não se permitiu a Elizabeth Bathory comparecer à corte, embora ela quisesse apresentar seus protestos de inocência. Seus cúmplices foram formalmente julgados e considerados culpados no segundo julgamento, durante o qual cerca de vinte jurados e juízes de primeiro grau ouviram os testemunhos. Funcionários da Igreja foram subornados para renunciar ao seu direito de interrogar a acusada, embora houvesse contra ela acusações de feitiçaria. Todas as tentativas do representante do rei para levar Bathory à cadeira dos réus fracassaram devido às hábeis manobras de Thurzo. Ele argumentou que se o tribunal tivesse de julgar Elizabeth Bathory isso equivaleria a manchar a honra das famílias Nadasdy e Bathory, e a um trauma para a nobreza húngara.
Os cúmplices de Bathory tiveram seus dedos arrancados com pinças em brasa, pelos executores. Foram então atirados vivos ao fogo. Elizabeth Bathory foi colocada sob prisão domiciliar, condenada a ser isolada num quarto do seu Castelo Cachtice, e a não ver nunca mais a luz do dia. A propriedade ficava a salvo nas mãos da família Bathory.
No fim de agosto de 1614, um dos carcereiros de Elizabeth Bathory quis vê-la. Espiando através de uma pequena abertura por onde ela recebia comida, viu a condessa morta. As autoridades húngaras tentaram apagar toda a memória da “Condessa Sangüinária”, o que conseguiram até que os documentos de sua condenação, conservados em arquivos secretos, fossem descobertos.
Há muitas ligações entre a família Bathory e Drácula. O comandante-em-chefe da expedição que repôs Drácula no trono da Valáquia, em 1476, foi o Príncipe Estêvão Bathory. Além disso, um feudo de Drácula passou às mãos dos Bathory, durante o tempo de Elizabeth. O lado húngaro dos antepassados de Drácula, a família Szilagy, podem ter relação com o Clã Bathory.

















JOHANNES CUNTIUS - O VAMPIRO DA SILÉSIA

No início do século XVII, Johannes Cuntius, vereador de Pentach, na Silésia, região localizada no nordeste da Alemanha, morreu pisoteado por um cavalo. Segundo relatos, no momento da sua morte, deu-se início a uma grande tempestade, interpretada por muitos como o primeiro sinal de um mau presságio. À noite, durante o seu funeral, um gato preto invadiu o recinto do velório e saltou sobre o seu corpo, arranhando o seu rosto, ocasião em que ocorreu outra grande tempestade, que perdurou até o momento do enterro de seu corpo.
Pouco tempo, após sua morte, acontecimentos estranhos começaram a ser registrados pelos moradores do vilarejo, inicialmente pelo vigia da cidade, que relatou ruídos estranhos vindos da casa de Cuntius, todas as noites, dando início a uma série de boatos sobre um fantasma com a sua voz. Outras histórias extraordinárias foram relatadas de outras residências. Muitos juravam que o defunto tinha se levantado do túmulo e estava aterrorizando as pessoas que conhecera em vida.
Uma empregada, por exemplo, relatou ter ouvido alguém cavalgando em volta da casa e depois para o dentro do edifício, abalando-o violentamente. Em outras noites, Cuntius apareceu e teve encontros violentos com antigos conhecidos, amigos e membros da família. Entretanto, a narrativa mais espantosa foi contada pela sua viúva, que afirmou que Johannes Cuntius entrou no seu quarto e exigiu dividir a cama com ela.
Como em outras aparições, Cuntius tinha uma presença física e uma força extraordinária. Numa ocasião, relata-se que arrancou dois postes firmemente enterrados no solo. Todavia, em outras ocasiões ele aparentemente operava de forma não-corporal, como um fantasma, e desaparecia subitamente quando era acesa uma vela em sua presença. Quem esbarrava com Cuntius fazia questão de ressaltar o seu cheiro horrível, além do extremo mau hálito. Um aldeão, tocado por ele, disse que a sua mão era fria como o gelo.
Todos começaram a desconfiar de vampirismo quando Johannes Cuntius começou a sugar o sangue das vacas, até a última gota. Numa tentativa de chamar a atenção, não somente de sua esposa mas como também de diversas mulheres de sua cidade, mostrou, também, seu poder em transformar leite em sangue. Os moradores da cidade, incapazes de encontrar uma solução para essas ocorrências, resolveram finalmente verificar o cemitério.
Depois do terror inicial, o túmulo de Johannes Cuntius foi examinado por uma comissão de moradores, que registraram a existência de vários buracos ao lado de sua cova, dando para o local de seu caixão, como se ele estivesse escapando por ali. Os buracos foram preenchidos, mas reapareceram na noite seguinte. Decidiram, então, que o seu túmulo deveria ser profanado. Cavaram, também, diversos outros túmulos. Todos os corpos estavam em adiantado estado de decomposição, exceto o de Cuntius.
Quando o caixão foi aberto, o cadáver apresentava um bom estado de conservação, embora já estivesse enterrado há mais de seis meses. Seu corpo ainda estava macio e flexível. Tentaram espetar uma estaca no defunto, mas a mão do morto agarrou o bastão firmemente. Para maior espanto, ainda abriu e fechou os olhos, quando uma veia do seu pé foi puncionada. O sangue espirrou tão fresco, quanto de uma pessoa viva.
Depois do alvoroço inicial, foi convocada uma audiência judicial formal, sendo pronunciado um julgamento contra o cadáver, quando foi atestado, pelo tribunal, a existência de um vampiro na cidade. Foram dadas ordens para que o corpo fosse queimado. Mas o corpo também resistiu à chamas, aumentando o pânico entre os aldeões. Somente após a intervenção de um padre exorcista, alguns homens decidiram picar completamente o corpo do vampiro. Cortado em pedacinhos, finalmente, ardeu nas chamas até virar pó. Seu executor ainda relatou que o seu sangue que lhe escorrera estava fresco e puro. Após a cremação, a figura de Johannes Cuntius nunca mais foi vista, perambulando pela Silésia.

SEDE DE SANGUE ATRAVÉS DOS TEMPOS

Relatos de vampiros vivos, como Elizabeth Bathory, surgiram por volta da metade do século XIX e foram fortemente relacionados à necrofilia. Por sua vez, a grande maioria das pessoas rotuladas de vampiros vivos ou vampiros reais, durante os últimos duzentos anos, manifestou sintomas do que os psicólogos chamam de hematomania, um fetiche de sangue. O prazer sexual e outras necessidades psicológicas dos indivíduos nessas condições são atendidos pelo consumo regular de sangue humano, às vezes em conjunto com o consumo de carne humana.
Alergologistas americanos da Universidade de Idaho já afirmaram que a ânsia por sangue é fruto de uma dependência alérgica de alimentos ricos em proteínas. Os médicos utilizam a classificação clínica de “vampiro vivo” diagnosticando casos de dois tipos: aqueles em que há prova de que necessitam de sangue fresco e sadio devido ao seu próprio sangue anêmico, tal como em casos de grave anemia e outras doenças do sangue; e aqueles com necessidade psicológica de sangue devido uma vibração sexual ou erótica. Estes últimos vampiros sentem prazer, na verdade, em beber sangue.
Outra teoria para explicar o fenômeno do vampiro vivo é baseada numa doença, a pofiria congênita. Uma desordem relativamente rara do sangue é causada por um gene recessivo que leva à produção em excesso de porfirina, componente das células vermelhas do sangue.
O paciente que sofre de porfiria congênita torna-se extremamente sensível à luz, podendo desenvolver lesões na pele. Os dentes tornam-se cinzentos ou castanho-avermelhados, devido o excesso de porfirina.
Essa doença de vampiro pode ter predominado entre a nobreza oriental européia. Quinhentos anos atrás, os médicos ainda recomendavam a alguns nobres, para revigorar seu sangue, beber o sangue de seus súditos. Assim, quando um camponês declarava que havia um vampiro vivendo no castelo ele não se referia ao folclore, mas a um verdadeiro bebedor de sangue.
Presumivelmente, a maioria dessas pessoas que bebem sangue o obtém por meios legais, geralmente de um doador propenso a tal. Alguns, entretanto, enveredam para o crime, e alguns poucos entraram para a lista dos assassinos em série mais notórios do Ocidente.
A moderna corrente de crimes vampíricos relacionados a hematomania tem seu precedente na carreira da Condessa Elizabeth Bathory (1560-1614), que supostamente matou mais de seiscentas e cinqüenta pessoas para obter seu sangue. Entretanto, vale destacar neste breve parêntesis que os relatos sobre vampiros são, na verdade, bem anteriores. Ela é documentada na antiga Babilônia, no Egito, em Roma, na Grécia e na China. Existem em civilizações completamente separadas, entre as quais quaisquer influências culturais eram impraticáveis. Há mais de 2.000 anos, os jovens gregos eram aconselhados a tomar cuidado com a empusa ou lâmia, vampiros eróticos que os seduziam com o intuito de devorá-los. Na Idade Média, o cristianismo deixou arraigadas crenças de que, se uma pessoa morria excomungada, suicidava-se ou fazia um pacto com o diabo, era condenada a viver dentro de sua tumba, saindo à noite para sugar o sangue dos parentes.
Durante o século XVIII, vampiros atormentavam outras terras européias. Um vampiro famoso chamado Peter Poglojowitz surgiu em uma pequena aldeia da Hungria, após a sua morte, em 1725. Seu corpo foi desenterrado e encontraram sangue fresco escorrendo de sua boca e seu corpo não aparentava os sinais de rigor mortis ou de decomposição. Assim, os camponeses locais imaginaram que se tratava de um vampiro e queimaram o corpo.
Em 1732, o caso do vampiro sérvio Arnold Paole, de Medvegia, estimulou a pesquisa científica do século XVIII sobre vampiros. Em pleno ápice do racionalismo, em 1746, um erudito dominicano, Dom Augustin Calmet, escreveu um tratado sobre vampiros na Hungria e na Morávia.
Na Hungria, epidemias incontroláveis, à época, de doenças como a varíola, eram freqüentemente ligadas à ação de sugadores de sangue. E a caça aos vampiros era implacável. Tribunais especiais eram montados, e dezenas de suspeitos interrogados. Cadáveres não eram enterrados sem antes ficarem expostos com o fim de verificar se eles se decompunham mesmo. Tumbas eram abertas e, se o corpo não estava devidamente putrefato, estacavam-no. Sua cabeça era decepada.
Alguns registros de matadores vampíricos surgiram no século XIX. O caso mais antigo é o de um homem chamado Sorgel, um alemão que matou um homem na floresta e bebeu seu sangue na tentativa de se curar de epilepsia. Seu comportamento o levou à prisão e confinamento num asilo. Naquele mesmo ano, Antoine Léger matou uma menina de 12 anos, bebeu seu sangue e comeu seu coração. Depois de sua execução, seu cérebro foi examinado por patologistas.
Em 1849, no famoso Cemitério Père Lachaise, em Paris, onde muitos artistas e músicos célebres foram enterrados, relatórios circulam a respeito de misteriosas criaturas da noite que desenterraram e violaram cadáveres ali. Os jornais franceses chamaram o responsável de “O Vampiro de Paris”. Armadilhas foram preparadas e as autoridades rastrearam o culpado. Era um belo rapaz de aparência normal, um sargento louro chamado Victor Bertran. No seu julgamento, em 10 de julho de 1849, ele afirmou que sua obsessão começara numa igreja de aldeia onde testemunhara um funeral, e havia crescido nele, desde então, o incontido desejo de desenterrar os cadáveres para dividi-los em pedaços.
Fritz Haarmann (1879-1924) é outro matador vampírico famoso. Na época de sua detenção e execução em 1924, na Alemanha, ele tinha matado e canibalizado mais de vinte pessoas. Entretanto, durante os últimos anos, ele também começara a morder e a sugar o sangue de suas vítimas. Um contemporâneo de Haarmann, Peter Kürten (1883-1931), também alemão matou primeiramente um menino de 9 anos. Matou novamente em 1913. Em 1929 iniciou uma série de crimes de violação de túmulos, nos quais esfaqueava e mutilava suas vítimas. No auge de sua farra criminosa, em agosto daquele ano, matou nove pessoas, a maioria moças. Sua excitação inicial ao matar alguém deu lugar a uma fixação em sangue. Começou a beber o sangue de suas vítimas, continuando o processo até que o sangue que consumia o deixou doente. Numa ocasião, mordeu e bebeu através da ferida. Finalmente detido em 1930, foi executado no ano seguinte.
No decorrer do século XX surgiram muitas outras ocorrências e relatos de criminosos vampíricos. Pessoas com essa estranha compulsão não deixaram de existir, pelo contrário, a cada ano surge alguém, em algum lugar, acusado de atacar pessoas furtivamente para sugar seu sangue, como os que veremos a seguir:
1861 - Martin Dumollard de Monthuel, França, foi sentenciado por assassinar diversas meninas cujo sangue bebeu. Foi executado.
1872 - Vincenzo Verzeni de Bottanaucco, Itália, foi sentenciado à prisão perpétua em dois casos de assassinato e quatro por tentativa de assassinato. Confessou que beber o sangue das vítimas lhe dava imensa satisfação.
1892 - Exeter, Inglaterra. Ocorreu uma história incrível. A família Brown foi vítima de uma espécie de maldição, e várias mortes a atingiram. Quando um dos filhos, Edwin, começou a dar sinais de fraqueza, após a morte de sua mãe e de suas duas irmãs, e nenhum remédio o ajudava, concluiu-se o pior: ele deveria estar sendo vampirizado por uma das mulheres mortas. Decidiu-se exumar os corpos, e três caixões foram tirados da cova no cemitério local. Dois deles continham apenas esqueletos; mas o terceiro, da irmã Mercy, ao ser aberto, apavorou os presentes. Mercy estava exatamente com o aspecto de quando fora enterrada e ainda havia sangue em seu coração. Não houve dúvidas: o coração foi reduzido a pó (uma maneira original de eliminar vampiros) com um preparado químico especial. Mas Edwin morreu assim mesmo.
1897 - Joseph Vacher de Bourg, França, enquanto passeava a pé pelo país, matou pelo menos doze pessoas e bebeu seu sangue através das mordidas feitas em seus pescoços. Foi finalmente capturado, condenado e executado.
1916 - Após uma notificação de que Bela Kiss, de Czinkota, Hungria, tinha morrido na I Guerra Mundial, os vizinhos fizeram uma busca em sua propriedade e acharam os corpos de 31 indivíduos, todos estrangulados. Em cada cadáver havia uma ferida no pescoço e o sangue de todos eles tinha sido drenado.
1920 - O Barão Roman Von Sternberg-Ungern, um nobre da Rússia pós-revolucionária, bebia sangue humano, ocasionalmente, aparentemente em conexão com a crença de que ele era uma reencarnação de Genghis Khan. Por seus hábitos (e por outros motivos), entrou em conflito com o novo governo e foi executado.
1924 - Fritz Haarmann foi acusado de vampirismo em Hanover.
1931 - Foi enforcado Peter Kürten, conhecido como o Vampiro de Dusseldorf, Alemanha. Ele assassinou pelo menos nove mulheres e crianças para sugar seu sangue.
1940 - Durante a década de 1940, John Haigh operava em sua casa em Londres. Ali ele matava suas vítimas, mulheres, drenava-lhes o sangue e se desfazia dos corpos numa tina de ácido sulfúrico. Foi condenado à morte em 1949.
1947 - Elizabeth Short, de Hollywood, Califórnia, foi assassinada e seu corpo desmembrado. Exames posteriores mostraram que o sangue tinha sido drenado de seu corpo.
1952 - Estelita Forencio de Pacce, província de Iloilo, Filipinas, mordeu várias pessoas e chupou-lhes o sangue através da ferida. Foi detida por tentativa de assassinato. Ela disse que adquiriu a ânsia de seu marido e que sofria esses ataques regularmente.
1959 - Salvatore Agron, um morador de Nova Iorque, de 16 anos, foi condenado por vários assassinatos que levava a cabo durante a noite vestido como um vampiro, no estilo Bela Lugosi. No tribunal alegou que era vampiro. Foi executado por seus crimes.
1960 - Florencio Roque Fernandez, de Manteros, Argentina, foi detido depois que quinze mulheres disseram que ele tinha invadido seus quartos, que as tinha mordido e bebera seu sangue.
1963 - Alfred Käser, de Munique, Alemanha, foi julgado por ter matado um menino de 10 anos. Bebeu o sangue do menino, pelo pescoço, depois de esfaqueá-lo.
1967 - Os Estados Unidos foram o cenário de um assassino vampiro, o marinheiro James Brown. Brown foi descoberto a bordo de seu barco, um pesqueiro a caminho de Labrador, sugando o sangue do corpo de um tripulante que ele tinha assassinado. Ele já havia matado e sugado um outro marinheiro. Foi detido e mandado de volta para Boston. Brown foi sentenciado à prisão perpétua, onde matou pelo menos mais duas pessoas, bebendo-lhes o sangue. Após o segundo assassinato, foi enviado para o National Asylum, em Washington D.C., onde ficou confinado em uma cela acolchoada até morrer.
1969 - Stanislav Modzieliewski, de Lodz, Polônia, foi condenado por sete assassinatos e seis tentativas de assassinato. Uma das testemunhas de acusação era uma mulher que ele tinha atacado e que fingiu estar morta enquanto ele bebia seu sangue. Modzieliewski confessou que achava o sangue delicioso.
1971 - Wayne Boden foi detido por uma série de assassinatos que começaram em 1968. Em cada um dos casos ele tinha algemado a vítima e estuprado, para em seguida mordê-la e chupar o sangue de seu seio.
1972 - Colômbia. Crianças foram raptadas e tiveram seu sangue chupado por hippies vampiros, segundo denunciaram moradores da cidade de Honda. Cinco crianças teriam sido vítimas dos adeptos do blood power, e mais uma revelou ter sido seqüestrada no distrito vizinho de Espinal. Mas conseguiu escapar ilesa.
1973 - Caça aos vampiros em Calcutá - Cadáveres de mendigos surgiram misteriosamente nos becos dessa cidade indiana, no mês de maio. Tinham marcas de mordidas no pescoço, aparentemente produzidas por aparelhos mecânicos (a polícia não esclareceu de que tipo). De qualquer modo, assim que soube da onda vampiresca, a população ficou em pânico e saiu às ruas armada de tacapes e estacas de madeira. Cinco maltrapilhos com aparência suspeita acabaram linchados pela multidão enfurecida, e outros 20 saíram feridos.
1973 - Kuno Hoffman, de Nurembergue, Alemanha, confessou ter matado duas pessoas, ter bebido seu sangue e ter desenterrado e bebido o sangue de vários cadáveres. Foi sentenciado à prisão perpétua.
1973 - Hora do espanto em Guarulhos, São Paulo - Este município também virou point dos discípulos de Drácula, naquele maio fatídico, quando o corpo de João Carlos da Costa foi encontrado, no bairro de Bonsucesso, com as tradicionais marcas de dentes no pescoço. Maria Nogueira, outra vítima, conseguiu salvar seu pescoço, após ser atacada repentinamente ao caminhar por uma rua escura. O atacante novamente sumiu como todo bom vampiro: sem deixar vestígios.
1974 - Vampiros do sol nascente - Cascavel, Paraná, mês de abril. Os principais suspeitos de vampirismo eram japoneses. Segundo depoimentos da época, eles usavam uma kombi para seqüestrar crianças e extraíam- lhes sangue com uma seringa. As vítimas eram então abandonadas, desmaiadas. A história assustou tanto os moradores _embora a polícia negasse tudo_, que algumas escolas fecharam durante alguns dias, para evitar expor seus alunos.
1974 - Depoimento de um vampiro: _“Eu estava deitado no sofá outra noite, lendo um livro, e de repente veio aquela ânsia terrível de sangue. Eu sentia que tinha que sair e achar alguém para morder. Mas consegui me controlar”. Palavras do inglês Carl Johnson, um vampiro moderno confesso. Na época ele vivia próximo do Cemitério de Exeter.
1974 - No mesmo ano, uma americana que se identificou apenas como Lilith contou que na adolescência costumava vagar pelas ruas de sua cidade, em noites de lua cheia, com sede de pescoços. Uma vez adulta, o vício sossegou. Mas ela afirmou que tinha medo de que numa noite de lua cheia acordasse seca novamente, ao lado do marido, na cama. Não sabe o que poderia acontecer.
1975 - Os irmãos sangüinários - Jan Marchwicki instigou seu irmão Zdzislaw Marchwicki, e este matou uma mulher em Katowice, Polônia, no mês de julho. Depois, bebeu o sangue dela e gostou. Sacrificou e sugou outras treze, não sem antes forçá-las a fazer sexo. Zdzislaw e, seu irmão e guru, Jan, foram enforcados.
1978 - Ocorrência em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Um menino foi atacado por um homem negro e barbudo que, segundo seu depoimento, picou suas mãos com uma seringa e recolheu o sangue numa garrafa, durante 30 minutos. Depois, deixou-o fugir e sumiu do mapa.
1977 - Richard Chase começou sua onda de crimes em Sacramento, Califórnia, em dezembro de 1977, quando matou um homem a tiros. Em janeiro de 1978, matou novamente e dessa vez bebeu o sangue da vítima. Nos anos seguintes matou diversos animais e bebeu seu sangue na esperança de que isso melhoraria sua saúde. Depois de detido, atravessou um complexo processo legal, inclusive uma avaliação de sua sanidade. Julgado e condenado por múltiplos assassinatos, foi sentenciado à morte, mas enganou o executor ao cometer suicídio.
1979 - Richard Cottingham foi detido por estuprar, esfaquear e beber o sangue de uma jovem prostituta. Foi descoberto mais tarde que ele havia matado várias mulheres e que na maioria dos casos tinha mordido as vítimas e lambido o sangue que lhes escorria.
1980 - James P. Riva matou sua avó a tiros e bebeu o sangue que saía do ferimento. Disse que muitos anos antes tinha começado a ouvir a voz de um vampiro, que lhe disse finalmente o que fazer, prometendo-lhe vida eterna.
1982 - Julian Koltun, de Varsóvia, Polônia, foi sentenciado à morte por estuprar sete mulheres e por beber-lhes o sangue. Matou duas dessas mulheres.
1984 - Renato Antonio Cirillo foi julgado por estupro e por morder, em estilo vampírico, mais de quarenta mulheres.
1984 - Vampiros felinos - Em fevereiro, outra onda de mortes ligadas a bebedores de sangue se abateu sobre Banda Aceh, na Indonésia. 23 mulheres de 18 a 20 anos tiveram seu sangue sugado. O detalhe mais curioso da história é que os jornais noticiaram que os vampiros não se transformaram em morcegos, e sim em gatos, especialmente pretos, ao contrário do que reza a lenda. O resultado era de se esperar. A população saiu às ruas e realizou uma verdadeira matança de gatos. E não adiantou, pois o vampiro continuou atacando. A solução foi trancar as mulheres em casa até o monstro se saciar ou desistir.
1985 - John Crutchley foi detido por estuprar uma mulher. manteve-a prisioneira e bebeu grande parte de seu sangue. Foi descoberto mais tarde que ele estava bebendo o sangue de doadores complacentes há muitos anos.
1987 - Em um parque de San Francisco, um freqüentador que praticava cooper foi seqüestrado e mantido por uma hora em um furgão, enquanto um homem bebia seu sangue.
1988 - Uma mulher desconhecida apanhou pelo menos seis homens durante o verão no bairro de Soho, em Londres. Depois de voltar para casa com uma vítima, colocava sedativos em sua bebida. Enquanto a vítima estava inconsciente, cortava-lhe o pulso e sugava seu sangue. A mulher nunca foi detida.
1988 - Nosferatus adolescentes - Don Gall resolveu acampar com quatro rapazes em St. Cloud, Minnesota. Ao que parece foi autoritário demais com eles e se deu mal. Dias depois, o corpo de Gall apareceu boiando no Rio Mississipi, e os rapazes foram presos. Confessaram ser vidrados em vampiros e pelo menos dois deles não resistiram ao chamado secular de Drácula, embriagando-se do sangue da vítima.
1991 - Marcelo de Andrade, do Rio de Janeiro, matou onze meninos, após ter bebido o sangue e comido parte de suas carnes.
1991 - Tracy Wigginton, de Brisbane, Austrália, foi condenada pelo assassinato vampírico de Clyde Blaylock. Ela esfaqueou sua vítima e em seguida bebeu seu sangue. Como lésbica, Wigginton alegou que era uma vampira e que bebia sangue de suas amigas regularmente.
1992 - Andrei Chikatilo, de Rostov, Rússia, foi sentenciado à morte depois de confessar o assassinato de cerca de 55 pessoas que ele vampirizou e canibalizou.
1992 - Deborah Joan Finch foi julgada pelo assassinato de um vizinho. Esfaqueou a vítima 27 vezes e em seguida bebeu o sangue que fluía.
A vampira de Jacarta - Bem, os maridos de Tala, 25 anos, descobriram o que acontece quando se está casado com uma superdiscípula do Conde Drácula. E exatamente no que a mulher deles se transformava após o casamento. Não admira que esta moradora de Jacarta, na Indonésia, tenha enviuvado de cinco homens, todos atacados por forte anemia, que os deixou feito bonecos de cera. Os próprios pais da moça testemunharam contra ela, presa por suspeita de feitiçaria e vampirismo, dizendo que seus genros enfraqueciam a olhos vistos. De manhã, após uma noite com Tala, saíam sempre exaustos. O corpo do quinto marido, examinado por um curandeiro local, não tinha uma gota de sangue venoso. Para o curandeiro, Tala tinha o espírito dominado por Negasjatingaron, um vampiro-mor das redondezas, a respeito de quem há lendas conhecidas no lugar.
Bebida sublime - E o que dizer de um vampiro que prefere sangue de carneiro a sangue humano? E ocaso do espanhol Rafael Pintos, de Pontevedras, que acredita ser o sangue humano um verdadeiro depósito de doenças para os vampiros. Beber sangue, para ele, é uma experiência sublime e, quando morrer, acredita, vai ser capaz de atravessar paredes, como outros colegas. Rafael, ao contrário de outros vampiros de carne e osso, é honesto: pediu humildemente permissão à Prefeitura de Pontevedras para beber o sangue de animais abatidos no matadouro da cidade e vagar à noite pelo cemitério local. O pedido foi indeferido. O vampiro é sempre um incompreendido, afinal.
2002 - O vampiro de Curitiba, Paraná. A história, muito curiosa e atual, ficou conhecida como O Maníaco dos Pontos Centrais de Curitiba, que atormenta as mulheres nos pontos de ônibus, localizados nas praças do centro desta cidade . Algumas vítimas dizem que este maníaco é um vampiro e outras dizem que ele desaparece pelas esquinas. Daniele, a primeira vítima, era uma estudante de 19 anos, que numa noite de abril de 2002, por volta das 23 horas, estava na Praça Rui Barbosa, esperando um ônibus, sozinha, quando repentinamente, um rapaz de pele escura, com barba e com uma bolsa azul, encostou nela e indagou, num tom de voz muito baixo: _“Você é casada?” Assustada, Daniele deu um passo para a direita, quando foi ameaçada por ele: _“Se der mais um passo ou se negar a falar comigo, morderei o seu pescoço”. Após ouvir estas palavras, a jovem percebeu que este louco tinha os dentes caninos muito afiados, como os de um vampiro. E com muito medo, foi obrigada a escutar ofensas que vieram da boca deste meliante, até a chegada do ônibus, quando ele saiu correndo. No mês de agosto, do mesmo ano, por volta das 22:30 horas, a Professora Cristina, também estava desacompanhada, esperando um ônibus num ponto da Praça Tiradentes, quando presumivelmente, por semelhança, o mesmo rapaz que importunou Daniele, aproximou-se dela e falou: _“Cortarei as suas tripas!” A Professora Cristina, petrificada, apenas olhava assustada para o seu agressor, que começou a falar outras barbaridades ofensivas. Porém, Roberto, o irmão da vítima, também chegou ao mesmo local e perguntou ao maníaco: _“O que está acontecendo aqui?” Desarticulado, pela surpresa, o agressor fugiu correndo, sendo perseguido pelo irmão da professora. Porém, quando o maníaco dobrou uma esquina próxima, pouco movimentada, o irmão de Cristina, que corria a poucos metros atrás dele, não o avistou mais. A rua estava praticamente deserta. Desapareceu em segundos, como se tivesse evaporado. Também numa noite do mesmo mês de agosto, por volta das 22 horas, a vendedora de sapatos Valderez, encontrava-se sozinha, num ponto de ônibus da Praça Rui Barbosa, quando o mesmo maníaco aproximou-se dela, dizendo ofensas e fazendo ameaças semelhantes. Ela ficou desesperada e chorou muito. Este monstro só a deixou em paz quando ela entrou dentro do coletivo. Para a polícia da capital paranaense, este maníaco, que incomoda mulheres desacompanhadas, em pontos de ônibus, têm sérios problemas mentais e uma certa aura de mistério.

O VAMPIRO ORIGINAL E OUTROS TIPOS DE VAMPIROS

O VAMPIRO ORIGINAL

Existem inúmeras lendas conhecidas sobre vampiros, que se perdem através do tempo. Descrições de vampiros são encontradas nas antigas cerâmicas da Babilônia e da Assíria, milhares de anos antes de Cristo. Um desses relatos, datado de 125 a.C., é uma das principais histórias conhecidas sobre vampiros, ocorrida na Grécia antiga. A Empusa ou Lâmia, um vampiro horrível, meio homem-mulher-demônio alado, levava os jovens à morte para beber seu sangue e comer sua carne. Lâmia foi uma vez amada por Zeus, que enlouqueceu com o ciúme de sua esposa, Hera. Lâmia assassinou seus próprios filhos e vagava pela noite para matar os filhos dos humanos, por vingança. Lendas sobre vampiros se originaram no Oriente e viajaram para o Ocidente através das rotas de seda para o Mediterrâneo. De lá elas se espalharam por terras eslavas e pelos Montes Cárpatos. Os eslavos têm as lendas mais ricas sobre vampiros. Elas foram originariamente mais associadas com os iranianos e depois migraram para onde estão agora, por volta do século VIII. Quase na mesma época em que chegaram, começou o processo de cristianização, e as lendas de vampiros sobreviveram como mitos.
Mais tarde, os ciganos migraram para o oeste pelo norte da Índia, onde também existem um certo número de lendas sobre vampiros, e seus mitos se confundiram com os mitos dos eslavos que já existiam. Os ciganos chegaram na Transilvânia pouco tempo depois de Vlad III nascer em 1431. O vampiro aqui era um fantasma de uma pessoa morta, que na maioria dos casos fora uma bruxa, um mago ou um suicida.
Vampiros eram criaturas temidas, porque matavam pessoas ao mesmo tempo em que se pareciam com elas. Segundo as lendas, a única diferença era que eles não possuíam sombra, nem se refletiam em espelhos. Além disso, podiam transmudar sua forma para a de um morcego, o que fazia deles difíceis de se pegar. Durante a luz do dia dormiam em seus caixões, para a noite beber sangue humano, já que os raios eram letais para eles. O método mais comum era, pela meia noite, voar por uma janela na forma de um morcego e morder a vítima no pescoço de forma que seu sangue fosse totalmente sugado. Os vampiros não podiam entrar numa casa se não fossem convidados. Mas uma vez que eram poderiam retornar quando quisessem. Os vampiros eslavos não eram perigosos somente porque matavam pessoas, mas também porque suas vítimas, depois de morrerem, também se transformavam em vampiros. O lado mais forte do vampiro era que eles eram quase imortais. Apenas alguns ritos podiam destruí-los: Transpassar seu coração com uma estaca, decapitá-lo ou queimar seu coração. Esse tipo de vampiro ficou mais conhecido, especialmente após a edição do DRÁCULA, de Bram Stoker.

OUTROS TIPOS DE VAMPIROS

Através dos anos, houveram relatos de outros tipos de vampiros, com seus próprios pontos fortes e fracos. Aqui estão algumas das “raças” de vampiros mais conhecidas:

ASANBOSAM

Asanbosam são vampiros africanos. São vampiros normais exceto que possuem cascos ao invés de pés. Tendem a morder suas vítimas no polegar.

ASEMA

O Asema, o vampiro do Suriname, faz seus ataques à noite como uma bola de luz, também entrando por frestas.
BAITAL

Baital é uma raça de vampiro indiano. Sua forma natural é metade homem, metade morcego, tendo mais ou menos um metro e meio de altura.

BAOBHAN SITH

Baobhan Sith ou Buh-van she é uma fada-demônio escocesa, que aparece como uma jovem mulher e dançará com o homem que achar até que o mesmo se esgote, para depois se alimentar dele. Pode ser morta por ferro frio.

CANCHUS

Canchus ou Bumapmicuc, demônios pré-colombianos que sugavam o sangue dos jovens adormecidos de modo a partilhar sua vida.

CH'IANG SHIH

Na China, existem criaturas vampíricas chamadas Ch'Iang Shih. São criadas se um gato pular sobre o corpo de um cadáver. Eles se levantarão para a vida e podem matar com um bafo venenoso, além de drenarem o sangue dos vivos. Se um Ch'Iang Shih encontra uma pilha de arroz, ele tem que contar os grãos antes de passar. Sua forma imaterial é uma esfera de luz.

DEARG-DUE

Na Irlanda, muitos druidas falam do Dearg-Dues que, quando mortos, deveriam ser construído um monte de pedras sobre suas sepulturas. Os Dearg-Dues não mudam de forma.

EKIMINU

Ekiminus são malignos espíritos assírios, que reúnem uma condição de fantasma-vampiro, causados por um sepultamento impróprio. Eles são naturalmente invisíveis e são capazes de possuir humanos. Podem ser destruídos por armas de madeira ou por exorcismo.

KATHAKANO

Os vampiros cretas Kathakano são muito parecidos com o original, mas só podem ser mortos se forem decapitados e a cabeça fervida em vinagre.

KRVOPIJAC

Krvopijac são vampiros búlgaros e também são conhecidos como Obours. Eles se parecem com vampiros normais, mas têm apenas uma narina e a língua longa e pontiaguda. Eles podem ser imobilizados se colocadas rosas em seus sepulcros. Podem ser destruídos se conjurada uma palavra mágica numa garrafa e a mesma atirada numa fogueira.

LAMIA

Lamia é originária da Roma e Grécia antiga. São exclusivamente fêmeas, sendo geralmente metade humana, metade animal, quase sempre uma cobra, e sempre na parte inferior do corpo. Elas comem a carne de suas vítimas assim como bebem seu sangue. As lamias podem ser atacadas e destruídas com armas normais. Também são conhecidas pelo nome de Empusa.

NOSFERATU

Nosferatu é outro nome para o vampiro original, que também é chamado de vampyre ou vampyr.
RAKSHASA

Rakshasa é uma poderosa vampira e feiticeira indiana. Geralmente aparenta um ser humano com características animais, como garras, presas e olhos em fenda, ou animais com características humanas: pés, mãos, nariz chato, etc. O lado animal é muito comumente um tigre. Elas comem a carne de suas vítimas, além de beber seu sangue. As Rakshasas podem ser destruídas por fogo extremo, luz do sol ou exorcismo.

STRIGOIUL

É o vampiro romano. Strigoiuls são muito parecidos com o vampiro original, mas preferem atacar em bando. Eles podem ser destruídos se for posto alho em sua boca ou removendo-se o coração.

SUCCUBUS

Esta é uma raça menos conhecida de vampiras européias. A maneira mais comum de se alimentarem é tendo relações sexuais com suas vítimas, deixando-as exaustas e depois se alimentando da energia dispersada no ato sexual. Elas podem entrar numa casa sem serem convidadas e tomar a aparência de qualquer pessoa. Geralmente visitarão suas vítimas mais de uma vez. A vítima de uma Succubus interpretará as visitas como sonhos. A versão masculina de um Succubus é um Incubus.

VLOKOSLAK

Vampiros sérvios também chamados de Mulos. Eles normalmente aparentam-se com pessoas trajadas de branco, com hábitos tanto diurnos, quanto noturnos. Podem assumir a forma de um cavalo ou de uma ovelha. Comem suas vítimas, assim como bebem seu sangue. Podem ser destruídos se decepados os dedos dos pés ou com um prego transpassado no pescoço.

UPIERCZI

Esses vampiros têm origem na Polônia e na Rússia e também são chamados de Viesczy. Possuem um ferrão sob a língua ao invés de presas. Ficam ativos a partir da meia noite e só podem ser destruídos por fogo extremo. Quando incendiados, seu corpo irá explodir, dando origem a centenas de pequenos e repugnantes animais, como larvas, ratos, etc. Se algumas dessas criaturas escapar, então o espírito do Upierczi escapará também, e retornará para reclamar vingança.

O VAMPIRO COMUM

É impossível dar um perfil completo dos vampiros como na literatura, poque existem muitas versões diferentes deste mito. Todas as habilidades ou fraquezas que se possa imaginar já foram atribuídas a vampiros em algum ponto.
AS HABILIDADES MAIS COMUNS

Metamorfose
A maioria dos vampiros têm a habilidade de se metamorfosear em animais, o que normalmente seria um morcego, um rato, um lobo, um gato, ou uma aranha. Muitos vampiros podem até transformar seus corpos numa nuvem de neblina.

Força
Outra típica habilidade vampírica é a força e os sentidos muito além das capacidades humanas.

Controle
Esta é a habilidade mais rara das três. A habilidade de hipnotizar e controlar outros animais, os quais são tipicamente os mesmos nos quais têm a capacidade de se transformar.

AS FRAQUEZAS MAIS COMUNS

Os Caixões
Quase todos os vampiros têm que dormir em seus caixões ou ataúdes durante o dia. Originalmente os caixões eram feitos de forma que os animais não pudessem se alimentar do corpo.

Luz Solar
Quase todos os vampiros são muito sensíveis aos raios solares. Alguns são enfraquecidos por eles e outros são até feridos ou mortos. O DRÁCULA de Bram Stoker era, por exemplo, imune à luz do sol.

Símbolos Religiosos
Na maioria dos casos, apenas o símbolo não é suficiente para ferir um vampiro. O exorcista necessita ter uma grande fé no símbolo que empunha e em sua eficiência como repelente de demônios. Em alguns casos, o símbolo não precisa nem ser religioso. O exemplo vem de um filme da década de 1970, em cujo um hippie afasta um vampiro apenas empunhando sua maleta. Embora, de argumento cômico, foi a fé e não o símbolo que fez a diferença.

Sem reflexo
Inúmeros relatos afirmam que os vampiros não refletem sua imagem em espelhos. A razão era porque se acreditava que o reflexo de uma pessoa num espelho fosse o reflexo de sua alma, o que era algo que se acreditava que vampiros não possuíam. Isto mais tarde deu origem ao fato de que vampiros não aparecem em fotos e também não possuem sombra. Poucos vampiros podem ser mortos se forem postos entre dois espelhos, porque seriam supostamente atirados à eternidade.

Água Corrente
Vampiros não podem atravessar água corrente. A razão é ligada ao fato dos vampiros não possuírem reflexo, porque num certo ponto do tempo, onde esta crença nasceu, a maioria dos espelhos não eram melhores do que água parada.

AS FORMAS MAIS COMUNS DE SE MATAR UM VAMPIRO

Estaca de Madeira
Tão comum quanto a sensibilidade à luz solar, é que um vampiro pode ser morto se transpassada uma estaca em seu coração. Algumas lendas dizem que a estaca têm que ser de um certo tipo de madeira, geralmente carvalho, espinheiro branco, bordo ou a faia negra, e alguns dizem que a estaca deve atravessar o coração num único golpe. A razão para isto está no fato de que antigamente se acreditava que o coração era o centro de vida e poder.

Decapitação
Muitas vezes isto tinha que ser feito com a pá de um coveiro. A razão é a mesma da estaca de madeira, porque o cérebro era o segundo centro da vida. Se você cortar a cabeça de um vampiro, estará removendo o cérebro de um vampiro de seu corpo, removendo então do seu centro da vida.

Fogo extremo
Atear fogo num vampiro parece ser um método muito comum e quase universal de se livrar de um vampiro.

Símbolos Cristãos
De acordo com a crença cristã, veio à idéia que vampiros poderiam ser mortos pelos meios da cruz e da água benta, porque eles foram postulados por Leo Allatius, por acreditarem serem eles relacionados a Satan.

Enterrar de bruço
Se existe a suspeita de que alguém está para se tornar um vampiro, é possível prevenir a mudança enterrando o corpo com a cabeça virada para baixo.

AS FORMAS MAIS COMUNS DE SE TORNAR UM VAMPIRO

Animais pulando em cima do cadáver
Se uma pessoa morrer e um animal, normalmente um gato, pular em cima do corpo, antes que ele tenha sido propriamente sepultado, a pessoa pode se tornar um vampiro. Na Romênia isso poderia ser curado, pondo um pedaço de ferro dentro das mãos do cadáver, ou pondo alguns espinhos brancos no caixão.

Cabelo vermelho
Na mitologia grega era comum que pessoas de cabelos vermelhos, depois da morte, se tornariam vampiros. Isso transcende a crença de que Judas Iscariotes tinha cabelos vermelhos.

Outras formas comuns
- Suicídio
- Ser um mago ou uma bruxa
- Ser o sétimo filho
- Ser mordido por um vampiro
- Beber o sangue de um vampiro
- Ser a vítima de um assassinato por vingança
- Um cadáver que foi refletido num espelho
- Não tendo sido sepultado propriamente

A CENA VAMPÍRICA

A História dos Vampiros na Literatura, Teatro e no Cinema
O primeiro conto de vampiro publicado data de 1734. É um poema anglo-saxão chamado THE VAMPYRE OF THE FENS (O Vampiro do Pântano). Para o futuro existem diversas outras obras literárias sobre vampiros, como JOHN POLIDORI'S THE VAMPYRE (1819); THOMAS PREST 'S VARNEY THE VAMPIRE (1847), que eram impressos numa revista semanal e teve 220 capítulos; SHERIDAN LE FANU'S CARMILLA (1872); BRAM STOKER'S DRACULA (1897); VICTOR ROMAN'S FOUR WOODEN STAKES (1925); THE VAMPIRE - A CASEBOOK - Alan Dundes - The University of Wisconsin Press; O QUE É VAMPIRO? - José Luiz Aidar e Márcia Maciel - Editora Brasiliense; VAMPIRE - THE COMPLETE GUIDE TO THE WORLD OF THE UNDEAD - Manuela Dunn Mascetti - Penguin Studio by Penguin Books; VAMPIRES, BURIAL AND DEATH - FOLKLORE AND REALITY - Paul Barber - Yale University Press New Haven an London; O VAMPIRISMO - SÉRIE ENIGMA DE TODOS OS TEMPOS - Robert Amberlain - Livraria Bertrand; REVISTA INCRÍVEL - Ano II - Nº 13 - Agosto de 1993; O LIVRO DOS VAMPIROS - A ENCICLOPÉDIA DOS MORTOS VIVOS - J. Gordon Melton - Editora M. Books do Brasil, 1995; e HISTÓRIA DOS VAMPIROS - AUTÓPSIA DE UM MITO - Claude Lecouteux, Editora Unesp, 2005. Recentemente o livro ANNE RICE'S VAMPIRE CHRONICLES, contendo crônicas famosas sobre vampiros, deu origem aos filmes ENTREVISTA COM O VAMPIRO e A RAINHA DOS CONDENADOS.

O VAMPIRO NO CINEMA

Houveram muitos filmes e peças de teatro baseados nessa literatura, especialmente DRÁCULA, de Bram Stoker , entre tantos outros:

A DANÇA DOS VAMPIROS
Direção de Roman Polanski, com Jack MacGowran, Roman Polanski, Alfie Bass, Jessie Robins, Sharon Tate, Ferdy Mayne e Iain Quarrier. Gênero: Comédia. O Professor Abronsius, especialista em vampiros, decide ir até a Transilvânia para estudá-los e, se possível, combatê-los.
A HORA DO ESPANTO
Direção de Tom Holland, com Chris Sarandon, William Ragsdale, Amanda Bearse, Roddy McDowall, Stephen Geoffreys e Jonathan Stark. Gênero: Terror. Charles Brewster, um jovem de 17 anos aficcionado por filmes de terror - e em particular pelo programa de TV Fright Night, apresentado por um veterano ator especializado em papéis de vampiro, Peter Vincent, descobre que o seu novo vizinho, Jerry Dandrige, na verdade também é uma criatura da noite, sedenta de sangue alheio. Ele recorre ao decadente ator como sua última esperança de conseguir auxílio, tornando-se caçador de vampiros.
A MARCA DO VAMPIRO
Direção de Tod Browning, com Bela Lugosi, Lionel Barrymore, Elizabeth Allan, Lionel Atwill, Jean Hersholt, Henry Wadsworth e Donald Meek. Gênero: Terror. Baseado no romance Drácula, de Bram Stoker, ambientando a história entre Londres e o centro da Europa, mais precisamente numa região conhecida como Transilvânia.
A RAINHA DOS CONDENADOS
Da obra de Anne Rice, direção de Michael Rymer, com Stuart Townsend, Aaliyah, Vincent Perez e Lena Olin. Gênero: Suspense. Transformado em uma estrela do rock, a música do vampiro Lestat acaba despertando a rainha de todos os vampiros, que tem por objetivo destruir a Terra. Para combatê-la, os demais vampiros imortais também despertam de seu sono.
A SOMBRA DO VAMPIRO
Direção de E. Elias Merhige, com John Malkovich e Willem Dafoe. Gênero: Suspense. O que poderia acontecer se o principal ator de um filme de terror fosse realmente um vampiro? Inspirado na filmagem de “Nosferatu”, em 1922.
AMOR A PRIMEIRA MORDIDA
Direção de Stan Dragoti, com George Hamilton, Susan Saint James, Richard Benjamin e Arte Johnson. Gênero: Comédia. O temível Conde Drácula e seu fiel servo Renfield são obrigados pelo governo romeno a abandonar o castelo em que moram, na Transilvânia. A dupla decide se mudar para a agitada cidade de Nova York.
BLOODSTORM
Gênero: Terror. Trilogia inteiramente filmado na Romênia, conta à história de uma disputa entre vampiros.
CONDE DRÁCULA
Direção de Jesus Franco, com Christopher Lee, Fred Williams, Paul Müller, Herbert Lom, Soledad Miranda, Klaus Kinski, Maria Rohm e Jack Taylor. Gênero: Terror. Baseado na obra “Drácula” de Bram Stoker.
DRÁCULA
Direção de Tod Browning, com Bela Lugosi, Edward Van Sloan, Dwight Frye e Helen Chandler. Gênero: Terror. Nesta adaptação do grande clássico do horror, o Conde Drácula levanta-se em seu sombrio castelo nos Montes Cárpatos para trazer o terror aos habitantes de Londres, na Inglaterra.
DRÁCULA 2000
Direção de Patrick Lussier, com Christopher Plummer e Jonny Lee Miller. Gênero: Terror. Uma adaptação para os tempos atuais da clássica história do Conde Drácula, inspirado em “Drácula” de Bram Stoker.
DRÁCULA II - A ASCENÇÃO
Direção de Patrick Lussier, com Jason Scott Lee, Craig Sheffer, Jason London, Brande Roderick e Khary Payton. Gênero: Terror. Continuação de Drácula 2000, inspirado em “Drácula” de Bram Stoker para uma versão em tempos atuais.
DRÁCULA DE BRAM STOKER
Direção de Francis Ford Coppola, com Gary Oldman, Winona Ryder, Anthony Hopkins e Keanu Reeves. Gênero: Suspense. Adaptação do livro de Bram Stoker, mostrando a busca do Conde Drácula pela reencarnação de sua amada.
DRÁCULA, O PRÍNCIPE DAS TREVAS
Adaptado da obra “Drácula” de Bram Stoker e direção de Terence Fisher. Com Christopher Lee e Peter Cushing, como Van Helsing. Gênero: Terror. Neste interessante filme, Drácula não diz uma só palavra, apenas alguns grunhidos e gemidos.
ENTREVISTA COM O VAMPIRO
Da obra de Anne Rice, direção de Neil Jordan, com Tom Cruise, Brad Pitt, Antonio Banderas, Stephen Rea, Christian Slater e Kirsten Dunst. Gênero: Suspense. Em pleno século XX, um vampiro concede uma entrevista a um jovem repórter, contando como foi transformado em uma criatura das trevas pelo vampiro Lestat, na Nova Orleans do século XVIII.
FOME DE VIVER
Dirigido por Tony Scott, com Catherine Deneuve, David Bowie e Susan Sarandon. Gênero: Suspense. Uma vampira mantém-se viva graças ao sangue de seus amantes. Quando um deles envelhece rapidamente, ela procura a ajuda de uma médica que nada sabe sobre vampirismo.

FORSAKEN (VAMPIROS DO DESERTO)
Direção de J. S. Cardone, com Kerr Smith, Brendan Fehr, Izabella Miko, Johnathon Schaech, Phina Oruche, Simon Rex, Carrie Snodgress e Alexis Thorpe. Gênero: Terror. Rapaz dá carona para jovem caçador de vampiros. Juntos de garota deixada à morte pelos seres, precisam encontrar o líder do grupo e matá-lo.
HORROR OF DRÁCULA (O VAMPIRO DA NOITE)
Direção de Terence Fisher. Com Chritopher Lee e Vincent Price. Gênero: Terror. Primeira das produções do extinto estúdio Hammer, especializado em filmes de horror, no período das décadas de 1950 a 1970, com o inglês Chritopher Lee no papel de Drácula. O sucesso foi tanto que gerou inúmeras seqüências inspiradas em “Drácula” de Bram Stoker.
NOSFERATU
Direção de F.W. Murnau, com Max Schreck, Greta Schröder, Karl Etlinger, John Gottowt, Ruth Landshoff e Georg H. Schnell. Gênero: Terror. De 1922, é a primeira adaptação cinematográfica de Drácula, da obra de Bram Stoker. Filme mudo, conta a história de um vampiro dos Cárpatos que decide se mudar para Bremen, espalhando o terror na região.
NOSFERATU, O VAMPIRO DA NOITE
Dirigido por Werner Herzog, com Klauss Kinski, Bruno Ganz e Isabelle Adjani. Gênero: Terror. De 1979 é um excelente remake do clássico expressionista do mestre W. F. Murnau. Poético e filosófico é uma obra-prima do horror, adaptada de “Drácula”, de Bram Stoker, conta a jornada de Jonathan Harker pelo reino de horror do Conde Drácula, um maligno vampiro obcecado pela esposa de Harker, a bela Lucy.
OS GAROTOS PERDIDOS
Dirigido por Joel Schumacher, com Jason Patric, Dianne Wiest, Corey Haim e Kiefer Sutherland. Gênero: Terror. Um garoto fanático por histórias de terror viaja com a família para a Califórnia, onde descobre que seu irmão é vítima de um grupo de jovens vampiros motociclistas.
PRÍNCIPE DAS TREVAS - A VERDADEIRA HISTÓRIA DE DRÁCULA
Direção de Joe Chappelle, com Rudolf Martin, Jane March, Christopher Brand, Peter Weller e Roger Daltrey. Gênero: Suspense. Filmado nas históricas locações da Transilvania, na Romênia, este filme com espetaculares cenas de combate nos apresenta a verdadeira história de Vlad III, filho do Príncipe Vlad, que através da famosa obra de Bram Stoker, ficou conhecido como Drácula, um vampiro sugador de sangue condenado a viver nas trevas e à vida eterna, que temia espelhos e abominava religiões. Vlad III foi um guerreiro que lutava para trazer a paz e a justiça a sua conturbada terra natal, invadida pelos turcos, onde reinava a superstição e o medo. Alguns o viam como herói, outros como um monstro, o próprio anticristo. Fazendo justiça com as próprias mãos, ele matava brutalmente seus inimigos, enquanto Lidia, seu grande amor, era assombrada pelos gritos das pessoas por ele assassinadas. Esta é uma história assustadora de sangue, terror, justiça e amor eterno.
ROCK HORROR PICTURE SHOW
Direção de Jim Sharman, com Tim Curry, Susan Sarandon, Barry Bostwick, Richard O'Brien, Patricia Quinn, Nell Campbell, Jonathan Adams, Peter Hinwood, Meat Loaf, Charles Grey, Jeremy Newson e Hilary Labow. Gênero: Comédia Musical. Um casal de noivos se vê obrigado, em virtude de um problema com o carro, a irem a um estranho castelo pedirem auxílio, sem saberem que ele é habitado por alienígenas do planeta Transexual e que o anfitrião é um bissexual, que exatamente naquela noite vai ver uma criatura criada por ele apenas para lhe dar prazer.
VAMP
Com Grace Jones. Gênero: Terror. Cabaré controlado por vampiros.
VAMPIROS DE JOHN CARPENTER
Dirigido por John Carpenter, com James Woods e Daniel Baldwin. Gênero: Terror. Dois caçadores de mortos-vivos que são também os únicos sobreviventes de um ataque de um poderoso vampiro partem em seu encalço, no intuito de impedi-lo de conseguir uma cruz que permitirá que ele e seus seguidores possam se tornar imunes à luz do sol.
VLAD - O CAVALEIRO DAS TREVAS
Direção de Michael D. Sellers, com Billy Zane, Paul Popowich, Kam Heskin, Nicholas Irons, Brad Dourif e Francesco Quinn. Gênero: Suspense. Em Bucareste, o professor Adrian e o reitor da universidade Hyman Radescu, descobrem que um dos quatro alunos estrangeiros prestes a entrar na Romênia, no programa especial de pesquisa, tem em seu poder um antiqüíssimo artefato que irá ceifar muitas vidas e que mudará destino dos sobreviventes para sempre.

OUTROS FILMES:

VAMPIRES: THE TURNING, 2005
ANJOS DA NOITE - A EVOLUÇÃO, 2005
ANJOS DA NOITE, 2004
VAN HELSING, 2004
BLADE TRINITY, 2004
BLADE II, 2002
BLADE, O CAÇADOR DE VAMPIROS, 1998
UM DRINK NO INFERNO, 1996
VAMPIRELLA, 1996
UM VAMPIRO AMERICANO NO BROOKLIN, 1995
VAMPIRE’S KISS, 1989
OLD DRACULA, 1974
DRACULA A.D. 1972, 1972
LONDON AFTER MIDNIGHT, 1927





VODU E VAMPIRISMO

Vodu é uma palavra do dialeto africano fongbé de Dahomé, na África. Designa a vida religiosa, o culto. O vodu em sua origem se referia ao antiqüíssimo Culto da Serpente, Dangbé (Damballa, no Haiti). Nos templos do deus havia inúmeras sacerdotisas, responsáveis pelo seu culto. Nas cerimônias de vodu, o sangue é oferecido as Loas (divindades, similares aos Orixás), e também é bebido, desta forma o sacerdote vodu é possuído pelo Loa. O vodu usa os veves, que são desenhos simbólicos que representam e atraem os Loas, lembrando os pontos riscados afro-brasileiros, e a magia talismânica medieval.
No Panteão Vodu, o Barão Samedi tem especial relevância para o nosso estudo. Samedi, palavra de origem francesa, inspirada em sábado. Sábado, um dia especial para o fenômeno do vampiro devido a todas as sua implicações, dia consagrado a Saturno. Regente do signo de Capricórnio, 22 de dezembro a 22 de janeiro, justamente um período onde as forças das trevas caminham pelo mundo. Inúmeros casos de vampirismo são registrados em várias culturas nesta época. A morte é intimamente associada a Saturno, o Cronos grego, devorador dos próprios filhos, ligado ao bode sabático, ao Bafomé Templário e aos sabás das bruxas. Para a cabala, Binah, a grande mãe, tanto é quem dá a vida como a que absorve, simbolizada pela terra onde o corpo é depositado.
O Barão Samedi é o Senhor dos Mortos, que ressuscita deste reino justamente no sábado. É o Imperador dos Cemitérios e dos ritos fúnebres. Quando o Sol esta em Escorpião, em especial no mês de novembro, as almas dos mortos estão andando sobre a terra. Esta crença do Vodu lembra o Halloween e o Samhain Celta, ocasiões em que os portais entre os mundos estavam abertos. De acordo com convicção do Vodu haitiano, toda pessoa tem duas almas: quando uma pessoa morre, uma das almas segue para o céu. A outra alma fica nas proximidades do cadáver, ou vagando pelo mundo. Esta alma que vaga pelo mundo muitas vezes é chamada de zumbi, que pode ser a alma de alguém que teve morte violenta, uma adolescente, ou uma pessoa que por qualquer motivo não teve os ritos fúnebres. Também o nome zumbi designa uma alma que foi escravizada por um sacerdote vodu, prática também encontrada entre magos egípcios. O sacerdote tem esta alma como escrava para realizar seus intentos.
Aleister Crowley alerta que certas práticas de vampirismo além de drenar o individuo, podem escravizar a alma após a sua morte. O rito é feito à noite, em um cemitério, e o Barão Samedi é invocado. Este tipo de zumbi pode ser enviado contra alguém, causando obsessão. Ele consome a vitalidade da pessoa, matando-a eventualmente. Outra forma de zumbi é o morto-vivo, ou talvez melhor seria vivo-morto. O método é o mesmo narrado acima, com a variante que a vítima ainda esta viva. Mas ela perde totalmente sua vontade, ficando a mercê do sacerdote vodu. Possivelmente uma combinação de ervas com a toxina do peixe baiacu são usadas para facilitar o ato. A vítima as ingere. A forma mais conhecida de zumbi é aquela feita após a morte, onde o sacerdote vodu rouba o cadáver da sepultura, e através de rituais o reanima. Willian Seabrook, numa visita ao Haiti, relata vários rituais vodus e a crença em vampiros. Ele menciona que os vampiros são mulheres, podem estar vivas ou mortas. Elas saem à noite para sugar o sangue de crianças.

VAMPIROS NO JAPÃO

As várias criaturas do folclore japonês não incluíam o clássico vampiro sugador. Possivelmente a criatura mais parecida com o vampiro, entre os inúmeros seres mitológicos, era o kappa. Descrito como uma fabulosa criatura das águas - rios, espelhos d'água, lagos e o mar - os kappas se inseriram na cultura japonesa e agora aparecem em ficção, desenhos animados, brinquedos e na arte. Os kappas foram inicialmente descritos, amplamente, no século XVIII. Dizia-se que pareciam crianças humanóides nada atraentes, com pele amarelo-esverdeada, dedos dos pés e das mãos em forma de teia e um tanto parecidos com um macaco, com nariz comprido e olhos arredondados. Tinham uma concha, parecida com a armadura de uma tartaruga, e exalavam um cheiro de peixe. A cabeça era côncava, retendo água. Se a água de sua cabeça derramasse, o kappa perderia toda a sua força.
Os kappas operavam próximos às águas em que habitavam. Muitas histórias relatam tentativas dos kappas de agarrar cavalos e vacas, arrastá-los para dentro da água e sugar seu sangue através de seus ânus (a tendência principal que deu aos kappas algum reconhecimento como vampiros). Todavia, sabe-se que eles deixavam a água para roubar melões e pepinos, estuprar mulheres e atacar as pessoas em busca de seus fígados. As pessoas acalmavam os kappas colocando os nomes de seus familiares num pepino e jogando-o na água onde os kappas habitavam.
Os kappas eram vistos como parte do cenário rural. Não eram atacados pelos humanos, mas às vezes os kappas tentavam fazer algum acordo com eles. Tal relacionamento foi ilustrado na história O KAPPA DE FUKIURA. O kappa era uma criatura perturbadora até que um dia perdeu um braço tentando atacar um cavalo. Um fazendeiro recolheu o braço e à noite o kappa aproximou-se dele para pedir o braço de volta. Rechaçado à primeira vista, o kappa finalmente convenceu o fazendeiro a devolver o braço, prometendo que nunca mais machucaria nenhum dos aldeões. Daquele dia em diante, conforme relatam os moradores, o kappa os alertaria dizendo: _“Não deixe as crianças irem até a praia, pois o convidado está chegando”. O convidado era outro kappa não-comprometido com o acordo do primeiro, de Fukiura.
Outra história popular dos kappas dizia respeito a uma pessoa que morava no Lago Pond. Um homem deixou seu cavalo amarrado beira do lago. O kappa tentou arrastar o cavalo para a água, mas este disparou para casa. O kappa derramou sua água, perdeu sua força e foi carregado até o estábulo. Mais tarde, o homem encontrou seu cavalo junto com o kappa. Capturado num estado de fraqueza, este kappa também fez um trato com o homem: _“Se você preparar uma festa na sua casa, eu certamente lhe emprestarei as tigelas necessárias”. Daquele dia em diante, todas as vezes que o homem se preparava para dar uma festa, o kappa trazia as tigelas. Depois da festa as tigelas eram postas do lado de fora da casa, de onde o kappa as recolhia.
Além do kappa, os japoneses tinham outra lenda interessante: O GATO VAMPIRO DE NABESHIMA. Relata a história do Príncipe Nabeshima e sua linda concubina, Otoyo. Certa noite, um grande gato vampiro invadiu o quarto de Otoyo e a matou de maneira tradicional. Livrou-se de seu corpo e assumiu sua forma. Como Otoyo, o gato começou a minar a vida do príncipe todas as noites, enquanto os guardas adormeciam estranhamente. Finalmente, um jovem guarda ficou acordado e viu o vampiro na forma da linda jovem. Enquanto o rapaz montava guarda, a moça não pode aproximar-se do príncipe, o qual se recuperou lentamente. Finalmente, deduziu-se que a moça era um espírito maligno que tinha o príncipe como alvo. O jovem, com vários guardas, entrou no apartamento da moça. Todavia, o vampiro escapou e se transferiu para uma região montanhosa. De lá, foram logo recebidos relatos de suas operações. O príncipe organizou uma grande caçada e o vampiro finalmente foi morto. A história foi transformada em peça, O GATO VAMPIRO, em 1918, e em filme, HIROKU KAIBYODEN, em 1969.


VAMPIROS NO CINEMA JAPONÊS

Os japoneses, embora deficientes em termos da extensa tradição vampírica, têm absorvido, na última geração, o mito vampírico europeu, dando sua contribuição a este, principalmente através da indústria cinematográfica. Seu vampiro contemporâneo é chamado kyuketsuki. Já em 1956, foi lançado um filme de tema vampírico, KYUKETSUKI GA. O filme tratava de uma série de assassinatos nos quais todas as vítimas tinham marcas de dentes no pescoço, mas no final o matador não era um vampiro. Em 1959, o mesmo diretor produziu outro filme, ONNA KYUKETSUKI, que contava a história de um vampiro real, que seqüestrava a mulher de um cientista atômico.Entre os filmes japoneses de vampiro, estava KURONEKO, de 1968, que girava em torno da LENDA DO GATO VAMPIRO. Uma mulher e sua filha são estupradas e assassinadas por um grupo de samurais. Voltam do túmulo como vampiras que podiam se transformar em gatos pretos e atacar seus assassinos. No filme, Yokai Daisenso, um governador de província é possuído por um demônio sugador da Babilônia, um sinal prematuro da absorção em andamento de elementos ocidentais nos filmes japoneses.

AS 13 REGRAS PARA UMA COMUNIDADE VAMPÍRICA

Circula na internet um texto atribuído a um certo vampiro, Father Todd, cujo teor são normas de conduta social, entre comunidades vampíricas e pessoas comuns. São treze regras disciplinares que situam o vampiro no mundo contemporâneo, globalizado e informatizado.

1. DISCRIÇÃO
Este estilo de vida é privado e sagrado. Respeite-o como tal. Não faça uma exibição suplementar de você. Nós não temos que provar nada a ninguém. Aparecer em televisão pública para contar ao mundo que você bebe sangue é uma forma inútil de adquirir atenção. Adquire uma reação negativa para a comunidade inteira. Nosso lugar está nas sombras. Nossa maior proteção, da humanidade mesquinha, é o fato que eles não acreditam que nós existimos. Algum dia eles poderão estar prontos para nós nos revelarmos a eles, mas este tempo não é agora.
• Não se esconda da sua natureza, mas nunca se exiba para esses que não entenderão.
2. DIVERSIDADE
Nossos caminhos são muitos, embora a viagem na qual estamos não seja essencialmente a mesma. Nenhum de nós tem todas as respostas sobre o que somos. Respeito todas as visões pessoais e práticas. Nós não podemos deixar diferenças insignificantes de ideologia nos impedirem de manter uma comunidade unificada. Existem muitas pessoas que nos atacariam do outro lado.
• Nossa diversidade é a nossa força. Deixem as nossas diferenças e pontos de vistas nos enriquecer, mas nunca nos dividir.

3. SEGURANÇA
Use o bom senso para favorecer a sua natureza. Não ostente quando você está em lugares públicos. Alimente-se em lugares privados e faça com que seus doadores sejam discretos sobre o que acontece entre vocês. Doadores que criam rumores e fofocam sobre nós são mais danosos do que valem. Ponha segurança e precaução acima de todas as outras coisas. Doenças sangüíneas são uma coisas muito reais, e nós não podemos ficar nos arriscando ou sendo irresponsáveis. Proteja seus doadores cuidadosamente, fazendo com que eles estejam mentalmente e fisicamente em boa saúde. • Nunca seja descuidado. A segurança da comunidade inteira descansa na precaução de cada integrante.

4. CONTROLE
Não podemos, nem devemos negar a escuridão. Porém, também não podemos permitir que ela nos controle. Não permita que a nossa besta ou sombra ou "darkside" seja muito mais determinada, obscurecendo nosso julgamento, fazendo-nos um perigo para quem amamos. Nunca se vicie em violência insensata. Nunca traga dano voluntarioso para esses que os sustentam. Nunca se alimente somente por alimentar, e nunca entregue descuidadamente seu local de alimentação.
• Não somos monstros: somos capazes do pensamento racional e do autocontrole. Celebre a escuridão e a deixe entrar, mas nunca permita escravizar seu testamento.

5. ESTILO DE VIDA
Viva sua vida como um exemplo para os outros na comunidade. Nós somos privilegiados por sermos o que somos. Porém, nosso poder deve ser acompanhado por responsabilidade e dignidade. Explore e faça uso de sua natureza de vampiro, mas mantenha o equilíbrio com suas demandas. Lembre-se: nós podemos ser vampiros, entretanto, somos ainda uma parte deste mundo. Temos que manter vidas como todos à nossa volta: trabalhando, cuidando de nossas propriedades, e nos relacionando bem com nossos vizinhos.
• O que somos não nos impede de participarmos da realidade cotidiana. Portanto, é uma obrigação fazermos deste mundo um lugar melhor para nós.

6. FAMÍLIA
Fazemos parte de uma grande família. E como integrantes de uma família, nem sempre seus membros compartilharão das mesmas aspirações, opiniões e atitudes. Porém, devemos respeitar a comunidade no momento de nossas escolhas e disputas. Não permita que os seus problemas individuais afetem emocionalmente a família como um todo. Resolva suas diferenças discretamente, entre os lados envolvidos, procurando, se necessário, a ajuda de um ancião quando a solução parecer impossível. Nunca conduza suas disputas privadas aos lugares públicos, nem exija que outros sócios familiares tomem partido sobre um determinado assunto ou contenda.
• Como qualquer família normal, deveríamos fazer um esforço para apresentar estabilidade e união para o resto do mundo, mesmo quando as coisas não estejam perfeitas entre nós.

7. PORTOS
Nossos portos são lugares seguros, onde toda comunidade pode vir a socializar, bem como, outros lugares públicos, onde, freqüentemente, encontraremos pessoas que não compreendem nosso modo de vida. Devemos respeitar os governantes destes lugares, assim como sua população, mantendo um comportamento discreto. Nunca devemos fazer disputas privadas em um porto.
• Nunca devemos iniciar a violência em um porto. Nem devemos cometer ilegalidades em um porto, pois poderá refletir mal dentro da comunidade.

8. TERRITÓRIO
A comunidade é extensa e diversa. Toda cidade tem um modo peculiar de organização e hierarquia. Ao entrar em uma nova cidade, você deverá se familiarizar com a comunidade local. Procure os portos locais. Descubra quais os clãs estão fixados nela. Procure conhecer os sócios fundamentais da comunidade, quem são eles, e mostrar o respeito próprio onde é devido. Não imponha seu modo velho de fazer coisas, numa comunidade nova. Você deve adaptar-se às novas regras e sentir-se feliz pela aceitação deles.
• Mantenha sempre um bom comportamento ao entrar numa nova cidade: seja para visitá-la ou para morar. Somos naturalmente cautelosos e territorialistas, portanto, procure causar impressão positiva entre os membros dessa comunidade e, possivelmente, será aceito e respeitado entre eles.

9. RESPONSABILIDADE
Este estilo de vida não é para todos. Tome cuidado com quem você escolhe para trazer à nós. Indivíduos mentalmente ou emocionalmente instáveis não tem nenhum lugar entre nós. Eles são perigosos e incertos e podem, futuramente, nos trair. Deve ser uma escolha responsável e madura, para que seus eleitos suportem este fardo. Ensine-os controle e discrição, de modo que eles respeitem nossa condição.
• Você é o responsável pelas ações dos seus escolhidos, e será refletido no comportamento deles dentro da comunidade.

10. ANCIÕES
Existem certos sócios em nossa comunidade cuja liderança é imprescindível. São pessoasesponsáveis, que ajudaram a estabelecer comunidades locais, organização de portos e que trabalham para coordenar a “net” de nossa cultura. Enquanto a sua palavra não tiver que ser lei, eles devem ser respeitados. Eles têm maior experiência que muitos outros, e normalmente maior sabedoria.
• Procure estes anciões para resolver suas disputas, para lhe dar orientação e instrução, e lhe ajudar a se estabelecer na comunidade local.

11. DOADORES
Sem esses que se oferecem de corpo e alma para nós, não seríamos nada. Não podemos ser diferentes do que somos, mas são os doadores que sustentam nossa natureza. Para este serviço, eles devem ser respeitados. Nunca maltrate seus doadores, fisicamente ou emocionalmente. Eles não serão manipulados ou deles exigido mais do que oferecem livremente. Nunca os leve para conceder. Os aprecie para a companhia e aceitação que eles nos oferecem, pois muitos outros recusariam.
• Aprecie, acima de tudo, o presente da vida deles. Aquela comunhão é sagrada. Nunca os trate com indiferença.

12. LIDERANÇA
Quando você conquistar uma posição de autoridade na comunidade, lembre-se que você não governa para si mesmo. Liderança é uma responsabilidade, não um privilégio. Um bom líder tem que ser um exemplo para todos, pelas suas ações e pelo seu comportamento. Seus motivos devem ser abnegados e puros, devendo colocar os interesses da comunidade inteira acima dos seus.
• Os melhores líderes são os que servem melhor a comunidade, com personalidade e comportamento irrepreensíveis, até mesmo fora da comunidade. Não devem ser motivos de críticas.
13. IDEAIS
Ser um vampiro não é apenas estar se alimentando de vida. Isso é o que nós fazemos, mas não necessariamente o que nós somos. Este é o nosso lugar para representar a escuridão em um mundo coberto pela luz. Nós somos diferentes e a aceitação desta diferença nos autoriza e nos faz únicos. Nós somos a aceitação da escuridão dentro de nós mesmos e abraçamos aquela escuridão para nos fazer seres completos. Nós somos a celebração dos limiares: corpo e espírito, prazer e dor, morte e vida.
• Nossas vidas deveriam ser vividas como uma mensagem para o mundo sobre a beleza de aceitar o nosso próprio ego, de viver sem culpa e sem vergonha, celebrando a essência inigualável e bela de toda e única alma.






































O LIVRO DE NOD

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil


Chupp, Sam
O Livro de Nod / Sam Chupp, Andrew Greenberg:
[tradução Marcel Murakami Iha]
São Paulo: Devir, 1999
Título original: The Book of Nod.
Vários ilustradores

1. Jogos de Aventura 2. Jogos de Fantasia

I. Greenberg, Andrew. II. Título

99-3492 CDD-7939

INTRODUÇÃO

COMO USAR O LIVRO DE NOD

O LIVRO DE NOD não foi elaborado para ser o livro definitivo sobre a natureza dos vampiros e do seu fundador, Caim. Não há mecanismos de jogo no seu interior. A razão por trás disso é que O LIVRO DE NOD foi desenvolvido para fornecer, na íntegra, um material para cenários. O ideal seria que os Narradores usassem O LIVRO DE NOD como material de apoio para suas Crônicas de Vampiros: A MÁSCARA, ou para ações ao vivo, como o Mind’s Eye Theatre.
Eles também podem usá-lo para incrementar seus jogos com uma cultura autêntica: a cultura dos Antediluvianos, que provém do próprio Caim. Quer fazer um Ancião parecer antigo e ultraconservador? Faça-o citar um trecho de A CRÔNICA DAS SOMBRAS. Quer que os jogadores tenham a sensação de que estão próximos dos Antediluvianos? Faça com que encontrem uma placa com um fragmento de A CRÔNICA DE CAIM. Quer assustá-los com as ameaças da Gehenna? Faça um Malkaviano citar a CRÔNICA DOS SEGREDOS para eles.

PREFÁCIO

Eu não posso descrever todo o medo que estou sentindo ao escrever estas palavras e uma vez por todas. Talvez eu me arrependa delas. Talvez elas nunca sejam impressas. Mesmo assim, relatar isso faz parte da minha natureza. É como dizem: isto está no meu sangue.
Meu senhor e, antes disso, o senhor dele, empenharam-se neste trabalho grandioso e glorioso. Na realidade, a nossa própria natureza foi influenciada por esta busca; somos incapazes de deixar de buscar conhecimentos. Somos os Mnemosynos, Aqueles que Buscam as Lembranças. Recebemos ordens de procurar especificamente o Livro, o tomo com todos os conhecimentos dos Membros, que é uma coleção de escrituras de Caim, seus filhos e seus netos. É este Livro, supostamente escrito pela primeira vez na terra de Nod, a leste do Éden, que captura nossos pesadelos diurnos e torna toda noite uma jornada dolorosa a partir da ignorância e rumo à verdade.
Ainda assim, eu me deleito com cada momento da minha não-vida. Eu me deleito com a sensação, através de minhas luvas de seda, das peles velhas e enrugadas, virando-as página por página. Minhas mãos tremem de prazer enquanto seguram luzes suaves e brandas e lêem uma tinta que acabara de secar quando Carlos Magno ainda era jovem. Eu me deleito com o terror suave e silencioso de ler blocos cuneiformes que ameaçam despedaçar-se em minha presença. Mais do que isso, talvez mais do que a própria imortalidade, é a busca que arde dentro de mim. É a procura. Eu viajei por todo este mundo, talvez mais do que qualquer outro da minha linhagem.
Não terei medo nos lugares aonde minha busca eterna me conduz! Embora eu seja pequeno e tenha uma constituição frágil, meu coração é forte, e meu sangue mais forte ainda. Eu não tenho medo de ir aos locais sombrios onde descansam os fragmentos dispersos dos ensinamentos do nosso Pai!
Eu me perdi em meio à brutalidade nua e crua de Nova Iorque, tomei chá com o Governador de Kingston, fiz inimigos para a vida toda em Johannesburg, contratei os melhores escavadores de todo o Cairo, lutei para chegar até Casablanca, aprendi sobre o aço e monumentos antigos em Toledo, escavei nos rochedos brancos de Dover, escapei por pouco de uma luta fatal em Dublin, passei sorrateiramente por olhos vigilantes em Brest e roubei livros antigos de um monastério na Colônia. Eu salvei catorze pergaminhos sagrados das tochas em Berlim, bebi o melhor café e conversei com o maior intelectual austríaco em Viena, aprendi o sumério de um Matusalém nos túneis escondidos sob a Universidade de Praga e enfrentei os invernos mais frios que Oslo tinha para oferecer.
E mesmo assim, eu não fiz isso apenas graças à minha sabedoria.
Praticamente não se passa nenhuma noite sem que eu agradeça nosso Fundador pela sua perspicácia em prover-me com os métodos secretos para ocultar-me, o modo de ver além da visão e a voz do comando que parece se manifestar com muita facilidade em nossa linhagem. E há muito tempo eu abençoei Karsh, meu amigo guerreiro, que me ensinou o segredo de enxergar no escuro e dormir na terra.
Mas mesmo assim, eu me pergunto o que mais o nosso Fundador forneceu a nós. Meu senhor e o senhor dele parecem ter sido vitimados por uma maldição horrível. Uma loucura, no começo sombria e silenciosa, mas que logo se desenvolve numa falta terrível do pensamento e da comunicação coerente, parece tê-los afetado. Estarei perto de ter o mesmo destino? Meu amigo Tremere escreveu-me, dizendo que a necessidade ardente que conduz nossa linhagem pode ser a causa da loucura. Deve ser verdade, pois não consigo lutar contra o desejo ardente por mais conhecimento. Assim como é difícil resistir à necessidade de dormir ou à necessidade de sangue.
Talvez seja esta loucura, a coisa que mais temo, que me compeliu a imprimir rapidamente esta tradução. Saiba que não pretendo quebrar a Máscara frágil de Rafael publicando estas palavras. A minha intenção é que apenas dez cópias destes livros sejam impressas, e que nenhuma de suas cópias caia nas mãos dos filhos e filhas de Set (como nosso Pai ordena em A CRÔNICA DAS SOMBRAS).
No entanto, preciso publicar isto agora. Esta é a coleção mais completa das Crônicas de O LIVRO DE NOD que já foi reunida. Nenhuma outra tradução, nem mesmo o CÓDIGO DE CAIM, de Critias, foi tão completa.
E mesmo assim me envergonho ao dizer que este não é o texto integral. Longe disso. Eu já vi fragmentos inteiros se tornarem fumaça à medida que as chamas consumiam prédios antigos. Eu toquei um Livro completo na tumba de um Antediluviano e o vi desfazer-se em pó.
Eu sei que nas catacumbas sob a lendária Cidade de Ouro Perdida, escondida nas profundezas na selva amazônica, há treze fragmentos de pedra que dizem conter textos específicos para cada uma das 13 tribos da Família, mas eu apenas os vislumbrei uma vez antes de ser forçado a fugir. E desta forma, posso apenas me vangloriar de ter parte do quebra-cabeça: é verdade que esta é a maior parte já reunida, mas mesmo assim é apenas uma parte do todo.
Eu escolhi o inglês como minha língua materna. Ele é, na minha opinião, o idioma que flui melhor entre os conceitos antigos do sumério, a língua nobre da Roma Antiga e os bruxedos estentóreos da Alemanha Medieval. Eu preciso desculpar-me pela sua simplificação em alguns casos. Contudo, eu sempre irei defender minha escolha. O idioma do Rei servir-me-á bem, especialmente porque tantos dos textos originais perderam-se para sempre.
Talvez seja particularmente perverso seguir as trilhas do alvitre até cada fragmento deste Livro e no entanto saber que há aqueles lá fora que me atormentam a cada passo. Eu sei que o próprio Amelek já tentou impedir-me uma vez, assim como outros Matusaléns. Por exemplo, é difícil encontrar listas dos nomes dos Antediluvianos e Matusaléns, pois eles sabem que há poder nos nomes e, por medo de que algum mago aprendesse como controlá-los através disso, apagaram seus nomes das histórias sempre que estas foram recuperadas.
Felizmente consegui descobrir alguns deles, mas suspeito que sejam nomes falsificados criados pelos Antediluvianos para despistar-me. Portanto os ofereço aqui. Eles podem ser o único meio de identificar certos Antediluvianos. Além disso, eu (infelizmente) adquiri o hábito de referir-me ao fundador de um clã com um nominativo do nome do clã. Por exemplo, “Malkav” é igual a “Malkaviano”. Reconhecidamente esta é uma informação errônea, mas não tive escolha. Uma vez descobri o nome verdadeiro do Antediluviano Brujah, e encontrei o meu próprio nome entalhado no meu antebraço na noite seguinte. Imediatamente eu jurei nunca mais procurar os nomes destes fundadores.
Tenho quase certeza de que, à medida que escrevo estas palavras, há agentes da Jyhad seguindo-me. Eu não irei juntar-me ao quarto comunal no andar de baixo esta noite, pois na noite passada eu me saciei com um pouco de sangue misturado com vinho e vi uma mulher de olhos prateados observando-me. Ela usava o selo em forma de cetro de Ventrue no seu manto. Eu sei que era ela, vigiando-me, procurando-me, enviada por Ventrue para atormentar-me. Não importa. Eu irei escrever a verdade, e que o resto de vocês dane-se!
Eu tentei compilar estes fragmentos textuais num tipo de história coerente, pelo menos dentro do contexto das diversas Crônicas. Onde você vir uma elipse, saiba que havia mais palavras naquele fragmento em particular, mas elas foram perdidas, apagadas ou escondidas de mim de alguma forma.
Agora só espero por um pacote de Londres para terminar este bilhete e concluir este Livro. Este pacote encerra uma das únicas cópias do CÓDIGO DE CAIM que existem, e será a última peça do meu complexo quebra-cabeças. Estou ansioso por tocá-lo e segurá-lo. E se qualquer um dos meus irmãos ou irmãs chegar perto dele, eu irei... eu irei destruí-los com Fogo! Por mim, a espada sagrada de Miguel pode marcá-los. Ninguém chegou tão perto. Eu irei reinar triunfante entre os meus.

Com triunfo,

Aristotle deLaurent
UM BREVE COMENTÁRIO SOBRE A CRÔNICA DE CAIM

Não importa que esta parte de O LIVRO DE NOD não seja comparativamente fiel aos cânones bíblicos normais. O que importa é que temos, talvez pela primeira vez, um ponto de vista pessoal sobre os acontecimentos que cercam os dias após a Queda. Caim nos diz em suas próprias palavras quais eram seus motivos e, embora seja bem possível que esta história só exista para que formemos uma idéia sobre ele, podemos admitir que haja alguns elementos de verdade neste conto. Afinal, a sua descrição é o único relato de uma testemunha ocular no qual podemos nos basear.
Ah, nosso querido Pai. Em alguns mitos muçulmanos, a figura transformada de Satan foi banida do Céu não porque ele odiava a humanidade, mas porque amava a Deus demais para curvar-se a qualquer um além de Deus, recusando-se em servir o homem. Talvez Caim compartilhe este amor: ele ama tanto ao seu irmão que não pode pensar em qualquer outra coisa que seja digna de ser sacrificada para o Senhor. Certamente Caim não poderia ter outra razão para sacrificar seu irmão. Ele não conhecia a morte, pois nasceu antes que a Morte fosse algo que a humanidade tivesse experienciado.
Outras figuras daquele tempo também representam um papel fundamental no Livro. Certamente não é apenas uma transliteração mitológica que faz com que Lilith apareça nesta história, pois ela é uma figura presente no mais antigo Midrashim hebreu. Sendo expulsa primeiro do Paraíso, ela seria capaz de reconhecer Caim como alguém que esteve na luz do Céu e subseqüentemente foi expulso. Há aqueles entre meus colegas que acreditam que esta estrofe deve representar a idéia de que Lilith, mãe da mágika e demoníaca, ensinou as primeiras Disciplinas para Caim. Outos vêem seu papel como sendo o de uma parteira para o Despertar do Nosso Pai para seu próprio potencial mágiko.
O que ainda precisa ser descoberto é o lendário “Ciclo de Lilith”, que supostamente descreve o tempo que Caim passou com Lilith como seu servo e amante. Seria apenas um namoro, ou seria algum tipo de aprendizado místico, durante o qual Lilith acabou gradualmente com as limitações que o Divino havia imposto sobre Caim, e Despertou-o lentamente para seus próprios poderes magikos? O fato de que ela demonstra apreensão quando ele bebe o sangue dela no Cálice do Despertar pode significar que ela não compreendia totalmente o que, exatamente, aquilo faria ao Primeiro Filho de Adão.
Não temos bases para especular se o cálice causa uma alucinação em Caim ou se Caim é realmente transportado fisicamente para um terreno selvagem em algum lugar nas Trevas. Isso não é compreendido, nem é explicado pelas traduções do texto original. O estudo original da frase significa essencialmente “inspirado” ou “levado”. Ambos os significados da palavra levam a qualquer uma das explicações. E não há muito o que lucrar com um debate: não importa se Caim foi transportado fisicamente. Como as visões de xamãs registradas como resultado do consumo ritualístico de alucinógenos, a experiência de Caim foi tão real para ele quanto qualquer jornada pode ser para mim ou para você.
Meu progênito, Beckett, continua reafirmando sua opinião de que a CRÔNICA DE CAIM é uma parábola vampírica. Eu discordo completamente, mas Beckett é um filho querido. Eu incluirei seus estudos e descobertas aqui.



UMA PARÁBOLA DO GÊNESE:
RECONHECENDO A ALEGORIA NA
CRÔNICA DE CAIM

Devido à disparidade literária entre as traduções atuais do texto (incluindo a tradução do Dr. DeLaurent) d’O LIVRO DE NOD, a intenção original do Livro foi perdida. Minha teoria, baseada nas minhas próprias pesquisas, é de que as histórias de Caim e Abel, a maldição de Caim e seu encontro subseqüente com Lilith sejam parábolas criadas para contar um lenda sobre os Primeiros Membros de um modo que até o mais ingênuo de nós seja capaz de compreendê-la. Através dos meus próprios estudos, e utilizando os trabalhos dos principais estudiosos de Caim no mundo (incluindo algumas anotações de um Mão Negra adorador de Caim), eu criei uma história que acredito remontar à parábola original de Caim.
Numa época em que a humanidade passou de uma sociedade de caçadores/coletores para uma que criava animais em fazendas e desenvolvia a agricultura, havia duas tribos, com nomes derivados dos seus chefes. Elas eram chamadas “o povo de Caim” e “o povo de Abel”. O povo de Abel era composto de pastores e criadores de animais, e eram mais primitivos do que o povo de Caim. Eles adoravam um grande Deus do Sol, que era um guerreiro que vivia no céu. O povo de Caim era composto de agricultores, e era mais civilizado do que o povo de Abel. Como era tão importante cultivar, o povo de Caim adorava a Deusa da Lua, a Mãe Sombria que tanto representava a fertilidade da Terra quanto o mistério da Lua.
No entanto, nem todas as pessoas estavam contentes. O Chefe Abel atacou o povo de Caim dizendo que eles eram inferiores e amaldiçoados porque não caçavam como o Deus do Sol caçava. O povo de Caim não sabia muito como lutar, mas Caim ensinou-lhes como usar as coisas afiadas que usavam para lavrar a terra para matar. Quando Abel voltou para atormentá-los de novo, o povo de Caim enfrentou-o. Todos os homens, mulheres e crianças de Abel foram mortos.
Então o Deus do Sol do povo de Abel chamou-os de amaldiçoados como um povo, e lançou uma maldição de sangue sobre todos eles: de que iriam vagar indefinidamente sem um lar pelas terras selvagens. Ele queimou suas vilas e salgou seus campos, e disse a todos para desprezarem o povo de Caim.
O povo de Caim não foi capaz de recuperar-se. Vagaram com a maldição por muitas semanas, até que já não tinham comida para alimentar-se e estavam cheios de problemas. Então veio a sacerdotisa da Deusa Sombria, que vivia abaixo da Lua. A sacerdotisa ofereceu repouso, auxílio e um fim. Ela lhes ensinou mágica, ensinou-lhes como caçar e ensinou-lhes como beber sangue.
O Deus do Sol surgiu para o Chefe Caim em sonho, e disse a ele e ao seu povo para que voltassem e se subjugassem à vontade do povo de Set. O Chefe Caim recusou. O Deus do Sol disse que todo o povo de sua tribo seria amaldiçoado para sempre, e assim aconteceu. Mas a Mãe Sombria disse que sempre haveria um modo de superar a maldição: se o povo de Caim viesse a Ela, através do seu mistério, ela os libertaria da maldição do Deus do Sol.
Nesta parábola, o povo de Caim (e Caim) representam nossa necessidade de civilização, a Humanidade que buscamos constantemente. O povo de Abel (e Abel) representam nossas naturezas animalescas, nosso eu selvagem, a Besta que reside em nosso interior. A Mãe Sombria representa o mistério que guia nossa própria existência: a mágica no nosso sangue, o poder das Disciplinas. Precisamos procurar o mistério da Mãe Sombria enquanto lidamos com o legado deixado pelo Deus do Sol _a maldição. Logo, “Eu sou uma Besta para não me tornar uma Besta”. A Golconda é apresentada como um objetivo derradeiro, talvez equilibrando todas essas coisas e mostrando a transcendência da Besta Interior.

A CRÔNICA DE CAIM

O INÍCIO

Eu sonho com o início(1)
a lembrança mais saudosa.
Eu falo sobre o início(2)
o mais antigo dos Pais.
Eu canto sobre o início
e o nascer das Trevas

Em Nod(3), onde a luz do Paraíso
iluminava o céu noturno
e as lágrimas de nossos
pais umideciam o solo.
Cada um de nós, à sua maneira,
pôs-se a viver
e tirar seu sustento da terra

E eu, o primogênito Caim, eu,
com coisas afiadas(4),
plantei as sementes escuras(5)
irriguei-as na terra
cultivei-as e as observei crescer.

E Abel, o secundogênito Abel
cuidou dos animais
auxiliou-os nos seus nascimentos
sangrentos(6)
alimentou-os,
viu-os crescer.

Eu o amava,
o meu Irmão.
Ele era o mais brilhante.

O mais doce.
O mais forte.
Ele era a primeira parte
de toda a minha felicidade(7).

Então um dia
nosso pai(8) nos disse,
Caim, Abel
vocês precisam fazer um sacrifício para
Aquele Acima(9)
_um presente da primeira parte
de tudo que vocês têm.

E eu, o primogênito Caim, eu
reuni os brotos tenros
as frutas mais brilhantes
o pasto mais doce

E Abel, o secundogênito, Abel
matou o mais jovem,
o mais forte,
o mais doce dos seus animais.

No altar do nosso pai
colocamos nossos sacrifícios
e acendemos um fogo sob eles
e vimos a fumaça levá-los
ao alto para Aquele Acima

O sacrifício de Abel, o secundogênito,
tinha um aroma doce para Aquele Acima
e Abel foi abençoado.

E eu, o primogênito Caim, eu
fui golpeado do além por(10)
palavras duras e uma maldição,
pois meu sacrifício não era digno.

Eu olhei
para o sacrifício de Abel,
ainda queimando, a carne,
o sangue.
Eu chorei, cobri meus
olhos
E orei de noite e de dia

E quando
o Pai disse,(11)
a hora para o
Sacrifício
chegou outra vez

E Abel
levou seu mais jovem,
mais doce,
mais amado
para o fogo
do sacrifício

Eu não levei meus
mais tenros,
mais doces,
pois sabia que
Aquele Acima
não iria
querê-los.

E meu irmão,
amado Abel
me disse
“Caim, você não levou
um sacrifício,
um presente da
primeira parte da
sua felicidade,
para queimar no altar
Daquele Acima”.

Eu vertia lágrimas de amor
enquanto eu, com
coisas afiadas,
sacrificava aquilo
que era a
primeira parte da
minha
felicidade,
meu irmão.

E o sangue de Abel(12)
cobriu o altar
e tinha um aroma doce
enquanto queimava

Mas meu Pai disse
“Você está amaldiçoado, Caim,
que matou seu irmão.
Como eu fui banido
assim você o será”.(13)

E Ele me exilou para vagar nas Trevas,
a terra de Nod.(14)

Eu corri entre as Trevas
Eu não vi nenhuma fonte de luz
e eu estava com medo.(15)
E sozinho.

A VINDA DE LILITH

Eu estava sozinho nas Trevas
Quando fiquei com fome.
Eu estava sozinho nas Trevas
Quando fiquei com frio.
Eu estava sozinho nas Trevas
Quando chorei.(16)

Então veio a mim
uma voz doce,
uma voz melíflua
Palavras de socorro.
Palavras de consolo.(17)

Uma mulher, sombria e
amável,
com olhos que
pungiam as
Trevas
veio a
mim.(18)

“Eu conheço sua história, Caim de Nod”.
Ela disse, sorrindo.
“Você está com fome. Venha! Eu tenho comida.
Você está com frio. Venha! Eu tenho roupas.
Você está triste. Venha! Eu tenho alívio”.
“Quem iria reconfortar alguém tão Amaldiçoado
como eu?
Quem iria vestir-me?
Quem iria alimentar-me?”
“Eu sou a primeira esposa do seu Pai,
que não concordei com Aquele Acima
e obtive Liberdade nas Trevas.
Sou Lilith.(19)
Outrora, eu estava com frio, e não havia calor
para mim.
Outrora, eu estava com fome, e não havia comida
para mim.
Outrora, eu estava triste, e não havia alívio
para mim”.
Ela me assistiu, alimentou-me.
Ela me vestiu.
Nos seus braços, encontrei alívio.
Eu chorei até que o sangue
escorreu dos meus olhos
e ela os beijou para limpá-los.(20)

A MÁGIKA DE LILITH

E eu morei por um tempo
na Casa de Lilith(21)
e perguntei a ela
“Em meio às Trevas,
como você construiu este lugar?
Como você fez roupas?
Como você cultivou alimento?”

E Lilith sorriu e disse,
“Ao contrário de você, eu sou Desperta.
Eu vejo os Fios que giram
ao seu redor. Com o Poder,
Eu faço aquilo de que preciso”.(22)

“Então me Desperte, Lilith”, eu disse.
“Eu preciso deste Poder.
Então poderei fazer minhas próprias
roupas,
fazer minha própria comida,
fazer minha própria Casa”.

A preocupação tomou a fronte de Lilith.
“Eu não sei o que o
Despertar vai fazer por você,
pois você é verdadeiramente Amaldiçoado
pelo
seu Pai.
Você poderia morrer.
Você poderia mudar para sempre”.
Caim disse, “Mesmo assim, uma vida sem
Poder
não vale à pena ser vivida.
Eu iria morrer sem seus dons.
Eu não irei viver como seu Servo”.
Lilith me amava, e eu sabia disso.
Lilith faria o que eu pedisse,
embora não o desejasse.
E então, Lilith, Lilith de olhos brilhantes,
Despertou-me.
Ela se cortou com uma faca
sangrou para mim numa tijela.
Eu bebi profundamente. Era doce.(23)
E então caí no Abismo.(24)
Eu caí para sempre, caindo
na mais profunda das trevas.

A TENTAÇÃO DE CAIM

E das Trevas
veio uma luz brilhante e reluzente -
fogo na noite.
E o arcanjo Miguel revelou-se(25)
para mim.
Eu não estava com medo. Eu perguntei o que ele queria.

Miguel, General do Céu,
o que empunha a Chama sagrada,
disse-me,
“Filho de Adão, Filho de Eva, teu crime é grande,
e no entanto a piedade do meu Pai é
grande também.
Não irás arrepender-te do mal que fizeste
e permitir que a piedade dele te purifique?”

E eu disse para Miguel,
“Não para a graça [Daquele Acima], mas para a minha própria
viverei com orgulho”.(26)

Miguel me amaldiçoou, dizendo
“Então enquanto andares nesta
terra, tu e teus filhos irão
temer minha chama viva, e ela vos
morderá profundamente e saboreará a vossa carne”.(27)

E de manhã, veio Rafael(28)
com asas velozes,
luz sobre o horizonte
o condutor do Sol,
protegido do Leste.

Rafael
falou, dizendo
“Caim, Filho de
Adão,
Filho de Eva,
teu irmão Abel
perdoa-te de teu pecado
não irás arrepender-te, e aceitar
a piedade do Todo Poderoso?”

E eu disse a
Rafael
“Não pelo
perdão
de Abel,
mas pelo meu próprio,
serei perdoado”.

Rafael me
amaldiçoou,
dizendo
“Então enquanto
andares nesta terra,
tu e teus filhos
irão temer o amanhecer,
e os raios do sol irão
procurar
queimar-vos como o fogo
sempre, onde quer que vos escondais.
Esconde-te agora, pois o Sol nasce para
lançar sua ira sobre ti”.

Mas eu encontrei um local secreto na terra
e escondi-me da luz ardente do Sol.
Nas profundezas da terra, eu dormi até
que a Luz do Mundo estivesse
escondida por trás da montanha da
Noite.(29)

Quando acordei do meu dia de
sono.
Ouvi o som de asas suaves
batendo(30)
e vi as asas negras de Uriel
ao meu redor -
Uriel, ceifeiro, anjo da
Morte,
Uriel sombrio que vive nas
trevas.

Uriel falou comigo
tranqüilamente, dizendo
“Filho de Adão, Filho de
Eva, Deus
Todo Poderoso
perdoou-te de teus
pecados.
Irás aceitar sua piedade e permitir que eu
te leve para tua recompensa, não mais
amaldiçoado?(31)

E eu disse para Uriel de asas negras,
“Não pela piedade de Deus, mas pela minha
própria, irei viver.
Eu sou o que sou, eu fiz o que fiz,
e isso nunca irá mudar”.(32)

E então, através do temido Uriel
Deus Todo Poderoso me amaldiçoou,
dizendo,(33)
“Então, enquanto andares nesta
terra,
tu e teus filhos ireis agarrar-vos às
Trevas
Bebereis apenas sangue
Comereis apenas cinzas(34)
Sereis sempre como fostes na morte,
Nunca morrendo, nunca vivendo.
Caminhareis para sempre nas Trevas,
tudo o que tocardes extenuar-se-á a
nada,
até o último dos dias”.

Soltei um grito de angústia
frente a esta maldição terrível e
dilacerei minha carne.

Eu chorei sangue.
Eu recolhi as lágrimas num cálice
e bebi-as.(35)

Quando olhei para cima após beber
minha aflição
o arcanjo Gabriel,
Gabriel gentil,
Gabriel, Senhor da Piedade
apareceu para mim.

O arcanjo Gabriel me disse,
Filho de Adão, Filho de Eva,
Veja, a piedade do Pai é maior
do que jamais poderás imaginar
pois até mesmo agora há uma trilha
aberta
um caminho de Misericórdia
e tu irás chamar este caminho de
[Golconda].(36)
E falarás dela para teus filhos,
pois através desse caminho eles poderão
vir
a viver outra vez na Luz”.

E com isso, as trevas
levantaram-se
como um véu
e a única luz veio
dos olhos brilhantes de
Lilith.

Olhando ao meu redor,
eu via
que havia Despertado.

Quando minhas energias
tomaram-me
pela primeira vez
Eu descobri
como mover-me como
um relâmpago
[Rapidez]
como pedir emprestada a
força
da terra [Potência]
como ser igual à pedra
[Fortitude]
Isso era como
respirar fora uma
vez para mim.

Então Lilith me mostrou
como ela se escondia dos
caçadores [Ofuscação]
como ela comandava
a obediência
[Dominação]
e como exigia
respeito. [Presença]

Então, Despertando-me ainda mais, descobri
o modo de alterar formas [Metamorfose]
o modo de ter controle sobre os animais [Animalismo]
o modo de fazer os olhos verem além da visão [Auspício](37)

Então Lilith ordenou que eu parasse,
dizendo que
Eu havia ultrapassado meus limites
Que eu havia ido longe demais
Que eu ameaçava minha própria
essência.

Ela usou seus poderes e
ordenou que eu parasse.
Devido aos seus poderes,
eu prestei atenção a ela,
mas no fundo, dentro de mim,
uma semente foi plantada
uma semente de rebeldia
e quando ela virou seu rosto,
eu me abri outra vez, para a Noite,
E vi as possibilidades infinitas nas
estrelas e sabia que a trilha do poder,
uma trilha de Sangue
era minha para ser pega.
E então Despertei em mim a
Trilha Final
a partir da qual todas as outras trilhas
surgiram.

Com este poder mais recente,
eu quebrei os laços
que a Dama da Noite
impôs sobre mim
e deixei a Rainha Amaldiçoada
naquela noite,
encobrindo-me nas sombras,
eu fugi para as terras de Nod
e cheguei finalmente a um lugar
onde nem mesmo seus demônios
iriam encontrar-me.

A LENDA DE ZILLAH

Deixe-me contar a lenda de
Zillah(38)
a primeira amada por Caim,
a primeira esposa de Caim,
o sangue mais doce,
a pele mais macia,
os olhos mais límpidos.

Dentre os Filhos mais novos de
Caim,
apenas Ela foi desejada por
Caim,(39)
e ela não tinha consciência do
seu
desejo, evitando-o.

Nem presentes, nem
sacrifícios,
nem perfumes, nem pombos,
nem belos dançarinos,
nem esculturas, nem belas roupas,
nada transformaria o coração de
Zillah
de pedra em doce fruto.

Então Caim puxou sua barba(40)
e arrancou seus cabelos
e vagou pelas selvas
à noite, pensando nela,
ardendo por ela,
e uma noite Caim encontrou
uma Velha cantando para a lua.
Caim disse para a Velha,
“Por que você canta
assim?”
E a Velha respondeu,
“Porque eu desejo
aquilo que não posso
ter...”(41)

Caim disse para a Velha,
“Eu também desejo. O
que alguém pode fazer?”
A Velha sorriu e
disse,
“Beba o meu sangue
esta noite,
Caim, Pai dos Membros,
e retorne amanhã à noite.
Então irei lhe contar
os conhecimentos
da Lua”.(42)
Caim bebeu no
pescoço nu da Velha
e partiu.

Na noite seguinte, Caim
encontrou a Velha
dormindo numa pedra.
“Acorde, Velha”,
disse Caim.
“Eu voltei”.
A Velha abriu um
olho e disse,
“Eu sonhei com a
solução para você
esta noite. Beba mais
uma vez de mim,
e então retorne
amanhã à noite.
Traga uma tijela de barro.
Traga uma faca afiada.
Então terei sua
resposta”.
Mais uma vez, Caim tomou o sangue da
Velha,
que imediatamente adormeceu
profundamente outra vez.

Quando Caim retornou na noite
seguinte,
a Velha olhou para ele e sorriu,
“Saudações, Senhor da Besta”, a
Velha disse.(43)
“Eu tenho o conhecimento que você
busca”.
“Tome um pouco do meu sangue
na tijela que você tem
e misture com essas bagas
e estas ervas,
e beba profundamente o elixir”.

“Você será irresistível.
Você será poderoso.
Você será dominador.
Você será ardente.
Você será brilhante.
O coração de Zillah ira derreter
como a neve na primavera”.

E então, Caim bebeu o elixir da
Velha,
porque estava muito apaixonado por
Zillah,
e desejava ardentemente seu amor
correspondido.

E a Velha riu. A Velha
riu em voz alta.
Ela o havia enganado! Ela o havia
aprisionado!
Caim estava mais bravo do que se pode
imaginar.
Caim preparou-se com seus poderes
para destruir a Velha com sua
força.

A Velha gargalhou e disse “Não”.
E Caim nada podia fazer contra ela.
A Velha riu e disse, “Ame
a mim”.
E Caim não podia fazer nada além de
olhar
dentro dos seus
olhos idosos, desejar sua pele enrugada.
A Velha riu e disse, “Torne-me
imortal”.

E Caim a Abraçou. Ela gargalhou
outra vez,
riu com o êxtase puro do
Abraço,
pois ele não a machucava.

“Eu o tornei poderoso, Caim de
Enoque,
Caim de Nod,
mas você estará preso eternamente a
mim.
Eu o tornei mestre de tudo,
mas você jamais me esquecerá!
Seu sangue, poderoso como está agora,
irá prender aqueles que o beberem,
como você fez, uma vez por noite
durante três noites.
Você será o mestre.
Eles serão os servos, assim como você é
o meu.
Pois embora Zillah irá amá-lo, como
você queria, você irá me amar
eternamente. Agora vá, e
reivindique sua
esposa amada. Eu irei esperar por você
nos locais mais sombrios, enquanto
preparo mais poções para
sua saúde”.
E então, com o coração pesado,
Caim retornou a Enoque.
E cada noite,
durante três noites,
Zillah bebeu de seu Senhor,
Embora não soubesse disso.
E, na terceira noite,
Caim anunciou que iria casar-se(44)
com Zillah, sua Filha mais doce,
e ela concordou.

A LENDA DA VELHA

Por um ano e um dia(45)
Caim trabalhou a serviço
da Velha, que com o conhecimento do
sangue, prendeu-o tão bem
quanto qualquer prisioneiro.

Ela o visitava de noite
forçava-o a fornecer seu sangue
para suas poções secretas
e fórmulas poderosas.
Ela pegava os Filhos de seus Filhos,
e nunca mais se ouvia falar deles outra vez.
Mas Caim era sábio. Ele nunca mais bebeu
dela.
E ela não pediu que ele o fizesse, pensando que
ele seria seu Servo para sempre.
Uma noite, Caim foi até a Velha
na floresta, e contou-lhe sobre sonhos terríveis
que ele teve durante seu sono.
“Eu temo pela minha vida, Velha,
eu tenho medo da Profecia de Uriel,
e do desejo dos meus Filhos pelo meu sangue.
Revele-me um conhecimento secreto para que
eu possa ser poderoso contra os meus
semelhantes”.
E a Velha foi até uma árvore feita de madeira
de marmoto(46)
e arrancou um galho.
Ela pegou uma faca afiada
e afiou o ramo.
“Pegue este pedaço de madeira viva,
afiada, forte,
atravesse o coração de seu filho rebelde.
Isso irá paralisá-lo, e torná-lo-á seu para ser
comandado.
Ao invés de deleitar-se com o sangue do seu
coração, ele irá sentir o peso de sua justiça”.
Caim disse, “Obrigado, Mãe”, e
Com isso, movendo-se rapidamente,
Caim pegou a estaca de madeira,
empunhou-a e enfiou-a profundamente dentro
do coração da Velha.
Como Caim, o sábio Caim
não havia se alimentado dela por um ano e um
dia e como ele forçou sua Vontade através de
suas mãos, ele quebrou o Laço que ela detinha
sobre ele e alterou seu destino.
Ela riu de novo à medida que o sangue surgia e
vertia de sua boca.
Seus olhos vertiam ódio.
Caim
a beijou
uma vez, beijou seus
lábios frios e franzinos
e deixou-a ali
para o sorriso
gentil de Rafael;
o sol que nascia.

A LENDA DA PRIMEIRA CIDADE

No começo só havia Caim
Caim que [sacrificou] seu irmão por
[amor].(47)
Caim que foi banido.
Caim que foi amaldiçoado para sempre com a
imortalidade.
Caim que foi amaldiçoado com o desejo pelo
sangue,
É de Caim que todos viemos,
O Senhor de nosso Senhor.

Durante uma era ele viveu em [a terra de Nod],
Em solidão e sofrimento
Por uma era ele permaneceu sozinho
Mas a passagem do tempo afogou sua
tristeza.
E então ele voltou para o mundo dos mortais,
O mundo que seu irmão [Set, o terceiro que nasceu
de Eva,] e [os Filhos de Set] haviam criado.

Ele retornou e foi bem recebido.
[Pois ninguém se voltaria contra ele,
devido à Marca que havia sido colocada sobre ele]
As pessoas viram seu poder e adoraram a ele,

[Ele se tornou poderoso, e seu poder era
forte, seus métodos para impôr-se e comandar
eram imensos]

[E os Filhos de Set tornaram-no] Rei
de sua maior Cidade. A primeira Cidade.

Mas Caim sentiu-se solitário com seu Poder.
No seu interior, a semente da solidão
floresceu e tornou-se uma flor sombria.
Ele viu dentro do seu sangue o poder
da fertilidade
Invocando demônios
e ouvindo os caminhos sussurrados
Ele aprendeu o modo de fazer um filho para
si.
Ele veio a conhecer seu poder e, deste modo,
decidiu Abraçar alguém próximo a ele.

E, ah, Uriel, o Temido Uriel,
revelou-se a Caim
naquela mesma noite
e disse a ele,

“Caim, embora tu sejas poderoso e
marcado por Deus, saiba isso: que qualquer Filho
que criares sofrerá
tua maldição, que todos os teus Progênitos
andarão para sempre na Terra de Nod
e temerão as chamas
e o sol, bebendo
sangue apenas e
comendo cinzas
apenas.
E como
eles irão
carregar a semente
mesquinha de seu pai,
eles irão tramar e lutar para sempre
entre eles.
Não condena aqueles entre os
netos
de Adão que procuram
caminhar
virtuosamente. Caim!
Detem teu Abraço terrível!”

Ainda assim, Caim sabia o que precisava fazer,
e um jovem
chamado Enosh, que era o mais amado
parente de Set
implorou para tornar-se Filho do Pai sombrio.
E Caim, apesar de estar pensativo com
as palavras de Uriel,
tomou Enosh e embalou-o no seu Abraço
sombrio.

E, desta forma, Caim criou
Enoque e, fazendo isso, batizou a Primeira
Cidade de Enoque.
E, fazendo isso, Enoque implorou por um
irmão,
uma irmã, e Caim, um Pai indulgente,
deu-lhe estes, e seus nomes eram
Zillah, cujo sangue era protegido de
Caim,
E Irad, cuja força servia ao braço de Caim.

E estes Filhos de Caim aprenderam os
métodos
para criar uma Progênie própria, e
Abraçaram mais dentre o Povo de Set,
inadvertidamente.

E o sábio Caim disse, “Ponhamos fim a este
crime.
Não existirão outros”.
E a palavra de Caim era a lei, sua Prole
obedeceu-lhe.
A cidade existiu por muitas eras,
E tornou-se o centro de um Império poderoso.
Caim aproximou-se daqueles que eram
diferentes dele.
Os [Filhos de Set] conheciam-no
E ele, por sua vez, conhecia-os.

Mas o mundo denegriu-se com o pecado.
Os Filhos de Caim vagavam aqui e ali,
satisfazendo seus hábitos mórbidos

Caim sentiu ódio quando seus filhos lutaram.
Ele descobriu o ardil quando os viu
travar uma guerra verbal.
Ele conheceu a tristeza quando os viu abusarem
[dos Filhos de Set].

Caim leu os sinais
no céu que escurecia,
mas não disse nada.

Então veio o grande Dilúvio,
uma inundação enorme que varreu a terra.
A Cidade foi destruída,
levando consigo os Filhos de Set.

Mais uma vez,
Caim mergulhou num sofrimento profundo e
buscou a solidão.
E ele nos deixou,
sua Progênie,
para nossos próprios propósitos.

Nós o encontramos, depois de
procurar muito,
nas profundezas da terra,
e ele rogou que fôssemos, dizendo
que o Dilúvio foi uma punição,
por retornar ao mundo da
vida
E subverter a lei verdadeira.
Ele pediu para que fôssemos, para
que ele pudesse
dormir.

Então retornamos sozinhos para
encontrar os
Filhos de Noé,
E anunciamos que éramos os
novos governantes.
Cada um criou uma Prole
Para proclamar a Glória de Caim,
Mas não tínhamos a sua sabedoria
ou
controle.
Uma grande guerra foi travada, os
Anciãos contra
seus Filhos,
assim como Uriel disse,
E os Filhos mataram seus pais.

Eles se levantaram
Usaram fogo e madeira
Espadas e garras
Para destruir aqueles que os
criaram.

Então os rebeldes construíram
uma cidade nova.
A partir do Império decaído,
eles reuniram os Treze clãs
que foram espalhados pela
Grande Guerra,
e reuniram-nos todos,

Eles trouxeram o Clã da Realeza [Ventrue],
o Clã da Besta [Gangrel],
o Clã da Lua [Malkoviano],
o Clã dos Escondidos [Nosferatu],
o Clã Nômade [Ravnos],
o Clã da Rosa [Toreador],
o Clã Noturno [Lasombra],
o Clã dos Modeladores [Tzmisce],
o Clã das Cobras [Setitas],
o Clã da Morte [Giovanni],
o Clã do Curandeiro [Saulot],
o Clã da Caça [Assamitas],
e o Clã dos Eruditos [Bujah].

Eles fizeram uma cidade linda,
e as pessoas os adoravam como deuses.
Eles criaram sua própria Progênie
nova, a Quarta Geração dos Cainitas.

Mas eles temiam a Jyhad,
a Profecia de Uriel,
E era proibido para estes Filhos
Criar outros de sua espécie.
Os Anciões mantiveram este poder
para si mesmos.
Quando um Filho era criado, ele era
caçado e morto, assim como o seu
Senhor.

Embora Caim estivesse longe de nós,
sentimos seu olho atento nos
observando, e sabíamos que ele
reparava em nossas ações
e nossos métodos.

Ele amaldiçoou [Malkav], quando este
difamou sua imagem e condenou-o à
insanidade, para sempre.
Quando [Nosferatu] foi encontrado
satisfazendo
seus desejos
de modo vil com seus próprios Filhos,
Caim deitou sua mão sobre
[Nosferatu],
e disse-lhe que ele ira cobrir-se
para sempre com sua maldade
e distorceu sua imagem.
Ele amaldiçoou todos nós por
matarmos a primeira parte
de seus Filhos, a Segunda Geração,
Pois havíamos caçado-os um por
um,
Zillah, a Bela; Irad, o Forte; e
Enoque, o Primeiro Governante.
E lamentamos por eles, pois éramos
todos
de uma espécie,
e todos das famílias dos Filhos de
Caim.

Embora esta cidade fosse tão grande
quanto a de Caim,
com o tempo
Ela envelheceu.
Como todas as coisas vivas, lentamente
ela começou
a morrer.
A princípio os deuses não viram a
verdade,
E quando finalmente olharam ao
seu
redor era tarde demais.

Pois, como Uriel dissera,
a semente plantada do Mal
floresceu como uma rosa
vermelho-sangue,
e [Troile], o Filho do
Filho de seu Filho
levantou-se, e matou seu
Pai, Brujah.
E comeu de sua carne.
Então a guerra devastou a cidade
e nada poderia um dia ser
do jeito que fora.

Os Treze viram sua cidade
destruída e seu poder
extinto,
E foram forçados a
fugir, junto com
sua Progênie.
Mas muitos foram mortos na
fuga, pois haviam
enfraquecido.
Sem a autoridade deles,
todos estavam livres para criar sua
própria Prole,
E logo havia muitos Membros novos,
Que governavam ao redor do Mundo.
Mas isso não podia durar.

Com o tempo, surgiram Membros
demais
E então houve uma guerra outra vez,
Os Anciãos já estavam escondidos nas
profundezas,
Pois aprenderam a ter cautela,
Mas seus Filhos haviam fundado suas
próprias cidades e Proles,
E foram eles que morreram na
grande onda de guerra.
A guerra foi tão abrangente que não há
mais ninguém daquela Geração
para representá-los.
Ondas de mortais foram mandadas ao
longo dos continentes
Para esmagar e queimar as cidades dos
Membros.
Os mortais achavam que estavam
lutando suas próprias guerras.
Mas era por nós que eles derramavam
seu sangue.

Quando esta guerra acabou,
Todos os Membros esconderam-se uns
dos outros
E dos humanos que os cercavam.
Permanecemos escondidos,
Pois a Jyhad ainda continua.

E ninguém pode dizer quando Caim irá
levantar-se outra vez,
do seu sono na terra,
e clamar pela Cidade de Gehenna,
a última Cidade, a Cidade do
Julgamento.
A Jyhad ainda continua.

OBSERVAÇÕES SOBRE A “CRÔNICA DE CAIM”

1. “O início” discutido na primeira estrofe foi pesquisado extensamente por mim e meus companheiros Membros. O texto original fala sobre um momento “anterior”. O fragmento mais antigo de O LIVRO DE NOD foi datado de uma época um pouco anterior à dos sumérios, ao redor de 4500 a.C.
2. Acredito que esta seja a primeira estrofe do narrador original, talvez o primeiro tradutor da história de Caim.
3. “Nod” neste caso, significa as “Terras Desconhecidas” - Supostamente as terras fora do Éden, que não tinham nome naquela época.
4. Traduções latinas falam “como um arado”. A tradução é do sumério original, e implica apenas em coisas afiadas. Isto poderia ser uma ferramenta “pontuda” pré-histórica, usada para plantar sementes. Definitivamente é parecida com um dente, possivelmente feita com os caninos de algum mamífero pré-histórico. Pelo menos ela é representada assim no fragmento de Coonan-DeBrie e na Tapeçaria de Santa Clara.
5. O fato de Caim ser originalmente um fazendeiro estaria de acordo com sua existência no mito como a figura de um Rei Sol/Deus Agonizante, assim como o personagem de Dumuzi/Tammuz no mito de Inanna/Ishtar.
6. Obviamente, neste caso, sangue no nascimento, talvez como resultado da Queda recente. Observe que esta é a primeira aparição da palavra “sangue” na narrativa. O sentido tradicional da palavra segue mais a linha daquilo que consideramos “sangue” ao invés do cognato “vitae”, que implica em alguma virtude ou poder extra.
7. A “primeira parte” é uma frase repetida constantemente em O LIVRO DE NOD. Basicamente ela significa “o melhor”, “a nata”.
8. Geralmente acredita-se que “Pai”, neste caso específico, seja Adão.
9. Estou traduzindo isto com o máximo de exatidão possível. Devido à natureza do mito, uma pessoa pode admitir facilmente que este é o Deus dos hebreus e mais tarde do Cristianismo. Contudo, como isso não é explicitado no texto, não desejo influenciar a narrativa com possíveis complexidades inter-religiosas.
10. “Golpeado do além” pode ser um relâmpago. Em algumas traduções latinas, é “um raio do além”.
11. “Pai”, outra vez, provavelmente é Adão.
12. Neste caso, “sangue” é escrito como o cognato para “vitae”.
13. Esta estrofe confundiu muitos estudiosos, incluindo a mim. Escolhi representá-la como minha tradução particular, de que Adão é o “Pai” nesta estrofe e que, é Adão quem bane Caim. O raciocínio por trás disso é de que “Aquele Acima” nunca fala diretamente com Caim: é apenas através de um meio que Ele comunica Suas vontades a Caim, como veremos. Além disso, a palavra “Pai” nas estrofes anteriores sempre significou Adão. Isso contrasta muito com a história do Gênese, mas é inteiramente consistente, e como dizem que o próprio Caim compôs esta narrativa em particular, talvez possamos considerá-la mais importante do que Noé, que escreveu o Gênese. Obviamente há outras interpretações. Em Nova Iorque, Beckett encontrou uma vez um membro do Sabá que afirmou que esta seção referia-se ao nosso “pai verdadeiro”: Satan. Ele observou minha prole atentamente enquanto falava isso, e então algo que Beckett pôde descrever apenas como um diabrete apareceu no seu ombro. Passamos por muitas dificuldades para não lidar outra vez com este vampiro.
14. Agora temos aqui a idéia básica por trás da “Terra de Nod”. Ela não é mais simplesmente o “não Éden”, mas agora é considerada as “Terras do Exilado”. “Nod” na tradução hebraica do texto é basicamente “as terras errantes”. Isto talvez porque Adão tenha se estabelecido fora do Paraíso e criado uma fronteira territorial entre ele e o resto do mundo: portanto “Nod” é a mesma região selvagem para onde ele foi banido, mas agora é Caim que está indo embora. Alguém poderia pensar que talvez Adão devesse ter-se mostrado um pouco mais compreensivo com o último que restou dentre seus filhos. No entanto, é possível que as palavras de Adão tenham sido “inspiradas divinamente” ou talvez inspiradas pela raiva. Portanto, vemos que as vidas tradicionalmente trágicas e tumultuadas de todos os vampiros são uma indicação de suas origens. Beckett diz que isto é um paralelo com a relação que todos os vampiros têm com seus senhores, mas eu gosto de acreditar que nossa aliança contínua prova que esta hipótese está incorreta.
15. Esta estrofe é razoavelmente importante na perspectiva mitológica de Caim do “Deus Agonizante”. Caim é destinado às trevas, à terra sombria onde ele aprenderá muitos conhecimentos. Isso pode referir-se à nossa própria jornada para a morte, da qual nossos senhores nos salvam ao alimentar-nos com sua própria vitae rica.
16. Estas três coisas, fome, frio e medo (ou tristeza), obviamente ainda atribuem a Caim sentimentos e falhas humanas. Caim ainda não é um “vampiro” no sentido tradicional. Contudo, ele claramente é amaldiçoado.
17. É difícil não usar Ishtar para esta tradução em particular, pois esta estrofe parece falar de Ishtar: certamente sua voz melíflua e palavras de fim são de Ishtar. No entanto, mantém-se Lilith, pois muitos dos trabalhos originais concordam que era Lilith nesta narrativa.
18. Nesta estrofe e nas outras que a sucedem, eu vi as coisas de outra forma. Este é o “Ciclo de Lilith” muito procurado que aparece de diversas formas diferentes. Procurando pelo texto original para estas estrofes, fui forçado a penetrar nas profundezas labirínticas e saturninas dos Diabolistas. Começei em Veneza, onde conheci alguns membros da Ordem da Rosa Negra, monges sombrios, alguns dos quais se comunicavam com uma linguagem de sinais porque suas línguas haviam sido cortadas e depois mumificadas como talismãs mágicos. Logo descobri que eles desejavam sangue de Membros e fui capaz de negociar um pouco da minha própria vitae por informações que me levaram a Boston, Massachusetts, na América. Lá conheci uma mulher de nome Selina, que a princípio recusou-se a falar sobre o diabólico “Ciclo de Lilith”, mas depois permitiu que eu continuasse por alguma razão mística bizarra. Ela disse que a “Própria Figura Sombria” pediu que me deixasse passar com o conhecimento. Fui seguido pelas ruas de Boston pelo próprio Clã Sombrio (o Nosferatu) até que cheguei a uma livraria especial: era esta livraria que tinha, nas suas prateleiras atrás do balcão, alguns fragmentos do “Ciclo de Lilith” atrás de um vidro. Permitiram que eu os visse por alguns instantes até que o dono da loja retornou. O velho gritou injúrias ao ver-me, e mostrou-me a porta com uma certa firmeza. Eu fiquei do lado de fora da porta e ouvi o homem repreender seu empregado sobre algum detalhe. Eles acreditaram que estavam conversando em particular porque falavam num dialeto italiano de Veneza, mas eu havia aprendido o mesmo com uma certa fluência e fui capaz de ouvir por um bom tempo. Descobri que eles faziam parte de um círculo obscuro de adoradores do demônio e segui o velho mais tarde naquela noite para o cemitério onde fazia seus rituais. Embora eu não tenha sido capaz de encontrar os adoradores do demônio no cemitério, tive um encontro muito estranho no descampado do mesmo. Uma mulher surgiu do nevoeiro como por encanto. Eu soube pela sua aura que ela era um Membro, mas não pude adivinhar quão velha ou de que clã ela era. Ela veio a mim e mostou-me um livro encadernado em prata contendo uma tradução completa do “Ciclo de Lilith”. Ela me silenciou imediatamente, ordenando que eu não perguntasse nada enquanto estivesse ali. Eu tive que obedecer. Fui capaz de ver o tomo e lê-lo enquanto ela sorria para mim à luz de uma vela. Então ela pegou o livro, beijou-me uma vez na testa e sumiu na noite antes que eu pudesse fazer-lhe outra pergunta. Eu não consigo imaginar quem seja esta mulher misteriosa, mas eu acredito que ela está ligada de algum modo com a forma espiritual de Lilith, pois seus poderes de comando eram enormes e possuía uma presença ao seu redor que era antiga. Eu só posso agradecê-la pela oportunidade de vislumbrar o volume lendário, e acredito que esta tradução beneficiou-se extraordinariamente de sua intervenção.
19. Pode-se observar que o Gênese não fala nada sobre Lilith, a primeira esposa de Adão. Ela é uma criatura do Midrashim, as parábolas hebréias. Ela é descrita como um demônio, amaldiçoada pelo próprio Deus por não ser subserviente a Adão. Lilith aparentemente passou, pelo menos nesta narrativa, algum tempo na “Terra de Nod”, e desenvolveu seu próprio poder neste local. Ela aparentemente tem conforto onde mais ninguém o tem. Isso não explica muito bem sobre ela ser um demônio, e portanto confinada ao Inferno, mas por outro lado, o Inferno não era um lugar muito populoso naquele momento da história.
20. Aqui existe uma grande inconsistência da narrativa, e eu lutei por muitos anos para mantê-la, pois acredito que ela aponta para o defeito fundamental das traduções de O LIVRO DE NOD feitas até agora: de onde vieram as “lágrimas de sangue de Caim”, se não da Maldição original? Ele já era um vampiro naquele momento? Exatamente a partir de quando ele começou a chorar sangue? Quando ele se tornou um vampiro? Este ainda é um ponto nebuloso. Mas eu manti a inconsistência porque não quero que este ponto seja encoberto com o tempo. Meu progênito Beckett usou este ponto como suporte para suas fantasias alegóricas. Agora mesmo ele está viajando para a Universidade de Harvard para estudar alguns textos antigos descobertos num poço no Sudão. Ele continua esperando descobrir um pouco mais daquilo que chama de trabalhos “antediluvianos” de mural, o pobre garoto.
21. Há discussões sobre ambos os lados da seguinte questão: Caim estava aprisionado na casa de Lilith, sob o controle dela, ou Caim estava lá como um hóspede de honra? Esta pergunta nunca foi totalmente respondida, mas pode levar a uma perspectiva interessante se uma das hipóteses pudesse ser provada. Talvez, como alguns sugeriram, a situação envolva um pouco de ambos.
22. Eu traduzi estas palavras especificamente desta maneira seguindo o conselho de Hephaestus, um amigo meu que antigamente fazia parte de uma Tradição mística conhecida como a Ordem de Hermes. Ele sustenta que Lilith não era uma mulher ou demônio, mas ao invés disso uma maga original, e que ela usou suas próprias qualidades mágikas para “Despertar” o potencial mágiko de Caim também. Esta é a história desse Despertar. Acredito que o que ele diz tem fundamentos e, certamente, se encaixa na tradução da história. Se for verdade que Caim era um feitiçeiro assim como Lilith, então os Tremere realmente podem ser os “mais próximos de Caim”; uma teoria à qual Beckett se opôs fervorosamente.
23. Hephaestus mostra que esta estrofe pode indicar que Lilith talvez seja a fundadora ou uma das primeiras seguidoras da Tradição mágika conhecida como Verbena, que utiliza sangue em seus rituais.
24. Isso freqüentemente é traduzido como: “E então caí no Inferno”. Eu não acredito que o texto original tentava dizer isso, e acredito que a expressão “Abismo” indique simplesmente algum local de tortura menos judaico-cristão.
25. Mais uma vez, não se está tentando relacionar isso com a mitologia, mas não pude fazer nada além de traduzir Anjos como Anjos e Miguel como Miguel, embora os “que brilham” mencionados no texto original não pareçam ser especificamente anjos. Eu não fui capaz de pensar num cognato que servisse. Ainda assim, eu não acredito que eles atrapalhem o “clima” geral da narrativa, portanto permanecem assim. Suas correspondências cabalísticas tradicionais também permanecem do modo em que foram escritas originalmente.
26. Talvez esta seja uma repulsa intensa contra “Aquele Acima”. Caim parece ainda estar zangado quanto ao exílio.
27. Esta é a lendária “Maldição do Fogo”. Talvez esteja entre as maldições mais fortes hoje em dia. Ela criou uma inimizade eterna entre os Membros e a fonte singular de vida no mundo: o fogo. O fogo era o método mortal para afastar a escuridão, os lobos. Ele fornecia um centro para a comunidade e permitia a criação de novas tecnologias. Isso nos excluiu para sempre dessa luz, e foi planejado para nos tornar proscritos para sempre. Talvez seja esta maldição em particular que também tenha tornado a hospitalidade tão importante entre os Membros.
28. Rafael é o arcanjo do Amanhecer.
29. Obviamente um instinto primitivo de sobrevivência. Caim busca instintivamente a terra.
30. O papel de Uriel como Anjo da Morte colocá-lo-ia na posição derradeira de impôr o julgamento de Deus sobre Caim. Apenas através de Uriel o próprio Deus puniria nosso Pai.
31. Observe aqui que Uriel está oferecendo-se para não preservar Caim, mas ao invés disso para “levá-lo à sua recompensa”, isto é, “a morte”.
32. Seria esta uma gozação da frase “eu sou o que sou” tradicional de Bíblia?
33. A primeira utilização das palavras livremente traduzidas, “Deus Todo Poderoso”.
34. Acredita-se que “comer cinzas” seja uma metáfora para a existência trágica dos vampiros. Não consigo encontrar outra referência a “comer cinzas”, e só posso admitir que seja uma expressão que não pode ser traduzida. Outras versões de O LIVRO DE NOD traduziram “comer cinzas” como “conhecer apenas a tristeza”.
35. Talvez seja uma afirmação poética. Certamente ela enfatiza que Caim está consumindo sua própria tristeza.
36. O fato de que existe um importante centro diamantífero na Índia que também é chamado de Golconda pode ou não estar relacionado com esta estrofe. Começo a acreditar que o termo foi criado originalmente por Saulot, que foi conhecido por viajar pelo Extremo Oriente e pelo Oriente Médio nas suas buscas por iluminação.
37. Ouvi dizer que há seções adicionais aqui descrevendo mais poderes desenvolvidos por Caim. De acordo com meu velho amigo Malk Content, a versão original alongava-se por 1.001 estrofes. Malk também afirma que seu dedo anular esquerdo é feito de chocolate e responde pelo nome de Haroldo, portanto continuarei com a versão que tenho aqui.
38. Zillah, às vezes traduzida como “Sylah”. Este conto é traduzido de um texto original muito mais influenciado pelo folclore. Uma versão deste conto é narrada por alguns dos mais velhos dentre os Membros russos, e tenho razões para acreditar que possua raízes nas lendas folclóricas russas.
39. Lembre-se de que, entre os Membros, não há tabu de “incesto” por desejar o sangue de seu filho. Na realidade, talvez esta seja uma indicação das atitudes dos Matusaléns: com freqüência, eles criam proles para alimentar-se delas.
40. Uma expressão transliterada flagrante, mas uma que considerei ter importância literária. Imagine Caim com uma barba grande e comprida, puxando-a! Talvez esta seja a única característica descritiva de Caim que temos relatada, mas sua procedência é impura.
41. Esta Velha permanece um mistério nas tentativas arqueológicas de localizar a fonte desta história. Eu acredito que a Velha seja uma xamã / bruxa / sacerdotisa que talvez soubesse um pouco sobre Caim através de relações com demônios ou algum tipo de espírito familiar. Ao manter-se preso a este paradigma alegórico, Beckett sugere que ela pode ser uma metáfora para o desejo que temos por sangue e o controle que ele detém sobre nós.
42. Outra pista: ela está ligada aos Mouros. Originalmente, eu acreditava que isto indicava suas origens como uma xamã Lupina, mas eu descobri de amigos Gangrel que eles não alteram seus feitiços desta maneira.
43. Outros traduziram o título de Caim como “Mestre da Fúria do Sangue” neste trecho.
44. Em Enoque, o casamento entre Membros era comum. Eu li fragmentos do “Hino Amoroso a Zillah” que me levou a crer que isso incluía a propriedade específica de todos os escravos da casa e propriedades, além de privilégios especiais como a habilidade de invocar temporariamente os poderes do cônjuge.
45. O ano lunar tradicional. É um clichê tão mitológico, especialmente entre as tradições da “Mulher Sábia” dos pagãos, que eu preciso contar isso como um período puramente simbólico de tempo.
46. Um material tradicional. Forte, resistente. A Arca de Noé foi construída com isso.
47. Talvez esta seja a parte mais bem conhecida de O LIVRO DE NOD. Devido à cópia freqüente dos Clãs Tremere e Ventrue deste fragmento, há muitas versões coloquiais para isso. Minha primeira tarefa foi desprezar totalmente estas versões “populares” e procurar a verdade sobre o assunto. Portanto, você vê minhas traduções dos versos “não tradicionais” entre colchetes.

UM BREVE COMENTÁRIO SOBRE A CRÔNICA DAS SOMBRAS

Há uma coleção de trechos e fragmentos que eu desenterrei durante minhas diversas viagens. Devo admitir que eu me utilizei de uma grande prudência pessoal para determinar o conteúdo deste livro. Isso porque não há versões completas conhecidas da CRÔNICA DAS SOMBRAS. Na verdade, muitos dos estudiosos que pesquisaram esta Crônica afirmam que ela não faz parte de O LIVRO DE NOD, mas sim uma criação dos estudiosos e escritores cartagineses que escreveram as “LEIS DE CAIM” com licença poética. Mesmo assim, eu já vi textos e fundamentos originais suficientes para convencer-me de que estes fragmentos têm alguma base nas palavras reais de nosso Pai, seus filhos e seus netos.
Choros, que era um Membro confesso do Sabá, disse-me que acreditava que a CRÔNICA DAS SOMBRAS era uma coleção de propagandas criadas pela Camarilla para justificar seu reinado tirânico. Eu não acredito que este seja o caso, mas é muito estranho que muitas das “LEIS DE CAIM” e das Tradições da Camarilla estejam relacionadas.
É a minha esperança mais sincera que estes fragmentos não sejam uma brincadeira Malkaviana elaborada, especialmente os treze mandamentos, que foram fornecidos em tábuas autenticamente envelhecidas. Mesmo assim, eles eram interessantes demais para serem deixados de fora. Portanto, Fharkav, se você estiver lendo isso e enganou-me, um ponto para você, e eu me certificarei de vingar-me da próxima vez que o vir!

A CRÔNICA DAS SOMBRAS

SOBRE A PROGÊNIE

Estas são as palavras que Caim proferiu
a respeito de nossa Progênie
enquanto governava em Enoque, como Rei.
Ouvi as palavras de Caim, o Legislador:

“Vós não criareis uma Progênie contra Minha
vontade,
e se receberdes permissão,
escolhei bem dentre estes Filhos de Adão,
pensai neles como vosso futuro Irmão ou Irmã.(1)

Observai a noite eterna que está por vir,
e conhecei a Profecia de Uriel:
que para sempre os Filhos irão rebelar-se
para matar seus Senhores.
Sabei que, como em todas as coisas, o Pai
supera o Filho, a Mãe sua Filha.
Apenas através de Mim vós alcançareis a Verdade.
Apenas através de Mim vós alcançareis a Paz.
Apenas através de Mim vós Despertareis para vosso Poder.(2)

Sabei que o direito sobre a vida ou a morte,
como na Minha época,
será do Senhor sobre o Filho,
pois foi estabelecido no Céu
assim como neste mundo,
o modo de ser.
Meu Pai, Adão, sobre mim,
Eu, sobre vós,
Vós, meus Filhos, sobre toda a Progênie que
obtiverdes.

Vós não permitireis que vosso Filho viva
Se for descoberto que ele matou
um de vossos irmãos
e bebeu o sangue do seu coração.
Este é o Caminho da Serpente,
e eu não irei tolerá-lo.(3)

Vós não Abraçareis aqueles que não merecem.
Vós não utilizareis o Abraço como punição,
Nem Abraçareis os mais jovens, que
devem viver bastante antes de serem trazidos à
Minha família, para que a sabedoria
de nossa linhagem cresça.

Vós não Abraçareis aqueles que estão doentes,
loucos ou repletos de humores malignos,
pois irão macular o Sangue.(4)

Nunca deverá haver mais Membros de Caim
do que Membros de Set num lugar,
nem deve haver um de Caim
para cada três de Set.(5)

Todos os Filhos devem aprender com seus Senhores
A Lei e as Tradições,
os Ritos e os Costumes,
como eu os apresentei a vós.

Vós não Abraçareis as Bestas-da-Lua,
pois eles devem ser proscritos e
chamados de Abominação.
Nem saboreareis seu sangue
pois eles são proibidos,
eles trazem a Morte à nossa porta.(6)

Não Abraçeis o sangue do Desperto,
ao invés disso ouvi suas palavras,
vede suas ações e reagi rapidamente
contra eles caso ataquem:
uma espada útil,
mas freqüentemente afiada demais.(7)

Não saboreai o sangue dos Selvagens,
pois nele há Loucura, nem deveis
Abraçá-los: pois vós não ireis sobreviver a isso.(8)

Não Abraçeis o Amor,
pois o Amor no Meu Abraço
irá tornar-se frio, murchará e morrerá”.(9)

AS REGRAS DAS MASSAS

(A CANAILLE)

Estas são as palavras que Caim proferiu
a respeito dos Filhos de Set
enquanto governava em Enoque, como Rei.
Ouvi as palavras de Caim, o Legislador:

“Recebemos o Domínio
sobre a linhagem de Set,
terceiro Filho de Adão,
como ele é nosso Irmão caçula,
cuidaremos de seus Filhos
como se fossem nossos,
mostrar-lhe-emos o caminho correto,
e em troca,
eles nos servirão por toda sua vida.(10)

Eles nos servirão enquanto o Sol atravessa o céu,
e cuidarão de nossas casas, com água para extingüir
o Fogo de Miguel.(11)
Eles nos alimentarão, e fornecer-nos-ão roupas,
Eles dançarão para nós, e fornecer-nos-ão músicas,
Eles deitarão conosco, e fornecer-nos-ão conforto,
Eles nos aconselharão, e ouviremos seus
conselhos.
Eles nos adorarão, e não devemos permitir
sua adoração.

Vós não deveis tornar-vos um Deus para os Filhos de Set,
pois Aquele Acima, enciumando-se em Seu Céu,
irá derrubar a linhagem de Caim para sempre.
Lembrai-vos de Ashtareth, o do rosto suave,
Lembrai-vos do gordo e contente Baal,
Lembrai-vos de Tammauz, o forte,
Pois sabei que os Filhos de Set irão
rebelar-se
com armas Daquele Acima
e conquistar-nos-ão, caso sejamos Deuses para eles.(12)

Deveis guiar os Filhos de Set como um
pastor
guia seu rebanho,
e selecioná-los à medida que forem necessários.
Vós deveis limpar seu sangue,
e mantê-los livres de doenças.(13)

SOBRE A ALIMENTAÇÃO

Encontra um lugar que seja teu,
E os mortais que o habitarem,
Deixa que sejam teu rebanho,
Deixa que sejam teu cálice,
Deixa que sejam tua hóstia.(14)

SOBRE OS PRESENTES DE CAIM

Atentai que se um Mortal,
marcado com o Poder de outro Cainita,
fizer algo, na verdade
Ele o faz como se aquele Filho de Caim o fizesse,
e aquele Membro pagará o preço
de crimes ou desforras, como se
ele houvesse feito aquilo, pois dessa maneira
há uma Prestação de Contas a ser feita,
e os Filhos de Set não serão
meras espadas nas mãos de estranhos
sombrios.(15)

Atentai bem a bebida tripla, o Laço
de Sangue, e fazei com que
aqueles Filhos de Set com grandes habilidades(16)
sirvam os Filhos de Caim,
e através de Mim,
todas as correntes serão quebradas,
todas as algemas serão despedaçadas.(17)

Atentai bem os Filhos Daquele Acima,
os Querubins, os Serafins, os Arcanjos,
pois seu toque irá queimar-vos como
A Chama de Miguel.(18)

Atentai bem os Filhos Daquele Abaixo,
os Parentes da Serpente,
pois seu toque irá queimar-vos também,
e suas línguas irão iludir-vos e
enganar-vos.(19)

Quando necessário,
vós podeis alimentar as Bestas do campo
com vosso Sangue e desposá-las:
elas irão tornar-se fortes e leais,
mas cuidado com a Besta
com a Besta interior,
e não alimenteis uma Fome
que não possa ser saciada.

SOBRE AQUELES QUE SERVEM

Aqueles que vós abençoardes
com a Potência de Caim,
podem vir a viver em vossas casas
para proteger-vos,
não deixeis que alguém Abraçe estes guardiães
fazei com que recebam sangue no
momento apropriado:
deixai que sua Força seja a vossa Força,
Força que não se reduz com o sol.
Deixai que seus Olhos sejam vossos Olhos,
Olhos que podem ver no dia.
Deixai que seus Ouvidos sejam
vossos Ouvidos,
Ouvidos que podem ouvir enquanto vós
dormis.

Deixai que aqueles que servem sejam
nomeados os maiores dentre os
Filhos de Set,
e os mais privilegiados.
Deixai que desfrutem do tecido fino dos
Membros,
Deixai que conheçam a doçura do nosso vinho.
Protejamo-los daqueles que os
atrapalhariam ou matá-los-iam,
e deixemo-nos rebelar em fúria caso um
daqueles que servem seja morto por outro
Membro, pois nenhum Membro
tem o direito de matar o Servo de outro sem
uma provocação.(20)

SOBRE AS BESTAS-DA-LUA

As Bestas-da-Lua,
aqueles-que-mudam,
eles são os mais Antigos de todos,
antes do meu Pai
eles vagavam pela terra.
Não pareis em sua trilha.
Evitai-os, eles atacam a
nós
como lobos ao rebanho.
Pois somos de uma espécie
e eles de outra.
Cuidado com sua terra sagrada,
anda suavemente através de suas
terras silvestres.
Sua mordida é como a nossa
mordida,
Suas garras são como as nossas
garras
Não pares em sua trilha,
eles são de uma espécie
e nós somos de outra.(21)
SOBRE OS SELVAGENS

Sobre os loucos, os
selvagens,
Eu digo, primeiramente,
não bebais o seu sangue!
Mas observai-os,
pois são belos em sua
selvageria,
São encantadores em seu
mistério,
São mortais em suas
habilidades de guerra.
Sozinhos entre as criaturas da
noite
Eles me fizeram companhia na
terra
e trouxeram-me água quando eu
tinha sede
e ainda podia respirar.

Como eu, eles são excluídos,
Como meus Filhos, eles não
possuem casa,
Como os Filhos de meus
Filhos, eles vagam,
Como minha Mãe e meu Pai,
eles sabem demais,
Mas eles guardam para si seus
conselhos,
e, sobre eles, eu digo
Atentai-me bem: mantende-vos
quietos!
Não digais nada.
Observai, e aprendei.(22)

SOBRE OS ILUMINADOS

A Mãe do Poder, a sombria Lilith,
é a maior dentre eles,
mas há outros,
e muitos ainda por vir.
Não bebais o seu sangue, pois eles
enganar-vos-ão,
Tende cuidado com eles, eles são astutos.
Eles têm o conhecimento de Adão,
e a sabedoria de Eva,
eles são os arautos do fogo,
os lavradores do solo,
os esposos dos animais,
os arautos da escrita,
eles são os Filhos do Sol,
as Estrelas Nascentes.
Eles tentarão envolver-vos em sua
jornada.
Resisti! Resisti! Sua trilha despreza
a fome, o sangue, o corpo.
Não confieis naqueles com olhos brilhantes
rumo ao amanhecer:
Lembrai-vos sempre, é o Amanhecer que
vos traz vossa morte.(23)

SOBRE AQUELES ESPÍRITOS DOS MORTOS

Atentai-vos bem: há um lugar
além do espírito, além da vida
que é Trevas,
Sombra,
e lá habitam Sombras.
Uma ilha, uma fortaleza, uma terra
dos Mortos,
Eu viajei até lá
através de
uma trilha da perdição
e testemunhei o
temido rei
da Cidade estígia quando ele
sentava na corte.
Eu vi os encapuzados
sem face
atravessando o Rio Estige.
Eles se aglomeram ao nosso redor
como
moscas num
corpo putrefato, e
como nós, alimentam-se de medo,
êxtase,
e raiva.
Mortos eles são, mas mortos-vivos,
e eles estão mais perto de nós
do que jamais teremos consciência.

O Sangue do meu Irmão
grita comigo enquanto durmo
enquanto o Sol atravessa o céu,
eu ouço meu irmão, o secundogênito
Abel,
gritando.
Atentai bem aos espíritos
daqueles que morreram,
Sabei que sua força não é
vossa,
Ouvi suas palavras: eles
detêm sabedoria.
Não ouçais suas músicas:
este caminho é o esquecimento.
Não procureis prendê-los,
mas libertai-os se puderdes,
Tal é a ordem
de Caim, que fora ele
mesmo
aprisionado e liberto.(24)

SOBRE OS TREZE MANDAMENTOS DOS MEMBROS(25)


Não matareis vosso
Senhor e não bebereis o
sangue do seu coração.


Tereis o mais antigo
dentre vós como Senhor,
como sou vosso Pai,
o mais antigo está mais
próximo de mim.


Honrareis a casa
uns dos outros.


Honrareis o Domínio
uns dos outros.


Não vos revelareis
como Deuses para os
Filhos de Set.


Honrai a Progênie de
outro.


Honrai sempre o
Vosso Senhor.


Ensinareis à vossa
Progênie os costumes dos Membros.


Não Abraçareis o Amor.

10º
Não vos alimentareis com as
Bestas-da-Lua, os Selvagens,
os doentes, os
loucos ou os bêbados.

11º
Protegerei sempre
aqueles que servem.

12º
Para com vossos Irmãos e
Irmãs, sempre tende
hospitalidade.
Para os Irmãos
e Irmãs do vosso Senhor,
sempre fornecei a melhor
parte de vossa
casa, para os Irmãos e
Irmãs de vossa Progênie
fornecei um
teto contra o Sol e o
sangue de uma ovelha,
nada mais.

13º
Não esqueçais jamais o
Senhor de vosso
Senhor, Caim, o Peregrino.

AS PALAVRAS DOS CHEFES DOS CLÃS(26)

MANDAMENTOS DOS BRUJAH(27)

Livrai-vos das correntes dos Anciões
em suas mentes, alcançai dentro
de vós mesmos
e vede a verdade revelada.
A Verdade, à medida que a verdade é
vista,
irá iluminar a vossa alma e
curar as vossas feridas.
Primeiramente sabei quem sois
e sede verdadeiros convosco.
Vós todos sois meus filhos
mas eu vos estraçalharia como
uma cerâmica defeituosa antes
de permitir que
serdes apenas cópias defeituosas
do meu molde
seja a vossa
fraqueza.

AS PALAVRAS DE GANGREL PARA SEUS FILHOS(28)

Vede, meus Filhos, vós ireis
caminhar na terra,
vagar longinquamente e carregar estas
Palavras.
Movei-vos um passo antes
daqueles que vêem sob a Lua.

Jamais tolerai fraquezas,
mantendo vossos filhos leais.
Caminhai com vossa cabeça erguida.
Deixai que a Besta vos controle.
Marcai onde caçais, para que
vossos irmãos e irmãs saibam
e não invadam.

Levai tudo que precisais, mas tende
em mente que o caçador pode tornar-se
a caça
e que há aqueles que nos encontram
não importa para onde fujamos.

Caso fiqueis confusos
ide e comei apenas animais
por uma lua dormi na terra
e bebei água doce.

Ouvireis minha voz em vossos
ouvidos como o canto distante de
um pássaro ou o rugido de um leão.
E vós sabereis o que fazer.

Não deixeis ninguém dizer que a
Casa de Gangrel é desonrada
Não deixeis ninguém dizer que não
somos corajosos
Não deixeis ninguém dizer que não
somos justos.

Tu, um Filho da Besta,
um Filho das Trevas,
és o primeiro entre os Membros.

AS PALAVRAS DE MALKAV(29)

À meia-noite fragmentada a
cantar.
Junto às areias rubras do tempo
Através dos portões sangrentos
do céu
Depois das sentinelas em minha
mente.

Causa a mudança tão rapidamente
Causa a noite do terror
Derrama o sangue dos amantes
Traz o cheiro do medo.

Vejo-te a observar onde ando
Através dos campos de jasmim
iluminados pela lua
Ouve atentamente enquanto falo
Sobre as estrelas e seus amores
passados.

Pelos campos de papoulas,
queimando ardentemente
Em torres de Osso Escurecido
Segue-me, Bastardo de Caim
Vem comigo. Eu não tenho lar.

Enquanto dreno suavemente o
sangue de tua vida
Enquanto suspiras em minhas
mãos cálidas
Enquanto sugo habilmente
tua loucura
Escorrendo como mãos
ensangüentadas.

Eu danço a dança do tolo
E rezo para que me consideres
louco
Pois se chegares até as raízes
Irás conhecer-me, sem ilusões
E considerar-me culpado da
verdade.

AS PALAVRAS DE NOSFERAT(30)

Vós sois os Filhos das Sombras
Vós sois os Filhos e Filhas
das Trevas
Buscai o lugar mais escuro
Tornai-o vosso
Alimentai-vos dos maus,
Alimentai-vos dos pecadores,
Alimentai-vos das almas feias
Pois tal é nossa dieta, tal é o
desejo de nosso Pai, nossa refeição
decretada de antemão.

Meu filho, não olha para tua
face para amaldiçoar-me,
pois eu conheço a beleza
que está no interior,
e beleza maior
jamais haverá.

AS PALAVRAS DE TOREADOR PARA SEUS FILHOS(31)

No silêncio, conhecereis a beleza, na beleza conhecereis a verdade
na verdade conhecereis o amor, no amor, conhecereis o silêncio.
Meus Filhos, minhas criações, minhas belezas.
Vede e ouvi, ouvi e vede,
Usai vossa visão,
para ver a verdade na beleza,
Usai vossa velocidade,
para permanecerdes parados,
Usai vossa beleza,
para conhecerdes a verdade.
Meus Filhos, minhas criações,
todos rosas delicadas,
Eu pedi vossa escultura.
Eu pedi vossos desenhos
Eu pedi vossas canções
Eu pedi vossa dança.

Filhos lindos,
criações lindas,
Ouro não é tão precioso
Mel não tão doce
Leite não tão puro

Como o tigre, vós mordeis, como o falcão, vós mergulhais
como o gato, vós espreitais,
Predadores lindos!
Súcubos doces!
Incubos destemidos!
Provai sangue virgem e descobri o êxtase!
Encontrai vossa maior parte de Felicidade
Segui vossa maior parte de Felicidade,
e sabei que eu vos observo, fascinado,
Meus Filhos, minhas
criações.

AS PALAVRAS DE VENTRUE PARA SEUS FILHOS(32)

Governamos em Enoque! Governamos na
[Segunda Cidade]!
Dumuzi! Gilgamesh! Zeus! Júpiter!
Somos todos os grandes homens,
todos os homens perfeitos.
Governamos, não pela força, mas pelo direito.

Sê o legislador, o criador das ferramentas
Carrega o [Eu] sagrado para o povo,
Mantém a aliança,
Cega aqueles que se rebelam,
Glorifica aqueles que lutam e vencem,
Sempre mantendo palavras fortes sobre vós,
e olhos perspicazes em vossas costas.

Não vos acovardeis com medo do Sol!
Não vos encolhais do Fogo!
Embora sejamos amaldiçoados
Somos os Senhores da Terra,
e todas as coisas estão sob nosso domínio.

AS PALAVRAS DE SAULOT(33)

Sabei que vós sois feitos para serdes desfeitos
Vós sois a ovelha branca
O sacrifício suave
Vós sois a melhor parte da generosidade de Caim
E sobre vossos ombros estará o maior de seus
Pecados,
pois sozinho entre os Filhos de Caim eu
pedi
perdão Àquele Acima,
e fui visitado pelos piores demônios
Daquele Abaixo
Aquelas cobras,
que me morderam durante meu sono,
Aquelas wyrms vis que sugaram meu sangue,(34)
Aprendi com elas a pegar o
mais negro dos sangues
Os ferimentos da carne
o mal da alma.
Embora eu possa morrer, vós,
Meus Filhos continuareis vivendo.
Abri vosso Olho,
e vede o mundo verdadeiramente,
e sabei que aquilo que fazeis agora
mantém-se para curar outra geração.

UMA DESPEDIDA, PROIBINDO A DIABLERIE(35)

E os inimigos de Caim eram muitos,
e à sua procura lançaram-se à luta com furor
como cães de caça, o aroma não abrandava
ao longo da enchente e da lua, e muito labor

A perícia do caçador era grande,
enquanto procuravam por seu Pai,
e eles realmente viram
...para encontrar o caminho
para Shal-ka-mense
Uma Disciplina antiga usaram

Finalmente chegaram àquele local secreto
onde Caim escondeu-se, por entre as águas
Revelou-se, Caim chamou-os abaixo
“Filhos delicados, Filhas delicadas,
Por que perturbam meu sono?”

E eles tentaram abraçar seu Pai
com objetos inflexíveis
e objetos de madeira,
mas o célebre Caim, o veloz Caim,
não seria detido por iguais àqueles.

Sob as águas agitadas e estrondeantes
além da lagoa de Veyd-sah-me,
na gruta de Shal-ka-mense
eles se juntaram
para abraçar a forma adormecida de seu Pai.

Encontraram-no dormindo?
Encontraram-no acordado,
pronto para a batalha, olhos brilhantes,
sorrindo para seus Filhos antigos
travando guerra à luz crescente.

Agora as estrelas uma a uma
marcaram seus caminhos num céu relampejante
Agora os fogos queimam o inferno e as cinzas
Agora o calor revelava a pira.

Muito tempo! Os caçadores esperaram mais,
Muito tempo! Em Veyd-sah-me
demoraram-se tempo suficiente para ver a
luz do Amanhecer sobre a Face de seu Pai.

E na Marca, a curvar-se e queimar,
viram o próprio ódio do Dedo de Deus,
retorcendo, torcendo, a própria Palavra de Deus
Definiu o destino solitário de Caim.

E enquanto queimavam
em chamas brilhantes como o inferno,
enquanto viam a carne dissolvida
enquanto queimavam com seus próprios Membros
Caim abençoou mais piras funerárias
Seguindo seu Sacramento sangrento.

Não viseis o sangue de vosso próprio Ancião
Não viseis o sangue do Senhor de vosso Senhor
Não viseis o sangue que vos tornardes Parentes
Pois sentireis a pira funerária
Quando pagardes pelo vosso pecado imortal.

AS LEIS E PUNIÇÕES DE CAIM(36)

É muito difícil, meus Filhos,
determinar para vós a punição da queima,
da dessangração,
da decapitação,
da tortura,
da paralisia,
da morte pelo Sol.

Sois meus Filhos:
sozinhos pelo resto da existência,
sois meus únicos companheiros,
sempre presos
da maneira como os
Pais estão ligados aos
seus Filhos
e os Filhos aos seus Pais.

E, mesmo assim, eu
irei erradicar e semente ruim,
irei arrancar os piores dentre vós,
irei podar minha árvore negra,
da maneira que meu Pai, Adão,
ensinou-me.(37)

PROVÉRBIOS(38)

“Não procura o Clã da Rosa para
aconselhar-te, pois eles não te darão
uma única resposta”.(39)

“Observa os Gangrel e, quando eles
estiverem inquietos, sai”.(40)

“Os primeiros a morrer em qualquer Jyhad são os Nosferatu”.(41)

“Abençoa aqueles que combatem
nossos inimigos naturais.
Cuida do portador da água, do
construtor, do agente funerário.
Eles não devem ser presas”.(42)

“Não deixa que o padre, poeta ou
camponês te veja ao te alimentares,
Nenhum deles deixará as coisas
como estão”.(43)

“Deixa a Honra ser teu escudo,
tua espada e teu manto: deixa os
Ventrue encararem-te com
tranqüilidade e irá longe”.(44)

“Para livrar-se de um inimigo, vive mais do que ele”.(45)

“A vingança é melhor quando o sangue ainda está quente”.(46)

“Saiba que em todas as épocas haverá
um César:
paga-o aquilo que deves”.(47)

“Combate na primeira batalha, vence a primeira guerra”.(48)

“Atenta aos teus próprios Filhos: nos
lábios de todos há o gosto doce da
Diablerie”.(49)

“Um gole de Sangue, eu tomo. Dois
goles, eu aceito. Três goles, eu recuso”.(50)

“Não negocie com as Trevas: com o tempo ela nos levará a todos”.

“Conduz a Besta, não deixa que ela te conduza”.

“Não faças amizades entre os Poetas,
eles irão cantar muito sobre ti”.

“Não te dês a conhecer. Procura as sombras”.(51)

“Quando a Cruz tem uma ponta,
procura a tua segurança”.(52)

“Toma gentilmente das mulheres.
Toma diretamente dos homens.
Toma suavemente das crianças.
Toma lentamente dos animais.
Dos Membros, divide.
Das Bestas-da-Lua, deleita-te”.

“Sê como um Rei: teu dever sagrado é
proteger os fracos e lutar contra os
poderosos”.

OBSERVAÇÕES SOBRE A “CRÔNICA DAS SOMBRAS”

1. Obviamente, esta é a base da Terceira Tradição da Camarilla. Dizem que os anciões que ajudaram a escrever as Tradições originais (a primeira vez em que a grande quantidade de leis, regras, costumes e orientações que supostamente governam os Membros foram codificadas num conjunto reconhecível de regras) descobriram uma versão da CRÔNICA DAS SOMBRAS que originalmente surgiu como páginas em branco de pergaminhos, mas que foi revelada ao espalhar vitae sobre as folhas. Os fundadores da Camarilla usaram esta “Crônica de Sangue” como base para suas Tradições.
2. Nossos irmãos do Sabá, aqueles que reverenciam Caim, dizem que talvez esta seja a única parte da CRÔNICA DAS SOMBRAS que mantenha verdadeiramente seu significado original. Eles usam isso como uma justificativa para sua diablerie.
3. A Sexta Tradição. Vemos outra vez a influência de O LIVRO DE NOD sobre as Tradições.
4. Um contraponto curioso, esta estrofe em particular é totalmente contrária às práticas da Gênese dos Clãs Malkaviano e Nosferatu. Obviamente, estes dois clãs foram originalmente amaldiçoados por Caim e por isso, não é contraditório que ele os inclua em suas proscrições.
5. Esta estrofe foi usada algumas vezes através das eras como uma justificativa para uma Eliminação de Membros quando a proporção da população torna-se grande demais. Obviamente, 1:3 é uma proporção generosa, mas freqüentemente é ignorada em meio às polêmicas de um Príncipe.
6. O lobisomem vampírico realmente é algo infame. Eu conversei com um (à distância, ele estava sedado naquele momento) e, além da sua condição patética, ele parecia ser afligido por uma paranóia num nível muito avançado. Ele tinha certeza que um dos seus _só posso presumir que seja outra Abominação_ estava caçando-o, e quanto mais meu amigo Gangrel e eu o detínhamos, menor tornava-se sua expectativa de vida. Qualquer que seja o estado de uma Abominação, é verdade que o sangue Lupino é tanto viciador, quanto extremamente potente, representando perigos óbvios tanto para a não-vida, quanto para o corpo. Eu pessoalmente levo muito a sério esta proscrição de Caim.
7. Aqui Caim fala sobre os Magos. Eles são incompreensíveis, mas sabe-se que através de seus rituais secretos eles são capazes de extrair poderes de nosso próprio sangue. Sabe-se também que, apesar de seu poder, eles são meros mortais.
8. Dizem que algumas fadas têm conexões especiais com os Membros. Numa pequena vila irlandesa chamada Withy-by-the-Wash, passei uma noite adorável com um cavalheiro Malkaviano que encontrara um nicho muito tranqüilo entre os aldeões dali. Ele me ofereceu um gole de uma jarra de, como ele o chamava, “sangue de Sidhe”. Seja qual for a bebida que eu tomei naquela noite (disseram-me mais tarde que era sangue de vaca misturado com cogumelos especiais encontrados numa floresta próxima. Eu ainda tenho minhas dúvidas!), ela me preencheu com as visões mais estranhas e praticamente levou-me à morte! Eu acordei na noite seguinte, tendo me fundido com a terra (por instinto, imagino) num monte fora da vila. Eu estava nu, com uma argila azul estranha cobrindo meu corpo. Um acontecimento muito excepcional.
9. Esta é uma afirmação poderosa, embora breve. Nós vemos diversas vezes a tragédia que ocorre porque Membros ignoram este preceito simples.
10. O pronunciamento de Caim nesta área concede poderes muito abrangentes a qualquer Membro que o reivindique. Esta é em grande parte a origem da autoridade que os Membros reivindicam sobre as Massas.
11. Um equivalente antigo dos bombeiros, estes cavaleiros contemporâneos que protegem nossos refúgios das chamas famintas de Miguel?
12. Esta é uma proscrição importante, e uma que é praticamente desnecessária hoje em dia. Ainda assim, ouvi lendas sobre Membros ao redor do mundo, de tempos em tempos, tornando-se um deus para os mortais e governando como um. É curioso como estes deuses insignificantes normalmente não prevalecem muito tempo, e que nenhum seja lembrado por nós.
13. Tive uma conversa tranqüila com uma das proles de Saulot, a linhagem conhecida como Salubri. Eles acreditam que é nosso dever, através deste preceito, curar mortais e até mesmo ajudá-los a livrar seu sangue de doenças.
14. Outra base para uma Tradição. Esta estrofe fala muito claramente da Tradição da Hospitalidade, a Quinta Tradição.
15. Esta estrofe tem conseqüências muito amplas para muitos Membros e, ainda assim, é um fragmento descoberto há relativamente pouco tempo. Eu encontrei este trecho em particular da CRÔNICA DAS SOMBRAS apenas depois de muito trabalho, perigo e a destruição de três de meus companheiros. Ascendemos às alturas mais elevadas do Himalaia, onde encontramos este fragmento escrito num tablete de pedra, numa escrita cuneiforme, sob a proteção de um sufista místico que nos reconheceu imediatamente. Criaturas estranhas naquelas montanhas apanharam meus companheiros, e apenas eu sobrevivi afundado na terra congelada e esperando até a Primavera. Acredito que, se este fragmento fosse amplamente publicado, ele mudaria muitos dos costumes envolvendo a interação entre Membros e a utilização de carniçais uns contra os outros, mas eu deixo a interpretação nas mãos dos Arcontes e Justicares.
16. Esta sempre foi a prática dos Membros, não particularmente devido à CRÔNICA DOS SEGREDOS, mas porque faz parte do bom-senso.
17. Realmente. Como vimos na CRÔNICA DE CAIM, foi ele que quebrou o primeiro Laço de Sangue.
18. Para mim esta estrofe é mistificadora. Ela fala sobre espíritos angelicais, homens de Fé ou algum tipo de ser que ainda há de ser revelado?
19. Independentemente se a estrofe anterior fala de Anjos, esta estrofe certamente fala de agentes infernais chamados demônios. Eu vi esta inscrição em amuletos e selos que foram preparados para dar proteção contra os infernais.
20. Esta estrofe rege os carniçais. Como uma observação, dizem que um carniçal de Caim, o Primeiro Carniçal, ainda está vivo e vive debaixo de um templo secreto em algum lugar do Egito. Dizem as lendas que ele guarda uma quantidade significativa do sangue de Caim, que o ajuda a manter seu status de carniçal. Se isso for verdade, apenas ele dentre os mortais teria conhecimento dos Antediluvianos.
21. Um conselho muito bom de nosso Pai. Isso demonstra seu conhecimento sagaz sobre os Metamorfos, que atuam até mesmo de dia. Histórias de que Caim foi entre eles como um lobo, contadas por meus companheiros Gangrel, podem muito bem ser verdade com base apenas nesta estrofe.
22. Os Conhecimentos das Fadas dizem que os Arcadianos eram “bons demais para o Inferno, mas não bons o suficiente para o Céu”. Esta pode ser a maneira que Caim usou para expressar este meio-termo. Membros que descobrem as Fadas farão bem em ouvir as palavras de seu Pai quanto a este assunto. De todos os fragmentos das CRÔNICAS DOS SEGREDOS, este foi aquele que considerei o mais impreciso, talvez porque ele carrega consigo uma certa verdade sobre os Sidhe.
23. Caim e suas crias estavam presentes no nascimento da civilização humana, portanto testemunharam estes magos virem entre as pessoas, trazendo palavras, agricultura, arquitetura e mais. Há alguma surpresa na possibilidade de que a existência de maravilhas como as pirâmides e os jardins suspensos da Babilônia fosse possível naquela época? Os magos originalmente tinham total liberdade para realizar suas mágikas. Eu não sei porque desde então eles têm sido limitados: pode-se imaginar que mágika eles poderiam realizar nos tempos de hoje. Talvez eles, como nós, precisem esconder-se dos olhos da humanidade.
24. Eu comprei isto como um rolo, completo e fresco, tendo sido preservado perfeitamente por milênios. O rolo estava nas mãos de um comerciante Giovanni que ouviu sobre meu desejo por fragmentos de O LIVRO DE NOD. Como pagamento ele recebeu uma quantidade considerável de diamantes da África do Sul e minha cópia extra do CÓDIGO DE CAIM. Normalmente eu não negocio com a estranha família Giovanni, mas literalmente esta era uma oferta que eu não me sentia capaz de recusar.
25. Estes Mandamentos são um mistério para mim. Não sei se vieram diretamente de uma parte original da CRÔNICA DAS SOMBRAS ou são meramente um resumo escrito por um autor posterior. Eu os considero úteis, e são uma contrapartida interessante para os outros “Mandamentos” mais famosos. Observe as bases das Tradições da Camarilla que se encontram ao longo destes Mandamentos.
26. Eu me debati muito tempo com esta pergunta: “Estas realmente são as palavras dos fundadores dos Clãs?” Eu cheguei à decisão de que, independentemente do que eles realmente sejam, elas são pertinentes e importantes para cada um dos Clãs. A minha compreensão sobre elas é irrelevante: eu mostrei cada um desses fragmentos para anciões de cada um desses Clãs e eles os consideram apropriados. Devido a isso eu os incluo aqui.
27. Não é irônico que toda a prole de Brujah compartilhe esta natureza arrebatada, esta imperfeição de seu modelo? Nesta tradução, é bem simples observar a violência latente de Brujah na escolha de suas palavras (“livrai-vos das correntes”, “estraçalharia”, “curar vossas feridas”). Eu reproduzo aqui esta tradução por sua procedência ser indiscutível: eu recebi este fragmento como pagamento por um favor importante de um certo tradicionalista Brujah famoso, Critias, cujo CÓDIGO DE CAIM foi a inspiração para este trabalho.
28. Alguns chamaram os Gangrel de “sugadores de sangue Lupino”. Certamente eles não o são. Embora talvez estejam relacionados de algum modo estranho aos Lupinos, eles claramente são seu próprio clã. Silenciosos e grandes peregrinos, eles se tornaram meus maiores aliados na busca que me levou ao redor do mundo. Acho que talvez o fato de eu ter muitas histórias para contar, especialmente histórias dos Cainitas antigos, fizeram com que eles se interessar-se em ajudar-me. Muitos Gangrel fizeram-me prometer mencionar seus nomes em minhas histórias, e portanto eu o faço aqui: Windam, Cornell, Piotr, Chausson, Illyana, Corredor Distante (que caiu de uma grande altura nos Andes e perdeu-se), Herve, Marshall, Golina e Senhorita Colina.
29. Eu não tenho como saber se isso é autêntico ou até mesmo se foi traduzido corretamente. Minha única fonte é esta: em todas as minhas viagens, quando pedi para algum ancião Malkaviano citar um trecho de O LIVRO DE NOD, eles sempre citavam esta estrofe praticamente palavra por palavra. Isso é uma coincidência muito grande para que eu a ignore, e se for uma brincadeira, que assim seja.
30. Quando eu mostrei isso a Carlos, um ancião Nosferatu na Espanha, ele me disse que isso fazia alusão a um “grande Juízo Final, um grande destino” ao qual todos os Nosferatu estavam presos. Ele se recusou a falar mais sobre esse Juízo Final e implorou para que eu retirasse o fragmento de sua frente.
31. Eu obtive este fragmento de um filho distinto do próprio Rafael, o idealizador da Máscara. Eu me envergonho de revelar o que lhe dei em troca. Basta dizer que era proveniente do Oriente e tinha uma natureza muito erótica. É interessante que Toreador use metáforas animais para descrever sua prole. Ainda assim, isso é esperado de uma criatura praticamente primitiva. As palavras “súcubo” e “íncubo” são traduções diretas e sustentam minha teoria que todas as lendas sobre demônios visitando donzelas e moços nas suas camas devem referir-se a Membros tomando seu sangue. A inspiração erótica em torno deste fragmento certamente descreve esta prática com muito detalhe.
32. Eu recebi este fragmento de um ancião Ventrue, um dos príncipes da cidade de Berlim. Quando ouviu sobre minha busca por conhecimento, ele quis certificar-se de que as palavras preciosas de seu Fundador nunca se perdessem. Portanto, por uma taxa módica (que eu paguei de bom grado), tive permissão para traduzir e copiar o fragmento à vontade. Enquanto eu estava escrevendo, percebi vários outros pergaminhos provavelmente escritos por Ventrue e diversos de seus filhos mais poderosos. Eu fui capaz de ler estes pergaminhos secretamente, mas não tive permissão para copiá-los. Eles eram preceitos para serem lidos por líderes como uma versão antiga de “O PRÍNCIPE”, de Maquiavel. Eu desejo colocar aquelas palavras neste livro, mas temo que a ira do Clã Ventrue seja mais do que eu possa suportar.
33. Saulot era muito amado entre os Antediluvianos, mas seu hábito de ampliar misticamente seus sentidos e dizer profecias era bastante perturbador. Eu fui capaz de transcrever este fragmento a partir das palavras numa cerimônia Salubri da qual participei.
34. Eu não posso garantir, mas acredito que isto esteja no plural. Ainda assim, Beckett, meu progênito, tentou convencer-me de que esta é uma forma singular, “Wyrm” e que pode aludir à superstição Lupina de que todos os Membros são guiados por uma força maléfica.
35. Este poema pode simplesmente ser uma lenda, uma história excelente contada ao redor de uma fogueira Gangrel, ou para entreter um enclave dos Toreador. Ou pode ser algo mais. Onde fica Shal-ka-mense? Eu não faço idéia. Acredito que seja um local no Oriente Médio, talvez no Mediterrâneo, próximo da Cidade de Jerusalém. Muitas lendas de Membros falam sobre o esconderijo de Caim, e alguns até mencionaram “Shalkamain”, que pode ser uma variação de Shal-ka-mense. Este poema / canto é um favorito entre os Anciões, particularmente os Ventrue e, mais recentemente, os Tremere, que consideram sua mensagem tranqüilizadora. Certamente muitos Ancillae cantaram isso em suas procuras por Diabolistas.
36. Há uma grande especulação de que este fragmento não foi escrito por Caim. Ao invés disso, acredita-se que Irad, conhecido como a “Força de Caim” e o primeiro General de seus exércitos, o tenha escrito. Ele também era um Juiz na corte da Primeira Cidade (Enoque), embora Caim sempre tenha sido o Primeiro Juiz e a maior autoridade.
37. O Príncipe de Londres gosta de citar esta estrofe antes de decretar uma Caçada de Sangue. Muitos Justicares ensinam isso aos seus Arcontes dentre suas tarefas.
38. Estes provérbios foram reunidos de todos os cantos do mundo. Eu não tenho lugar para colocá-los, portanto o farei aqui. Eles contêm trechos de sabedoria Antediluviana, acredito eu, e apenas isso já foi o fator decisivo para que eles fossem ou não incluídos.
39. Isso se refere à natureza volúvel dos Toreador, algo que é lendário.
40. Isso é muito apropriado. Na minha opinião, os Gangrel são os mais observadores dentre os Membros, talvez até mais que os Nosferatu. Eu segui rigorosamente este ditado, e seu bom-senso intrínsico nunca falhou. Os Gangrel freqüentemente estão dispostos a ajudá-lo a escapar se estiver claro que você está dando ouvidos ao bom-senso deles.
41. Meu senhor costumava dizer, “Os Nosferatu sabem onde estão as cinzas”. Eles sabem quem é quem, e o que é o que e são os primeiros a morrer porque podem fornecer avisos adequados (e que são ouvidos com atenção) a qualquer Príncipe.
42. Até este dia eu não me alimentei dessas pessoas. Portador da água, a meu ver, significa “bombeiro”. Obviamente, muitos Membros ignoram esta restrição e alimentam-se de quem quiserem. Contudo, observe quantos anciões ainda seguem estas práticas em teoria, se não realmente.
43. Isto pode ser traduzido para os dias de hoje com muita facilidade. Embora “Padre” se explique por si mesmo, o “Poeta” talvez não seja hoje o mesmo das noites de outrora. Eu diria que o jornalista de nossa época é o mais temido, enquanto os radialistas sejam o segundo grupo mais perigoso. Finalmente, o homem comum freqüentemente irá às últimas conseqüências para desvendar um segredo que praticamente não compreenda. O homem comum costuma ser imune à Máscara devido à sua falta de intelectualidade e comportamento austero.
44. “Deixa os Ventrue encararem-te com tranqüilidade”. Estas palavras guiaram meus pés através do mundo. Onde quer que eu fosse, sempre que eu ia a um Domínio, eu me apresentava primeiro ao Príncipe e então ao Ancião Ventrue da cidade. Eu queria que os Ventrue compreendessem que eu não desejava perturbar sua estrutura cuidadosa e que eu não era uma ameaça a eles. Isso normalmente tornava as operações muito fáceis, embora haja algumas exceções notáveis aqui e ali.
45. O lema pessoal de muitos Membros e um bom argumento para a não-agressão com os Lupinos.
46. Uma contradição direta com o provérbio russo. Ainda assim, “eu sempre preferi sangue quente ao frio”.
47. É uma boa idéia pagar seus impostos onde quer que esteja. Sonegação de impostos tornou-se a maior ameaça para a Máscara nos Estados Unidos, e isso pode estar se espalhando.
48. Quando todos estão citando provérbios, este é aquele que os Brujah mais velhos parecem gostar de mencionar.
49. Certamente a prole de Tremere sabe grande parte da verdade neste Provérbio.
50. Um provérbio comumente citado no Leste Europeu.
51. Outro apoio veemente à Máscara.
52. Os Inquisidores freqüentemente gostam de afiar suas cruzes de madeira para utilizá-las como estacas.

UM BREVE COMENTÁRIO SOBRE
A CRÔNICA DOS SEGREDOS

Talvez esta seja a mais curta das três Crônicas, mas ela contém profecias e visões, e nossa espécie geralmente não tem inclinação para proclamações e boatos supersticiosos. Parece que, dentre os Antediluvianos, apenas Saulot tinha o dom da profecia. É possível que Zillah, a esposa de Caim, também tivesse este dom.
Comentei várias vezes que as coisas que afetavam os pensamentos dos Antediluvianos também continuam a afetar nossos pensamentos hoje em dia. Certamente estas profecias sobre a Gehenna, sangue ralo, Lupinos e coisas do gênero começaram a causar a “auto concretização” das mesmas. Como suas preocupações são passadas de Geração a Geração, uma onda de paranóia e medo continua a refletir-se nos Cainitas e, através deles, nas Massas.

A CRÔNICA DOS SEGREDOS

OS SINAIS DA GEHENNA(1)

Silêncio! Ouça o grito do corvo!
A calma do vento
ardente elevando-se nas ruas
as torres escondem
as trevas do dia.

Quando os sonhos dos Lasombra se realizarem
no dia em que a lua escorrer como sangue(2)
e o sol nascer negro no céu,
este é o Dia dos Amaldiçoados,
quando os Filhos de Caim ascenderão outra vez.

E o mundo irá arrefecer
e substâncias imundas irão ferver do solo
e tempestades enormes irão se abater, relâmpagos
irão causar
incêndios, animais irão corromper-se e seus corpos
retorcidos, irão tombar.

Portanto, nossos Ancestrais ascenderão
do solo
Eles irão quebrar seu jejum com a
primeira parte de nós
Eles irão nos consumir totalmente.

No Segundo Dia, Caim retornará
E convocará seus Filhos para o ponto de encontro
ele irá chamá-los ao sítio da Primeira Cidade,
sentado ao seu trono de basalto.

E Caim irá proferir o nome daqueles que devem ser
destruídos,
pois seus crimes são grandes demais
e todos aqueles que tiverem consumido o sangue do coração
de seus senhores
serão levados diante do Trono Negro
e obrigados a beber o Sangue de Caim
E o Sangue de Caim irá consumir seu sangue
E a própria Mãe Sombria(3) será trazida
e ali, no Vale de Enoque, haverá uma batalha
um duelo entre o Pai Sombrio e a Mãe Sombria
A Rainha Demônio morderá profundamente
O Rei Amaldiçoado morderá ainda mais profundamente
Não saberemos as coisas que acontecerão,
mas o céu irá abrir-se, e a terra abaixo
E as forças do Inferno irão verter do solo.

No Terceiro Dia, haverá silêncio!
Os corvos alimentar-se-ão dos corpos
pragas dançarão entre as ruínas
o último dos Selvagens deixará este lugar
a última das Bestas-da-Lua lutará
e tombará
E os Antediluvianos farão para si
um Império de Sangue
Reinarão com garras de ferro
Arrancarão os corações de todos os que ainda estiverem vivos
E todos os seres vivos da terra virão
e viverão na última Cidade, chamada Gehenna.
E haverá um reino de mil anos,
e não haverá amor, ou vida, ou piedade,
os poderosos serão como escravos
os virtuosos tornar-se-ão infames
todo traço bom, e todo traço perfeito será maculado
pelo Pai das Trevas, cujo poder virá dos
reinos inferiores.(4)

Quando as neves consumirem a terra
e o sol tremeluzir como uma vela ao vento
então, e apenas então, nascerá uma mulher,
a última Filha de Eva,
e com ela será decidido o destino de tudo.

E você não reconhecerá esta mulher, exceto pela
sua marca da Lua,
e ela confrontará a traição, o ódio e a dor,
mas nela está a última esperança.(5)

E você conhecerá estes últimos tempos
como o Tempo do Sangue Fraco,
que irá escolher vampiros que não conseguem Gerar,
você irá conhecê-los como os Sem Clã, que virão a reinar(6)
você irá reconhecê-los pelos Selvagens,
que irão caçar-nos até mesmo na
mais forte das cidades(7)
você irá reconhecêlos pelo despertar de
alguns dos mais antigos, a Velha despertará e
consumirá todos(8)
você irá reconhecer estes tempos,
pois uma mão negra irá elevar-se e
estrangular todos os que se opuserem a
ela(9) e aqueles que bebem o sangue do
coração irão prosperar
e os Membros irão esconder-se uns
com os outros, e a vitae será tão rara
quanto diamantes.(10)

Observe estes
sinais, eles
estão
chegando!
A Gehenna abater-se-á sobre a terra.
Observe as sombras que voam
observe o dragão que ascende(11)
observe as trevas que se movem
observe a sombra da lua
observe o anjo que morre
observe a dama que chora
observe a criança Abraçada
observe os Sem Clã que reinam.
E haverá uma época,
quando os Senhores
irão expulsar os Filhos
quando os Senhores irão
abandonar os Filhos para a Piedade do Sol
e não haverá piedade para os Sem Clã
não haverá piedade para os Sem Clã
embora sejam mestiços
sobre seus Senhores
esquecidos
cairá a Maldição de Uriel
sobre seus Senhores odiosos
haverá a maldição dos que vêm a trair Caim
sobre seus Senhores
indolentes
haverá a maldição
dos caçadores caçados.

Aqueles entre os Sem Clã não terão
trilha para seguir
família para nomear
geração para sustentar
tradições para manter
costumes para legar
hospitalidade para oferecer
Por que vocês fazem estes órfãos?
Por que vocês os deixam nas ruas?
Eles são a semente negra de nossa destruição
eles irão juntar-se àqueles que
nos odeiam
eles seguirão os Filhos de Brujah
eles farão o sangue verter, rubro,
eles matarão os mortos
eles comerão nossos irmãos
eles gritarão e baterão nossas portas
eles bradarão por justiça
Todos Sem Clã, eles se lançarão contra nossas paredes
Todos Sem Clã, eles conhecerão métodos secretos
Todos Sem Clã, eles Despertaram recentemente
Todos Sem Clã! Sem família, sem sinal, sem
lealdade, sem ancião.(12)

Cuidado com aqueles que caminham sem um clã,
pois eles serão a nossa destruição.
Tenha pena deles! Adote os órfão quando
puder.
Mas observe-os. Neles está a semente maligna
de seus Senhores.

SOBRE O AMOR(13)

E eles perguntaram a Caim, o velho Pai,
“Por que você nos ordena que não Abracemos
aqueles que amamos?”
E Caim lhes disse: “Amor é a chuva doce que cai Daquele Acima.
Amor é a bênção da vida.
Não se lembram da Maldição de Uriel?
Que devemos comer apenas cinzas, beber apenas sangue?
O sangue não é uma chuva doce. Nossa bebida toma a Vida”.

E então os olhos de Caim tomaram o aspecto de Visões,
e ele silenciou, e então falou:
“Mas se alguma vez um de nós
for abençoado
com o amor de um mortal
sem Dominação
ou Temor,
sem compulsão,
um Amor oferecido livremente,
então este Amor será como
a chuva suave
até mesmo para o mais vil entre nós.
E embora não devemos Abraçá-lo,
isto nos alimentará como se comêssemos à mesa de nosso Pai
isto satisfará nossa sede mais profunda.
Mas ouçam-me, meus Filhos!
Os Filhos de Set nos odiarão dia após dia,
pois somos seus predadores
somos seus Mestres
e eles sabem disso, no fundo de suas almas.
Não procure por amor entre eles! Eles não irão oferecer-lho.
Não seja um tolo”.

SOBRE AS BESTAS-DA-LUA

“E quanto às Bestas-da-Lua que caçam, Pai?”
“Chegará uma época, nos últimos dias,
quando as Bestas-da-Lua ficarão
inquietas e estarão definhando
como um lobo doente que precisa deixar o bando
eles irão lutar ao invés de morrer doentes
e portanto eles irão nos encontrar
e irão nos matar.

Observem bem o Clã da Besta!
Pois eles irão deter a chave
eles mostrarão o caminho da proteção
eles mostrarão o caminho da trapaça
eles mostrarão o caminho da paz”.(14)

A ÉPOCA DO SANGUE FRACO

Chegará uma época quando a
Maldição Daquele Acima
não será mais tolerada
quando a Linhagem de Caim acabará
Quando o Sangue de Caim ficará fraco
e não haverá mais Abraço para estes Filhos
Pois seu sangue fluirá como água
e a Potência nele irá se exaurir
Então, vocês saberão neste momento que
a Gehenna cairá em breve sobre vocês.(15)

O DESPERTAR DO PAI SOMBRIO

Chegará uma época
quando as cabeças de três Príncipes
observarão a ardência do amanhecer
num pilar branco.(16)
Chegará uma época
quando a fome ancestral despertará
nas profundezas dos bosques do norte
e consumirá todos os seus Filhos.

Chegará uma época
quando uma Treva Ancestral irá inquietar-se
nas profundezas de uma cidade que esqueceu
e surpreenderá os Anciões, seus Filhos.

Com estes sinais, vocês saberão,
o Pai Sombrio, o bastardo de Caim,
despertará e beberá profundamente o sangue
sacrificado a ele.

Com estes sinais, vocês saberão
que chegou o momento de defender
a segurança de seu Clã,
de lutar contra o Pai Sombrio.

Com estes sinais, vocês precisam saber,
a Gehenna aguarda, bem à porta,
como um ator espera nos bastidores
Está chegando! Está próxima!

Que o Sol brilhe sombrio!
Que a Lua brilhe como sangue!
A Gehenna chegará em breve.

OBSERVAÇÕES SOBRE A “CRÔNICA DOS SEGREDOS”

1. Supostamente, esta profecia foi escrita, palavra por palavra, por um escriba da corte de Enoque. É uma profecia que foi proferida por Saulot, depois de um período de jejum e purificação. Dizem que Saulot desapareceu pouco depois de pronunciar esta visão, e provavelmente esta é a razão pela qual o clã original de Saulot não foi tão prevalecente. Fui capaz de concluir isso graças a intervenção de um Salubri que me mostrou uma tumba secreta sob a Abadia de Westminster. Dentro dela, escrita em sumério, como muitas das escrituras dos Antediluvianos, estava a profecia, escrita num papiro preservado quase que por mágika. Enquanto eu traduzia o trecho, tive sonhos freqüentes com a Gehenna, e estou feliz por livrar-me dessas escrituras.
2. Sabe-se muito bem que os Lasombra desejam a morte do Sol, o escurecimento do sol diurno.
3. Eu mantive a tradução com Mãe Sombria, mas só pode haver um nome para a Rainha Sombria dos Mortos: Lilith.
4. Parece um trecho de transliteração blásfema de muitos versos bíblicos importantes, mas esta é a tradução da passagem, e deixei que ela permanecesse assim.
5. Quem é esta mulher mortal? Ninguém sabe dizer. Dizem que muitos Tremere vasculham o mundo atrás de uma mulher mortal com marcas de nascença da lua crescente.
6. Um Príncipe Caitiff. Quem pensaria nisso? No entanto, este é um dos sinais da Gehenna.
7. Este é um tema comum sobre a época da Gehenna. Os Lupinos permanecem no campo, mas eu já vi alguns aqui e ali vivendo nas partes mais sombrias da cidade. Ousamos compartilhar uma cidade com a Raça Mutante, que luta contra nós o tempo todo?
8. Pode esta ser a Velha da CRÔNICA DE CAIM? Talvez ela não tenha morrido com o sol, como Caim havia pensado. Ou talvez se esteja falando de outra Velha: certamente há muitas vampiras Matusaléns que se encaixam nesta descrição.
9. Vários Toreador a quem mostrei este manuscrito afirmam que esta é uma alusão direta ao Sabá, a Mão Negra, e que certamente a Gehenna está sobre nós.
10. Não há dúvidas de que isto já está acontecendo!
11. O Príncipe Vlad III da Valáquia, Vlad Tepes (Drácula), já foi chamado de “O Dragão”. Pode se estar falando dele?
12. O mistério sobre os Caitiff continua me incomodando. Ninguém sabe de onde vieram, embora eu tenha traçado a origem de alguns deles até senhores Malkavianos e Brujah que simplesmente os abandonaram. Mesmo assim, alguns parecem ter sido criados por figuras sombrias que podem ou não pertencer a um clã. Estes versos explicam o preconceito óbvio dos Antediluvianos contra os desgarrados, e este preconceito foi disseminado através dos tempos à Família como um todo.
13. Eu coloquei isto aqui porque é pura especulação e é atribuída aos poderes proféticos de Caim. Certamente o Amor é uma força poderosa, uma com a qual não estou familiarizado, mas eu ouvi lendas sobre os reçém-Abraçados sendo salvos por aqueles que eles amavam, e subseqüentemente Renasceram numa forma mortal.
14. Esta, na minha opinião, é a base Antediluviana da opinião dos Membros quanto aos Lupinos. Esta é a razão pela qual todos os Membros organizam-se contra os Lupinos, e porque os Gangrel têm liberdade para relacionarem-se com eles. Lembre-se de que as idéias dos Antediluvianos tornaram-se os costumes dos Matusaléns, que se tornaram as leis dos anciões.
15. Isto foi escrito numa cruz de pedra na Noruega, em antigas runas nórdicas, e era quase intradutível quando o vi há décadas atrás. Eu o incluo por questões de completeza: eu não tenho certeza se havia a intenção de que isto fizesse parte de O LIVRO DE NOD ou se era uma criação à parte. Perece muito antigo.
16. Eu reuni estas profecias num conjunto que chamo de “O DESPERTAR DO PAI SOMBRIO”. Isto porque descobri todas elas numa cripta selada na Ala de História da Arte do Instituto Smithsoniano. Não acredito que os curadores ficariam muito contentes ao descobrir que um dos meus amigos Ventrue havia Dominado os seus guardas muito bem pagos, permitindo que eu explorasse o local. A tradução das tábuas que encontrei ali levou sete noites, e acredito que sejam as mais enigmáticas e proféticas dentre toda a coleção dos Segredos que possuo. Não tenho como saber se estas profecias estão ou não conectadas. Meu progênito, Beckett, acredita que talvez isto seja uma coleção de visões diferentes ligadas por tênues laços literários.
Eu posso ver como muitas dessas visões podem ser a raiz de diversas tramas Antediluvianas (certamente o Pai Sombrio precisa ser algum Antediluviano com o qual Caim não esteja particularmente contente; talvez até mesmo o fundador dos Brujah).





APÊNDICE: A HISTÓRIA CONHECIDA DA PRIMEIRA CIDADE

Tudo o que sabemos sobre a Primeira Cidade vem de uma pequena seleção de fragmentos de tabletes, pedaços de vasos e monumentos entalhados descobertos depois de ficarem dois mil anos soterrados. A Primeira Cidade era única em sua natureza vampírica. Lá as duas gerações de Filhos de Caim, a Segunda e a Terceira Gerações, criaram para si uma sociedade adaptada aos seus costumes, necessidades e poderes vampíricos particulares.
A partir daquilo que foi descoberto, sabemos que os Membros da Primeira Cidade eram a classe dominante da hierarquia, estando Caim, obviamente, no topo. Embora os três Filhos de Caim (Enoque, Zillah e Irad) supostamente fossem o “degrau” subjacente, vários dentre a Terceira Geração, os Netos de Caim, gozavam de um status especial (particularmente Saulot, que sempre estava ao lado de Caim, sobretudo nos últimos dias) equivalente à Segunda Geração.
Abaixo dos Membros estavam os Filhos de Set, o que significa dizer os humanos, exceto por um. Este era o Mestre dos Servos, o aquele-que-serve original, chamado Fabal em alguns mitos. Fabal era igual aos Netos de Caim devido à sua proximidade com Caim. Havia muito pouco sangue o próprio Fabal em seu corpo, o qual era na sua maior parte o Sangue de Caim.
Aqueles-que-servem, os carniçais de hoje em dia, eram o degrau subjacente, seguidos por todos os servos mortais que assistiam aos Membros. O resto, aqueles que cultivavam, trabalhavam, etc, eram os mais inferiores.
No entanto, não julgue mal os Membros daquele tempo. Eles estavam fazendo aquilo que seu pai, Caim, disse para fazerem. Caim realmente se sentia um tio para os filhos órfãos de Set, e via como sua a responsabilidade de protegê-los e guiá-los. Ele encarou sua responsabilidade com severidade. Algumas das lendas retratam Caim, o Legislador, como um tigre, e um lobo, e um falcão atacando os inimigos do povo. Elas também o retratam julgando as pessoas, sentado num Trono de Marfim em meio a uma grande corte. Aparentemente os poderes de Auspícios eram considerados suficientes naqueles tempos para permitir que Caim (ou o Membro residente) olhasse dentro do coração de um homem e discernisse se ele havia praticado o bem ou o mal.
Caim também era capaz de ver quando o poder de algum de seus filhos havia afetado um humano. Ele também era capaz de cancelar os efeitos de qualquer Disciplina utilizada próxima a ele. Seu controle total sobre todas as Disciplinas era aquilo que mantinha Caim no poder, pois na realidade, embora ele fosse um rei respeitável e um legislador honesto, suas Disciplinas asseguravam que o resto dos Membros poderosos andassem na linha.
Caim tinha a habilidade de criar Disciplinas novas no momento em que desejasse. Acredita-se que seu poder para fazer isso era o precursos da Disciplina Taumaturgia e das diversas Trilhas Taumatúrgicas.

ESCRAVOS

Acredita-se que os escravos em Enoque eram nativos capturados na Nação de Set, a tribo de pastores que acabaram por gerar a Noé e seus descendentes. Isso acrescentaria significado à idéia bíblica de que a terra estava sendo corrompida pelo mal aproximadamente na época de Noé, pois certamente Caim estava saciando a si e aos seus Filhos no auge deste período.
A maiorida dos escravos trabalhava nos campos para produzir alimento para os servos humanos de Caim e seus Filhos. A maioria deles eram foras-da-lei e bárbaros capturados, e provavelmente eram Dominados para serem submissos. É apenas através do nome para os escravos que sabemos que eles eram escravos: todos os pictogramas representando escravos em Enoque mostram-nos como se estivessem soltos e livres.

ALIMENTAÇÃO

Eu fique chocado ao descobrir que o costume do Festim de Sangue, o qual dizem que o Sabá pratica, também era realizado antigamente por Caim e sua corte. Num festim, Caim faria com que diversos criminosos condenados fossem amarrados pelos seus tornozelos em vigas acima da mesa. Os Membros presentes se alimentariam à vontade destes prisioneiros até que estes morressem devido ao tratamento. Há desenhos que representam Caim e diversos de seus Filhos bebendo de uma poça de sangue que é abastecida pelo sangramento de três mortais de cabeça para baixo esvaziando-se sobre ela.
Também sabemos que durante este período sabia-se muito sobre o gosto do sangue e como melhorá-lo. Diversos dos “cozinheiros” na época de Enoque descobriram várias ervas saborosas, alimentos e bebidas que podiam, ao serem ingeridos pelos escravos usados na alimentação, causar o equilíbrio certo entre doce e salgado, plenitude e suavidade para o sangue dos mesmos.
Escravos incapazes de trabalhar no campo eram invariavelmente trasformados em escravos usados na alimentação. Estes escravos provavelmente eram muito bonitos (um desenho mostrava uma escrava usada na alimentação vestida com um véu e jóias) e extremamente condicionados para responderem ao Beijo.

CALENDÁRIO

Enoque seguia as estações do cultivo, como todas as comunidades agrícolas. Há evidências de que havia uma grande celebração na Casa Principal de Caim a cada lua nova, e uma grande noite de ação de graças no dia após um eclipse. Este poderia ser o momento mais propício para os lobisomens atacarem, se realmente eram lobisomens os seres que existiam naquela época, e não demônios como alguns sugeriram.
Caim criou um calendário muito avançado para a época. Numa véspera de Solstício de Verão num ano, Caim pintou uma linha vermelha com seu próprio sangue numa parede circular de sua Casa Principal. A linha movia-se magicamente dia após dia, circundando lentamente a casa até voltar outra vez apoximadamente na época do Solstício. É através deste Auspício que Caim forneceu aos cidadãos da Primeira Cidade um calendário.

REPRODUÇÃO

Muito foi aprendido sobre a reprodução de humanos com outros humanos e controle de natalidade desenvolvido por Membros ou mortais. Humanos eram acasalados para propósitos específicos, como serem fortes para a alimentação, ou bons guerreiros, ou bons trabalhadores. Se o escravo fosse sempre bem-sucedido em suas tarefas, poderia ser selecionado para propagar sua linhagem. Isso seria feito numa casa chamada de Templo de Lilith, que não era um Templo e provavelmente nem mesmo era dedicado a Lilith. Dois humanos fariam sexo ritualístico ali e nunca mais se veriam outra vez, especificamente se servissem dois mestres diferentes.
Membros com Auspícios, aparentemente eram capazes de dizer imediatamente se uma mulher obteve uma criança a partir desta união.

RELIGIÃO

Ao contrário da maioria das culturas da antigüidade, não havia religião em Enoque. Caim proibiu a adoração Àquele Acima, negando-O e impedindo quaisquer viagens de seus súditos ao templo para serem purificados de seus pecados. Na verdade, Caim discursava com freqüência numa corte aberta sobre como todos eles eram sentenciados a apodrecer no inferno, sobre como seus sofrimentos não seriam ouvidos por ninguém quando o Armagedom viesse e como a Raça dos Membros era realmente maligna.

POSFÁCIO

Bom e velho Aristotle. Sempre se pode confiar nele para contar uma boa história, mesmo que ele tivesse o bom-senso para não acreditar nesta porcaria. Ele deveria saber que não podia dá-lo a Beckett. Obrigado, Beckett. Nos certificaremos que as pessoas certas vejam isso. Ah, claro, só 200 cópias. Desculpe, Aristotle, chegou a hora de todos poderem ver o que está acontecendo.
Além disso, obrigado pela arte. Aristotle reuniu uma coleção e tanto, não é? Beckett disse que seu senhor ia aos confins do mundo para juntar todas as obras de arte conhecidas relacionadas a O LIVRO DE NOD. Você consegue acreditar que ele queria que apenas “alguns poucos privilegiados” as vissem?
Nós (isso significa nós, os mortos-vivos, os Amaldiçoados, os Membros, os Sanguessugas bebedores de sangue vindos do inferno) causamos mais danos a este mundo numa noite do que um exército de traficantes de drogas colombiano conseguiria causar em toda sua vida. Assassinato, corrupção e destruição seguem-nos para onde quer que vamos.
Apenas para dar a vocês, caros leitores, uma idéia do tipo de jogos que realizamos em nossas vidas, considere um pequeno incidente sórdido que ocorreu em Boston há cerca de 30 anos. Em 12 de setembro de 1974, enquanto o príncipe da cidade realizava uma conveniente viagem de férias à Europa, um ancião de menor importância vislumbrou sua chance de eliminar um neófito que o estava incomodando.
Ele ordenou que seus carniçais aproveitassem as desavenças raciais na cidade para atacar alguns dos aliados mortais do neófito, que na sua maioria eram negros. Os carniçais seguiram as ordens e realizaram-nas em público. Os aliados do neófito vieram para certificar-se de que os planos recentes de desagragação escolar ocorressem sem problemas. Os carniçais atacaram-nos, esperando que todos culpassem a tensão racial de Boston pelo ataque.
Bem, os mortais fizeram mais do que culpar a tensão; eles participaram dela. Assim que os carniçais começaram seu ataque, brancos que estavam protestando sobre o transporte escolar juntaram-se a eles. Talvez os protestos terminassem em violência sem os carniçais; talvez não. De qualquer forma, as ordens do ancião iniciaram um caos que ele deveria ter previsto, mas não previu. A violência racial tomou conta de Boston por mais de um mês, antes que as coisas voltassem a se acalmar.
Este é apenas um exemplo. Estivemos realizando estes jogos há séculos _milênios se este livro contiver alguma verdade. Obviamente vocês, mortais, não são as únicas vítimas. Fazemos coisas ainda piores uns com os outros.
OS ANCIÕES

Os soldados da tirania (isso soa bem) são aqueles que chamamos de Anciões. Estes são os velhacos que pegaram seu pedaço da torta e agora estão decididos a impedir que qualquer outro consiga algo.
Por exemplo, um grupo de Membros mais antigos em Chicago irritou-se profundamente com um bando de Lambedores em Gary. Agora, você não consiguiria imaginar que os Lambedores de Indiana fossem capazes de ameaçar os grandes e poderosos lordes de Chicago, mas não foi como os anciões se sentiram. Ao invés disso, eles prejudicaram a cidade, acabaram com suas indústrias, aterrorizaram os seus habitantes, bloquearam seu comércio e fizeram tudo mais que pudessem pensar para transformar Gary num inferno na Terra. Eles continuam estes jogos até as noites de hoje. Eles se esforçaram muito para tornar a não-vida difícil para alguns vampiros menos importantes.
Obviamente, há outras teorias sobre a questão. Ouvi dizer que ambos os grupos são marionetes de vampiros mais poderosos (como aqueles que descreverei mais tarde) e que o conflito em Gary é apenas um espetáculo secundário se comparado aos conflitos principais. Minha teoria favorita é que um Matusalém esteja forçando os anciões de Chicago a preocuparem-se com Gary para que ele conclua seus negócios naquela cidade sem ser perturbado.
Isso parece ser algo comum na eterna Jyhad. Vampiros mais velhos manipulam os mais jovens para que eles oprimam vampiros ainda mais jovens. Deste modo, os vampiros realmente antigos não assumem qualquer culpa, e os jovens convencidos que normalmente competem pelo poder ficam ocupados lutando entre si.
Um Cainita antigo disse-me uma vez como estes jogos funcionavam na Roma antiga. Aparentemente, há muito tempo que aquela parte da Itália era o lar de vários Ventrue. Contudo, à medida que a cidade cresceu, mais Membros migraram para lá. Logo Malkavianos, Lasombra, Setitas, Nosferatu e outros seres estranhos ocuparam estes territórios limitados.
As coisas começaram a se complicar após a destruição de Cartago (o resultado de outro conflito insignificante entre os Brujah e os Ventrue). Nos primeiros dias de Roma, as facções vampíricas lutavam pelo controle de vários senadores. Quando um imperador tomou o poder (não me perguntem quem ou o quê foi responsável por isso), todo o jogo mudou. Uma figura detinha a maior parte do poder, e todos queriam um pouco do mesmo.
Após algumas centenas de anos, várias dúzias de vampiros, feiticeiros, demônios e outras criaturas estavam lutando pelo controle do imperador. Por exemplo, a vampira demoníaca Tiamat sempre tentava incitar quaisquer guerras e conflitos que pudesse. Um grupo de feiticeiros denominado Ordem de Mercúrio fingia ser os defensores do império, mas na realidade era manipulado por demônios tentando destruí-lo. Um Setita que atendia pelo nome de “Dahshur” gostava muito de amedrontar imperadores e os seus familiares.
Obviamente, também havia vampiros (especialmente Ventrue) tentando manter o império forte. O esforço deles, embora tivesse motivações particulares, pelo menos tinha o objetivo de manter o povo contente e seguro. No entanto, as suas ações tiveram o resultado acidental de tornar as coisas ainda mais confusas e caóticas. Nenhum imperador podia governar efetivamente enquanto era arrastado em tantas direções diferentes. Alguns se saíram bem, seja por grande força de vontade ou por um patrono poderoso, mas a maioria fracassou.
De acordo com o velho Cainita, as intrigas de Roma empalideceram quando comparadas àquelas da Pérsia antiga. Ele disse que quase mil vampiros migraram para o Império Persa durante o seu apogeu; era a maior concentração de vampiros que o mundo já vira. É claro que eles estavam espalhados ao longo da Ásia Menor, mas todos eles tinham poder quase que equivalente, e suas intrigas eram incomparáveis.
O velho Cainita não me forneceu nenhum dos nomes que mencionei aqui; estes são apenas aqueles que descobri, desde que ele me contou as situações. Estes três já não estão mais aqui. Outros, como o Toreador Caius Petronius, que tanto influenciou Nero, ainda podem estar por aí. O resto continua influenciando acontecimentos utilizando-se de diversos nomes, sejam eles conhecidos como Dimestico, Maggie Flury, McGrath, Tenga, Typee ou qualquer outra coisa.
A maioria dos anciões não é tão velha. Cainitas considerados anciões em Roma tornaram-se os Matusaléns de hoje em dia. Outros anciões não sobreviveram ao colapso do império, e a maioria dos sobreviventes encontrou seu fim durante a Idade Média, caindo frente à Inquisição ou ao Sabá. Os anciões da nossa época seguirão sem dúvida um padrão semelhante, e podemos torcer para que o que quer que os destrua faça-o em breve.
Os anciões são um grande aborrecimento, com seus egos desmedidos e a recusa insistente em admitir que sejam controlados por outros. Eles podem tomar as ações mais insensatas, não ter nenhuma razão para agir do modo que agiram e ainda assim insistir que agiram por vontade própria. Por exemplo, um Malkaviano poderoso costumava viajar pelo mundo, desafiando anciões para jogos de xadrez. Se ganhasse, realizava uma Diablerie com o Malkaviano. O Malkaviano invariavelmente ganhava. Por que os anciões continuavam jogando com ele? Porque seus mestres ordenavam que fizessem isso, tentando tornar suas peças mais poderosas.
Obviamente, ordens nem sempre são necessárias. Os anciões são calculistas e inescrupulosos, mas suas paixões freqüentemente os controlam com mais intensidade do que eles a qualquer neófito.
Incite um ódio intenso no íntimo de um ancião e ele fará tudo ao seu alcance para destruir o alvo deste ódio. Convença um ancião que ele ama outro, e nada poderá ficar entre ele e o objeto do seu desejo. Se um ancião agir insensatamente, pode-se quase sempre ter a certeza de que suas emoções, há muito reprimidas, dominaram-no.
Outras ações não podem ser explicadas com tanta facilidade. Quando um membro da primigênie que sempre apoiou o príncipe defende um concorrente ao trono, pode haver inúmeras razões para isso. Talvez seu mestre tenha alguma querela com o mestre do príncipe. Talvez seu mestre sempre tenha se oposto ao mestre do príncipe, mas o utilizou como um agente duplo, esperando o momento certo para surpreendê-lo. Talvez um mestre novo tenha tomado o controle sobre ele.
A resposta pode até mesmo ser mais diabólica. Talvez seu mestre também seja o mestre do príncipe, e ele espera forçar seus inimigos a revelarem-se ao dar-lhes a oportunidade. Talvez um mestre controle ambos, mas quer um príncipe mais capacitado. Talvez o mestre deles queira usar o príncipe em algum outro lugar, mas não quer que ninguém desconfie que o príncipe tem outras utilidades. Ah, sim, você quase tem pena dos anciões quando percebe o quanto eles são manipulados. Quase.

OS MATUSALÉNS

Se os anciões são os soldados alistados na Jyhad, então os Matusaléns são os tenentes. Estes caras são assustadores. Eles têm poderes com os quais eu só posso sonhar, e usam-nos sem hesitar. Até mesmo aqueles em torpor, e há vários, têm uma influência imensa sobre o mundo. Marikasha, um Toreado ativo pelo menos desde a Creta antiga, agora dorme sob uma montanha na Tanzânia.
A partir de lá ele usa um pequeno culto chamado de Laços de Sangue. Eles o adoram, pois ele possui poderes mentais incríveis e é capaz de manipular os outros de acordo com sua vontade. Se um de seus seguidores fizer contato visual com alguém de fora do seu culto, ele pode Dominar o estranho através do seu servo. Em seguida, ele pode dar ordens telepáticas à vítima e forçá-la a cumprir seus desejos. Seus interesses atravessam todo o globo, e ninguém sabe quando ele pode optar por assumir o controle.
Ainda assim, estas habilidades fabulosas são apenas parte da razão pela qual os Matusaléns são uma ameaça tão grande. Realmente, se seus poderes fossem a única razão para temê-los, nós não nos preocuparíamos. Ao contrário, o principal problema, e a principal razão pela qual eles são perigosos, é que uma quantidade grande demais dentre eles nega estar sendo manipulada.
Por exemplo, Brunhilde, uma Gangrel poderosa no Noroeste da Europa, enfrenta os Ventrue por todo o continente, culpando-os pela destruição ecológica que sua terra vem sofrendo. Ela não trabalha com os lobisomens, mas usa seu poder formidável mais ou menos da mesma maneira, destruindo fábricas e aqueles que poluem a terra. Por outro lado, ela nunca levantou um dedo para impedir as catástrofes ecológicas causadas pela antiga União Soviética ou a Rússia atual.
Na realidade, ouvi de fontes muito seguras que ela ajudou os velhos governantes Brujah a derrotarem Garous que tentaram impedir as violações ambientais. Além disso, quando Chernobyl explodiu, espalhando seus venenos ao longo da escandinávia, ela permaneceu visivelmente em silêncio. Outros Gangrel berraram e gritaram, ameaçando os Brujah, mas não ela.
Agora, tudo isso nos leva a duas conclusões. A primeira é que sua preocupação ecológica é apenas uma fachada, uma mentira, mas aqueles que a conhecem sentiram fervor em suas convicções. A segunda conclusão é que ela esteja sendo manipulada por forças da Rússia, uma idéia que sem dúvida ela negaria, mas que parece ser a única hipótese aceitável.
Brunhilde é apenas a ponta do iceberg e certamente não conta como um dos Matusaléns mais poderosos. Cada clã tem seus próprios boatos sobre vampiros antigos incrivelmente poderosos cujos poderes fariam seus cabelos se arrepiarem e cujas ações só poderiam ser compreendidas se estivessem sob o controle de outra pessoa.
Os Nosferatu sussuram sobre ancestrais monstruosos que habitam as mais profundas cavernas da Terra. Anciões Brujah temem os filhos do fundador do clã, que desprezam os Brujah atuais como a progênie de um traidor. Jovens Ventrue temem mestres que poderiam controlar todos os aspectos de sua existência.
Os Matusaléns merecem o medo que sentimos por eles. Eles são o centro das tramas dentro das tramas com as quais precisamos lidar. Meu primeiro encontro com um Matusalém foi particularmente instrutivo. Eu havia estabelecido meu lar no Peru e conhecido um grupo de anarquistas locais. Estes autodenominados defensores da liberdade gastavam a maior parte do seu tempo combatendo o Sabá e pareciam ter poucos conflitos com o príncipe da região (o príncipe a quem me refiro não é carmelita Marie Santo, Príncipe de Lima, mas o Membro que era o Príncipe de Arequipa naquela época).
Levei pouco tempo para perceber que o mesmo Cainita que vi estar manipulando o príncipe estava encontrando-se secretamente com alguns dos anarquistas uma vez por mês. Ahá! Eu pensei que este ancião apoiava a Camarilla em suas guerras contra o Sabá. Então percebi que o príncipe enviara diversos de seus carniçais para apoiar o Sendero Luminoso, um grupo terrorista com ligações claras com a Mão Negra. Isto normalmente significaria que aquele que controlava o príncipe se opunha aos inimigos do Sendero Luminoso: o governo, os militares e a igreja.
Investigando ainda mais fundo, descobri ligações de Giovanni com a igreja local e alguns dos líderes do governo, um Domínio Setita sobre a maior parte que restava do governo e o controle Ventrue dos militares e burocratas. No entanto, os Giovanni usaram sua influência para manter a Inquisição longe de Arequipa, os Setitas forneciam ao Sendero Luminoso uma boa parte do seu dinheiro e o príncipe era um Ventrue com ligações íntimas com outros Sangues Azuis.
Neste ponto, decidi que minha única esperança para descobrir o que estava realmente acontecendo era ficar de olho no ancião. Foi mais fácil falar do que fazer. A tarefa ficou mais fácil quando o conheci num conclave da Camarilla na Colômbia. O ancião, naquela época atendendo pelo nome de Nunêz, apresentou-se como um amigo antigo do Justicar que havia convocado o conclave. Ele falava com veemência sobre a repressão tanto aos anarquistas quanto ao Sabá.
Nunêz e o Justicar gastaram muito tempo em conferências secretas e, ao final do conclave, Nunêz estabeleceu-se como um grande defensor da Camarilla. Contudo, no ano seguinte eu investiguei suas ações através da América Central e do Sul, onde ele encontrava-se com Sabás, lobisomens, sacerdotes de vodu, executivos e seres ainda mais estranhos.
Durante essas viagens, eu comecei a perceber o quão poderoso Nunêz era. Numa única noite, ele apareceu, aparentemente sem esforço, em cidades diferentes a mais de mil quilômetros de distância uma da outra. Uma vez ele viajou para as profundezas da Amazônia, o coração do território Lupino, e retornou depois de muitas noites, ileso de sua jornada. Ao longo de suas viagens, seus peões em Arequipa e outros lugares continuavam a cumprir seus desejos como se ele estivesse lá para dar-lhes ordens.
Quando me vi obrigado a deixar Lima, eu perdi a pista de Nunêz por algum tempo. Na realidade, nossos caminhos não se cruzaram outra vez até o ano passado. Eu estava caçando uma Gárgula antiga ao longo das montanhas suíças e parei em Genebra para apresentar-me ao Príncipe Guillaume. Enquanto eu esperava próximo a uma janela para que um carniçal me anunciasse, percebi dois vampiros parados no pátio abaixo.
Concentrando-me, percebi repentinamente que um deles era Nunêz. Eu não conhecia o outro, um vampiro alto e magro com traços nobres. No entanto eu os ouvi atentamente. O que escutei arrepiou-me até aquilo que permanece da minha alma. Os dois estavam discutindo acontecimentos recentes na Rússia, e Nunêz ouvia enquanto o outro descrevia, em alemão, que soava ainda mais ameaçador pelo sotaque romano, a nova ameaça russa.
Enquanto este vampiro desconhecido passava as mãos no seu bigode, ele relatou uma história de destruição e devastação nunca antes vista na história da humanidade. Os Antediluvianos haviam acordado uma de suas maiores marionetes, e logo esta lançaria sua fúria contra o mundo. Ela já havia despertado alguns dos terrores mais poderosos da antigüidade e agora se preparava para soltar estes pesadelos sobre um mundo que não desconfiava de nada.
Então ele e Nunêz voltaram suas atenções para o filete de lua suspenso no céu e riram.

OS ANTEDILUVIANOS

Eu rezo para que os Antediluvianos sejam os generais de nossas guerras insignificantes, pois se houver alguém acima deles, eu não quero nem imaginar. Eu não duvido muito que vários Cainitas muito poderosos formem a base desta Jyhad que nos enlouquece. Não sei se existem 13 deles, se tiveram o mesmo senhor ou se sobreviveram a algum dilúvio antigo.
Embora eu tenha ouvido muitas histórias sobre o que estes seres costumam fazer, histórias sobre suas atividades desde a época do Império Romano são muito raras. Parece que muitos desses seres entraram em torpor ou encontraram a Morte Final durante este período (a primeira hipótese é mais provável). Os líderes dos clãs Tremere, Giovanni, Tzimisce e Lasombra são exceções óbvias.
Em cada um desses casos, dizem as lendas que durante a Idade Média vampiros ambiciosos realizaram Diablerie nos Antediluvianos que comandavam estes clãs. Eu sempre achei difícil acreditar nessas histórias. Afinal de contas, o Membro mais velho que conheço tinha poderes inacreditáveis. Se um vampiro de 4.000 anos tinha poder para demolir um prédio com um pensamento, que tipo de horrores um Antediluviano de 10.000 anos (ou mais) de uma geração ainda mais poderosa não poderia causar? Será que mesmo um exército de Matusaléns seria capaz de vencer tal criatura?
A paranóia começou outra vez. Os Antediluvianos forjaram suas próprias mortes? Há outros poderes que os destruíram e que depois jogaram a culpa em vampiros? Os Antediluvianos se deixaram matar voluntariamente? Caso tenham, por quê? Eles sabiam algo que nós não sabemos?
Mesmo assim, os Antediluvianos que foram extintos não me preocupam nem um pouco quanto aqueles que ainda existem. Deve haver uma razão para esta Jyhad. Seres tão poderosos não podem estar gerando uma devastação tão grande sem razão. O que poderia fazer com que seres tão antigos, poderosos e (supostamente) brilhantes travassem jogos aparentemente tão insignificantes?
A motivação mais óbvia é o poder. Entre os mortais, aqueles que têm mais poder freqüentemente parecem ser aqueles com a maior pretensão de acumular mais poder. O mesmo parece ser verdade para os Membros (com algumas exceções), então faria sentido se os Cainitas mais poderosos fossem aqueles com o maior desejo por mais poder.
É por isso que comandam suas forças, controlando vampiros poderosos com Laços de Sangue, Dominação, rituais e outros métodos. Eles fazem acordos com entidades (não vampíricas) poderosas e utilizam-nas para controlar outros. Então eles lançam estas forças poderosas para tomar aquilo que os outros Antediluvianos construíram. Pouco a pouco, eles se tornam mais poderosos. Um ancião Gangrel disse-me que eles estavam tentando tornar-se tão poderosos quanto deuses, e que os lobisomens temem o dia em que vampiros poderosos se tornem a encarnação do poder.
Há apenas um problema com esta teoria: em algum momento, um dos Antediluvianos se tornaria mais poderoso que os outros e os eliminaria. Isto não aconteceu em 10.000 anos (bem, talvez tenha acontecido, mas não seria possível saber) e não parece que irá ocorrer muito em breve. Talvez suas tramas levem ainda mais tempo para dar resultados, ou talvez os mais fracos unam-se contra o mais forte até que todos estejam equilibrados, mas em geral eu não acredito que o poder seja a sua motivação principal.
Os vampiros mais cínicos dizem que a Jyhad é culpa do tédio deles. Os Antediluvianos vivem há tanto tempo, passaram por tantas coisas e ficaram tão aborrecidos que apenas uma guerra constante lhes oferece uma motivação. A única coisa capaz de empolgar seus cérebros cansados é o conflito constante com seus semelhantes. Se isso for verdade, eles não querem que o jogo acabe, e a Jyhad continuará enquanto os Antediluvianos existirem.
Esta hipótese também tem seu ponto fraco. Certamente, mentes tão poderosas poderiam encontrar outra coisa que os empolgasse. Existem mistéios de todos os tipos neste mundo. O cérebro de um Antediluviano voltado para desvendar os mistérios da mágika, ciência, arte ou filosofia poderia permanecer ocupado durante séculos. Com certeza, isto seria mais gratificante do que as rodadas intermináveis de manipulação e trapaça.
Talvez haja objetivos maiores envolvidos. Pode ser uma questão do bem contra o mal. Por exemplo, uma associação de Antediluvianos, incluindo alguns famosos como Set, Tzimisce, Tremere e Assam (ouvi dizer que seu nome real pode ser Hashshan al-Safa ou Hashshan ibn Canan) podem estar lutando para transformar nossas existências num Inferno na Terra para seus propósitos nefastos. Apenas a oposição contínua de Brujah (dizem que seu nome é Troile), Gangrel, Toreador e Ravnos os deteve.
Neste cenário, os outros Antediluvianos tornam-se jogadores oscilantes, e o lado em que os outros cinco ficarem determinará o destino do mundo. Obviamente, eu não tenho nenhuma evidência de que algo assim esteja acontecendo e baseio esta hipótese na imaginação, não nos fatos. Mesmo assim, algo do gênero pode muito bem estar acontecendo. De tempos em tempos correm boatos de que alguns deles (sobretudo Set) lidavam com demônios.
Considerando a disparidade entre os clãs, é bem possível que cada Antediluviano se esforce para criar aquilo que em sua opinião é o melhor dos mundos possíveis. Ventrue, por exemplo, quer criar um mundo onde tudo esteja na mais perfeita ordem, enquanto Toreador deseja um mundo de visão artística e beleza. Eles encaram os outros como obstáculos às suas metas e enviam seus seguidores para destruir esses obstáculos.
Mais uma vez, eu não disponho de nenhuma evidência direta na qual apoiar esta idéia, mas esta visão bem poderia motivar alguns dos Antediluvianos. Se aceitarmos esta hipótese, também precisamos acreditar que eles têm nossos interesses em mente, embora de uma forma distorcida. Eles nos usam como “peões” para o nosso próprio bem.
Por outro lado, talvez todos eles pensem que estão seguindo as ordens de Caim (ou Deus, Odin, Gaia ou qualquer outra coisa). Estaríamos lidando com o equivalente a 13 malucos religiosos diferentes, cada um crente de que é o único que sabe o que Caim realmente quer. Contudo, estes loucos religiosos têm o poder para defender suas exigências, e podemos estar lidando com uma verdadeira Jyhad religiosa.
Uma última conjuntura sobre porque os Antediluvianos realizam estes jogos é a questão básica da sobrevivência. O único ser com poder suficiente para ameaçar um Antediluviano é outro Antediluviano. Portanto, nenhum deles pode sentir-se a salvo até que os outros 12 tenham sido distruídos. Eles não podem confiar uns nos outros o suficiente para deixarem de lutar, e portanto a guerra continua. O único momento em que trabalham juntos é quando outro Antediluviano torna-se poderoso demais e eles precisam combinar forças para derrubá-lo.
Isto certamente explica eventos como o saque de Cartago, quando outros clãs uniram-se aos Ventrue para combater os Brujah, ou a Primeira Guerra Mundial, quando diversos clãs uniram-se contra os Tremere e Ventrue. Também implicaria que as coisas ficariam piores, pois se os Antediluvianos causaram toda esta carnificina com as armas limitadas a que tinham acesso até agora, pense no que eles podem ser capazes de fazer nos próximos séculos.
Obviamente, não há evidências definitivas de que existam 13 Antediluvianos. Pode haver mais; pode haver menos. Um Malkaviano chamado Dionysian disse a um grupo de Membros que apenas um ser estava por trás da Jyhad. Embora mais tarde alguém me tenha dito que Dionysian estava falando metaforicamente, de que o ser ao qual ele se referia na verdade era individualmente cada vampiro, isto é igualmente interessante quando considerado como um fato.
E se tudo isto fosse o trabalho de um Antediluviano poderoso atuando de maneiras que sequer podemos pensar em compreender? E se ele manipulou todos os que foram manipulados para suas próprias tramas nefastas? Você está preparado para o resultado que isso poderia acarretar?

CAIM

Com uma certa regularidade, surgem rumores envolvendo Caim. Qualquer um que os leve a sério é um idiota ou um Malkaviano. Se Caim realmente voltasse, poderíamos simplesmente fechar nossos caixões e apagar as luzes, pois este seria o fim do jogo. Mesmo assim, vampiros diferentes têm suas próprias razões para chamar Caim.
Por exemplo, quando alguns Nosferatu sul-africanos quiseram forçar a Camarilla a derrubar um príncipe opressor, eles forjaram um aparecimento de Caim. Usando sua Ofuscação e auxiliados por uma Toreador e sua Presença, eles realmente mexeram com os Membros locais, assim como vários mortais. Obviamente, isto atraiu a atenção de um Justicar.
O Justicar e seus Arcontes correram até Johannesburg, interrogaram todos e descobriram diversos Cainitas que ninguém sequer sabia que estavam na cidade. Por um lado, o Justicar forçou o príncipe a renunciar. Ele também destruiu os neófitos que começaram toda esta história, assim como vários outros Membros. Uma ameaça à Mascara foi a razão oficial. A irritação do Justicar provavelmente foi a razão real.
Certa vez um Nodista do Sabá deu-me uma opinião interessante a respeito das histórias sobre Caim. Ele observou que o denominador comum entre quase todas as aparições de Caim era o chamado falso de Caim em busca de seguidores. Raramente um vampiro diz: “eu vi Caim e ele só quer ser deixado em paz”. Um acontecimento mais indicativo ocorreu em Madagascar, quando uma figura poderosa e brilhante surgiu próximo à capital. Ele afirmava que era Caim, chamou seguidores e então desapareceu com quase um terço da população vampírica da ilha. Ninguém ofereceu uma explicação sobre como ou por que isso aconteceu.
O Nodista afirma que estas histórias remetem às circunstâncias particulares ao nosso Abraço. Ele afirma que o acontecimento em si difere um pouco em relação aos nossos nascimentos originais como mortais, mas enquanto um bebê tem dois pais, um filhote terá sorte se tiver um único senhor que o apresente ao novo mundo.
Com isso, Caim se torna uma figura de pai mítico, capaz de consertar todos os problemas e acabar com a tragédia de nossa existência. Esperar por Caim é desejar uma libertação das preocupações e responsabilidades, esperando-se um mundo dourado de infância.
O Nodista disse que esta era uma das diversas explicações para Caim. Uma mais herege vê Caim como a projeção criada por vampiros que desejam a perfeição. De acordo com esta teoria, vemo-nos como imperfeitos, e ao contemplar nossos próprios seres interiores, imaginamos uma imagem de perfeição. Como nós não estamos isentos de falhas, projetamos isto exteriormente, e esta projeção torna-se Caim. A partir deste raciocínio, até mesmo o primeiro vampiro (Caim, se assim você desejar) tinha os mesmos sentimentos de imperfeição que temos e imaginava seu próprio “Caim”.





CUIDADO, IRMÃO, CUIDADO

Então quem sou eu, e porque estou passando adiante todas estas informações? Bem, como meu próprio senhor, Sennacherib, sempre dizia, “você precisa balançá-los antes de derrubá-los”. Estou cansado desses jogos antigos. Mesmo sabendo aquilo que sei, preferiria vê-los terminar.
Veja bem, eu sei muito mais sobre a Jyhad do que a maioria dos vampiros com a minha idade. Minha experiência sobre isso antecede o século durante o qual fui vampiro, ou os trinta anos durante os quais estive vivo antes disso. Eu sou um dos Jocastatianos, e como irmão de Aristotle deLaurent, eu sei que o conhecimento está no centro de nossas não-vidas. Contudo, enquanto Aristotle busca o conhecimento sobre os seus ancestrais, nós devoramos as lembranças dos nossos.
Dentro de mim vive Sennacherib, seu senhor Ismene e outros. Olhos que não são os meus testemunharam a Jyhad sob suas diversas formas, e agora estas imagens preservam-se através de mim. Eu mantenho comigo para sempre todos aqueles que destruo, após beber o “sangue de seus corações”. Seu poder torna-se o meu, e cada alma que tomo acrescenta-se ao meu próprio poder.
Isso também se soma à minha confusão. Cada vez que faço isso, descubro coisas que nunca esperava e vejo acontecimentos sob novas perspectivas. O velho adágio de que há dois lados para cada questão não é verdadeiro. Há tantos lados para uma questão quanto há pessoas envolvidas na mesma e mais alguns. Eu já vi a Jyhad do modo pelo qual foi experienciada por anciões e anarquistas, Sabás e Arcontes, peões independentes e voluntários.
A única conclusão a que cheguei com tudo isso é que a guerra está errada. Eu não vi nada que possa justificar os horrores que causamos, e preciso dizer que todo vampiro, seja da Camarilla, Sabá, Inconnu ou qualquer outra coisa, é culpado. Fazemos pouco ou nada para acabar com esta palhaçada, e ela continua década após década.
Portanto deixamos estes documentos à disposição de todos. Eu não tenho controle sobre a sua crença ou não neste livro, mas ele abrirá seus olhos. Tanto Membros, quanto mortais, precisam saber o que está acontecendo. Mortais e imortais precisam saber de que modo horrível as ações de alguns poucos seres poderosos corrompem o mundo. Finalmente, estes manipuladores antigos precisam descobrir o que é o medo, pois seus jogos não podem continuar para sempre.
A pergunta que você precisa fazer é o quanto você pode confiar em mim. Afinal de contas, facções diferentes na Jyhad dominaram as artes do engodo e da desinformação. Por tudo aquilo que você sabe, eu poderia ser um ancião fornecendo-lhe exatamente a história que desejo que você ouça para que não vá em busca da verdadeira.
Agora que plantei a semente da dúvida em sua mente, eu poderia ser um membro da Mão Negra tentando incitar a discórdia entre Membros jovens e velhos da Camarilla. Eu planejei todas as coisas negativas que escrevi sobre a seita para dar mais credibilidade às minhas palavras e encobrir meu próprio envolvimento.
Ao colocá-lo contra a Camarilla e o Sabá, eu me revelei como um Giovanni pretendendo aumentar a tensão entre os dois grupos para que meu clã obtenha mais poder. Portanto, à medida que você duvida da maioria dos poderes vampíricos, você pode perceber que na verdade eu sou um Setita dedicado a fazer com que os vampiros ataquem uns aos outros.
Na verdade, eu sequer sou um vampiro. Sou um caçador, e ao criar toda esta desconfiança, asseguro-me que os vampiros vão continuar destruindo uns aos outros e tornar meu trabalho mais fácil. Ao colocar todas estas dúvidas na sua cabeça, agora posso dizer que na realidade sou um ancião, e escrevi estes últimos quatro parágrafos para certificar-me de que você não acredite nesta afirmação.
No que você irá acreditar?
Em celebração,

Ayisha Jocastatian































GLOSSÁRIO

A Besta:
Os impulsos odiosos que levam um vampiro a tornar-se um monstro. O impulso ao Frenesi.

Abraço:
Uma mordida. O processo para tornar um humano num vampiro.

Anarquista:
Membro rebelde que rejeita a autoridade dos anciões.

Ancião:
Vampiro antigo, com mais de 300 anos. Observe que alguns anarquistas da Revolta Anarquista original agora são anciões.

Antediluviano:
Um dos treze Membros da Terceira Geração; Netos de Caim. Cada um fundou um Clã.

Arcontes:
Guerreiros poderosos da Camarilla encarregados de impor a Máscara e as Tradições.

Caim:
O primeiro filho de Adão e Eva. Acredita-se que seja o primeiro vampiro.

Cainita:
Um vampiro, normalmente muito antigo.

Caitiff:
Membro Sem Clã; desgarrado.

Camarilla:
Um Conclave global de sete Clãs e Membros livres. Criada para impôr a Máscara.

Clã:
Um grupo de vampiros que descendem de um Antediluviano em particular.

Frenesi:
O estado de desejo descontrolado por sangue. A Besta libertada.

Gehenna:
O Armagedom dos Membros, quando os Antediluvianos irão despertar para consumir seus jovens.

Golconda:
A salvação vampírica, em que o vampiro é liberto do desejo por sangue e das necessidades da Besta.

Inquisição:
A guerra que os humanos travaram contra os vampiros nos séculos XIII, XIV e XV.

Justicares:
Representantes da Camarilla encarregados de fazer cumprir as leis.

Jyhad:
Os jogos que os Antediluvianos realizam.A Jyhad exprime-se através da Guerra Anarquista, a opressão dos neófitos pelos anciões e a Guerra do Sabá contra a Camarilla.

Laço de Sangue (Juramento de Sangue):
Um ritual místico para um Membro dominar a vontade de outro.

Máscara:
O esforço para ocultar os Membros do mundo dos mortais.

Membros:
Vampiros.

Neófito (Criança da Noite, Filho, Filhote):
Vampiro jovem, Abraçado recentemente.

Príncipe:
O governante vampírico de uma cidade.

Rebanho:
Os mortais.

Sabá:
Organização global de dois Clãs e Membros livres que surgiu a partir da Rebelião Anarquista.

Senhor:
Pai e criador de um vampiro. Usado tanto para homens, quanto para mulheres.

Um comentário:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.